Durante os anos dourados onde os Cavaleiros do Zodíaco eram um sucesso total, alguns empresários brasileiros foram até a terrinha do Sol Nascente em busca de um novo anime que pudesse render alguns “trocadinhos” e assim faturar um pouquinho as custas dos japas. Foi assim que chegaram por aqui Shurato, Samurai Shadown, Samurai Troopers, Sailor Moon, Dragon Quest  e tantos outros. Mas hoje, vou falar sobre um dos melhores da safra. Estou falando de Magic Knight Rayearth (Guerreiras Mágicas de Rayearth).

Este foi o primeiro trabalho do grupo CLAMP a ser exibido no Brasil. A série chegou aqui graças ao tremendo sucesso do mangá publicado na Nakayoshi (a mesma revista que publicou Sailor Moon, outro grande sucesso) e rendeu 48 episódios, um OVA e 3 partes de uma compilação que recebeu o nome de Wings Of Hope.

O mangá recebeu 6 volumes em tankobons e foi publicado no Brasil pela editora JBC em dois momentos.

Misturando elementos mágicos, fantasia, RPG e até mesmo mechas (os famosos robôs gigantes) a série é sem a menor sombra de dúvidas um dos melhores animes que já deram as caras por aqui.

No entanto, seria crueldade de minha parte afirmar que este foi o melhor anime das meninas do CLAMP que apareceram não é mesmo? Afinal tivemos X – 1999, Tsubasa Reservoir Chronicle, Sakura Card Captors, Tokyo Babylon… e como o anime, quando passou no SBT, trocava mais de horário do que modelos trocam de roupas em um desfile, hoje vou apresentar um pouco mais sobre esta preciosidade que recomendo muito que você assista se ainda não o fez.

Hikaru, Umi e Fuu (que no Brasil receberam outros nomes, Lucy, Marine e Anne) são três estudantes que nunca haviam se conhecido antes na vida, que durante uma excursão escolar à Torre de Tóquio , são transportadas por uma luz muito forte para o mundo de Zephir.

Elas são recepcionadas pelo mago Guru Clef, que tem a aparência muito jovem, mas na verdade tem 745 anos! Elas descobrem que foram chamadas àquele lugar pela Princesa Esmeralda, que está presa nas mãos do feiticeiro Zagard. Por conta disso, a hegemonia de Zephir se foi e o mundo começou a desmoronar literalmente falando. As meninas são a única esperança, precisando se transformar nas Guerreiras Mágicas de uma tal lenda e assim despertar os chamados Mashins (que são gênios na versão brasileira) e com a ajuda deles libertar a princesa do seu cárcere.

Elas ganham luvas encantadas de Clef e cada uma das garotas passam a controlar um elemento da natureza: Lucy – Guerreira do Fogo, Marine – Guerreira da água e Anne  guerreira dos ventos.

Durante sua jornada aos Mashins (robôs gigantes movidos à magia que são geradas pela força do coração) as garotas são guiadas por Mokona, um esquisito bicho que fala "pupupu” e parece uma cruza de coelho com uma bolsa na barriga do Doraemon, rsrsrsrs, e recebem ainda a ajuda de muitas pessoas como Priscila (forjadora das espadas que as garotas usam) e do errante guerreiro chamado Fério (que claramente se apaixona pela Anne).

Derrotando um a um os enviados de Zagard, quando as meninas despertam o último dos Mashins, elas se tornam as Guerreiras Mágicas que agora são capazes de salvarem a princesa.

O destino no entanto é cruel para as nossas garotas e elas acabam por descobrir que na verdade sua missão não é resgatar a princesa, mas sim eliminá-la, pois ela é o pilar daquele mundo e precisa ser substituída por outra pessoa que possa orar pela Paz do Mundo mágico sem desviar suas atenções para si mesma ou para o sentimento chamado AMOR.

As garotas acabam por perceber que Zagard na verdade não era o “vilão” da história, mas sim era apenas mais um cara apaixonado que queria poupar a sua amada do trágico destino… e isto sim foi um final surpreendente para o 1º ano do anime.

Apesar de seguir a base original do mangá, essa fase apresenta pequenas diferenças em relação a obra original. Algumas delas foram feitas com certeza com o intuito de alongar um pouco mais o anime. No mangá as coisas acontecem um pouco rápido demais, aparentemente tudo acontece em um dia, sendo que no anime as Guerreiras chegam a dormir algumas vezes para se prepararem para a batalha seguinte.

Agora vou dar um SPOILER, se você ainda não assistiu ao anime pule para o próximo parágrafo. A diferença mais evidente da mudança está na morte de Priscila, que no mangá ela apenas fica enfraquecida, além da existência do servo Inov que é um personagem exclusivo do anime.

 

Rayearth II

É a partir do 2º ano, mais precisamente entre os episódios 21 a 49, a série se distancia e muito do mangá em relação ao roteiro. Apesar de manter a mesma essência, a forma como tudo vai acontecendo são bem diferentes.

Zephir está em ruínas, uma vez que não existe mais um pilar onde se pode orar pela paz e estabilidade do mundo. Os invasores dos planetas vizinhos (lembrando que Zephir é um planeta regido pela magia) querem assumir o posto para poderem controlar o poder de Zephir afim de realizarem todos os seus desejos…

Lucy e os demais estão muito tristes pelos últimos acontecimentos e em uma visita ocasional à Torre, elas são novamente transportadas para Zephir. Diante da situação elas se dispõem a lutar para proteger seus amigos enquanto o novo núcleo não aparece. Paralelo a isso tudo, aparece uma assombração com o nome de Debonair, criada a partir do medo e da insegurança presente nos habitantes do mundo mágico.

Até mesmo Lucy cria uma assombração que se chama Nova, que tem o seu próprio Mashin – bem duro na queda por sinal. Essas duas personagens não existem no mangá.

A partir daqui a aventura passa a dar espaço para lutas entre mechas no melhor estilo Gundam e no final descobrimos que Lucy e Visão de Águia (um dos inimigos, oriundo do planeta Autozan) são os novos pilares, mas enquanto na tevê o rapaz morre pelas mãos de Debonair, no mangá ele trava uma batalha sobre os céus de Tóquio com Lucy!

E Mokona (o rival nato do Pikachu no quesito “fofura”) se revela nada menos do que o criador do universo – isso no mangá. Já na TV, o Rayearth Definitivo que é a junção dos 3 mashins das garotas, luta contra um monstro criado a partir da junção de Debonair com Regalha, o mashin de Nova. Ambos finais são muito bons e merecem ser lido e visto.

 

UM POUCO SOBRE OS OVAs

Dois depois do fim do anime na TV, as Guerreiras Mágicas voltariam ao acetado através de uma série de OVAs dividida em três partes. Apesar de também ter sido produzida pelo TMS, a produção é bem diferente. E começa logo pelo visual. Ficou bem mais bonito e detalhado e um pouco mais escuro também se comparado ao da série da TV.

No entanto, as diferenças não param por aí, elas vão ainda mais longe. Como a história do mangá já havia sido abordada por completo na telinha, era de se imaginar que a história seria paralela. No entanto, o roteiro de Manabu Nakamura pegou os personagens principais e jogou num contexto totalmente alterado.

Nos OVAS, que são chamados simplesmente de “Rayearth”, as garotas já eram amigas há muito tempo, da época de escola. E elas não vão parar em Zephir. O que acontece é que Zephir vem de encontro a elas! Visão de águia se torna irmão de Esmeralda, perdendo a ligação com Autozan que tinha na série original, enquanto Ferio perde o posto e fica somente como feiticeiro aliado. E os Mashins também são diferentes e cada “vilão” tem o seu, como Ascot e Alcyon, que também dão as caras aqui.

A história se desenvolve de forma um tanto confusa, mas basicamente, Zephir se vê em ruínas em uma crise dos espíritos protetores. Nesse panorama, Zagard (que continua apaixonado por Esmeralda, como no mangá) se sacrifica para tentar equilibrar o meio. Tudo isso na verdade não passa de um plano muito bem arquitetado por Visão de Águia, que tenta convencer sua irmã de que o amado ainda está vivo, enquanto funde Zephir com a Terra para que os feiticeiros da terra mágica possam continuar existindo. Bom, pra mim isso não faz sentido algum. =].

 

NO BRASIL…

A série foi muito mal exibida pelo SBT que chegou mesmo a transmiti-la as 06h30 da manhã de sábado. Por isso, o anime ficou muito pouco popular na época e os produtos da série encalharam nas prateleiras, dando um baita prejuízo para as empresas que pagaram por licenças da marca. Entre as inúmeras quinquilharias da série, tínhamos peças de cama, mesa e banho, cards de luxo, produtos para aniversário e armaduras de plástico igualzinhas as da TV. Isso sem contar com as bonecas Guerreiras.

A dublagem ficou por conta da Gota Mágica, que não fez um trabalho dos piores não. Embora, os personagens tiveram nomes alterados por aqui, baseados na versão americana da série. Os golpes e diversos dos temas do anime também foram alterados, mas pelo menos deixaram o roteiro em paz (diferente do que fizeram com Samurai Troopers). As animesongs da série não foram adaptadas do original, mas criadas do zero visando CDzin pra molecadinha pequena (sendo a primeira abertura cantada pela Larissa Tassi).

O responsável pela criação das músicas foi Mário Lúcio de Freitas, que criou também o arranjo de todas as músicas dos animes que foram dublados na Gota Mágica. O objetivo foi alcançado e a Sony lançou um CD com um encartezinho lindo, mas que não vendeu nada do que imaginavam que fosse ser vendido. E o pior de tudo é que, pra divulgar o CD, inventaram de por 3 mulheres vestidas como as Guerreiras Mágicas dublando as músicas.

E adivinha só em qual programa que elas se apresentaram? HiHiHiHi… o mais bizarro é que elas entravam mudas e saíam caladas.

Eu até procurei pelo vídeo mas confesso que não achei nada. Se vocês tiverem ou souberem onde posso ver esta pérola, eu gostaria. Deixem ai nos comentários.

Três fitas VHS foram lançadas pela pela Cartoon Home Vídeo (um selo da Flashstar), e também pela Publifolia. Cada fita continha 5 episódios da série como se fossem um “movie” e obviamente que podaram muitas coisas pra render pouco menos de 2 horas na fita. E aqui um conselho, se por acaso você as encontrar por aí, compre-as porque são itens raros de colecionador.

O anime só veio a ser exibido (de forma digamos descente) no começo de 1997, quando foi ao ar de segunda a sexta às oito da manhã no programa da Eliana. Foram exibidos ao todo 49 episódios e rolaram inclusive reprises. Saudade destes tempos…

Em 2001 pessoal, finalmente o mangá deu as caras por aqui. O lançamento foi pela JBC que o publicou na integra, sendo o primeiro título finalizado pela editora que ainda engatinhava, rsrsrs. Apesar de algumas mancadas na tradução e das capas realmente feias da 2ª fase, é um mangá que realmente eu recomendo ler e ter.

Entre o final de 2013 e início de 2014, a editora republicou os quadrinhos seguindo o formato japonês (diferentes do anterior), com direito a páginas coloridas, historinhas extras e orelhas. A edição ficou caprichada abandonou os nomes adaptados da dublagem, seguindo uma tendência do mercado.

Guerreiras Mágicas de Rayearth é um verdadeiro clássico perdido na memória da maioria dos otakus brasileiros que sempre associam o grupo de autoras à Sakura ou X. Mas antes da caçadora de cartas ou dos paranormais do holocausto, três simpáticas garotas de olhos arregalados viveram aventuras na grade de programação do SBT, mas acabaram por se perder no tempo…uma pena realmente. Mas aqui, eu relembrei você deste clássico que merece ser revisto ou visto se você ainda não o conhece. Até nosso próximo encontro aqui no Tsukasa Space, porque aqui os Clássicos nunca são esquecidos.

 

NOTA DO EDITOR…

Se quiser conferir mais um pouco de Guerreiras Mágicas de Rayearth aqui na Rádio J-Hero dá uma lida na matéria do redator Saylon Kaguya.