Olá! hoje eu trago para vocês algo superlegal! Tive o prazer de entrevistar a Lia Mello, uma maravilhosa dubladora que empresta sua voz para muitos personagens incríveis como a Kiriko de Overwatch 2, a Qiyana de League of Legends, Kate Bishop na série Gavião Arqueiro do MCU/Disney+, Gina Porter em High School Musical, Enid em The Walking Dead e o Droide K-2SO no game Star Wars: Jedi Fallen Order, além de muitos outros! Nesta conversa vamos descobrir um pouco mais sobre a Lia, suas inspirações e projetos, e ela começa se apresentando:

E aí, gente, tudo bom? Aqui é a Lia Mello! Eu sou realmente dubladora e eu também trabalho como produtora de dublagem de estúdios — então, assim, pode-se dizer que eu tenho dois empregos —, e diretora também de localização de games, então “tamo aí, tamo aí na atividade”!

Entrevista

DJ Vicky: Como você entrou no mundo da dublagem? Como foi que você sentiu esse desejo, se já era uma coisa que você queria desde sempre, ou não?

Lia Mello: Então, eu na verdade tive um contato através de meu primo, meu primo mais novo. Ele, tipo, gostava muito de Chaves, é um vício dele, acho que até hoje. Aí acho que foi ele quem virou para mim e disse: “ah porque isso aqui é dublado, na verdade eles são mexicanos, eles falam espanhol, e daí tem alguém que dubla em português”, e aí eu fiquei tipo: “Ah tá! Legal!”. E aí depois disso a gente foi fazendo fandubs na casa dele, ele colocava umas cenas de Chaves e a gente ficava lá dublando Chaves. Mas não era realmente tipo dublar igual, tipo certinho, a gente inventava fala, fazia paródia, piada, ficava brincando realmente assim de fazer piada em cima das cenas e, meu, ficava muito engraçado. Ah, era genial, assim, até tinha no YouTube, mas não sei se chegou a apagar, se ele ainda tem esse canal.

Mas, depois disso, a gente ficou meio que sonhando, assim: “ah, poxa, um dia a gente vai ser dublador, um dia a gente vai dublar!” e tatatá. Mas isso foi mais um sonho dele, e eu fui fazer Publicidade, né? Eu sempre quis ser atriz na verdade, então não necessariamente trabalhar com dublagem, eu sempre quis ser atriz, então uma certeza que eu tinha na vida é que eu ia pra São Paulo — eu morava em [Presidente] Prudente, uma cidade do interior — e uma certeza que eu tinha na vida é que eu ia tirar meu DRT em São Paulo e eu ia morar em São Paulo e eu ia atuar. Então, dito e feito, eu acabei a escola, vim para São Paulo fazer faculdade, mas na época eu acabei fazendo Publicidade. Foi um tempo em que eu estava um pouco sem saber o que fazer da vida… minha mãe queria muito que eu fizesse, entre aspas, uma “faculdade de verdade”, e nisso eu acabei fazendo publicidade. Não recomendo, não era realmente o que eu queria fazer.

Eu cheguei a trabalhar com Publicidade um tempo, mas coincidentemente, perto do meu trabalho, tinha um estúdio, que é a TV Group, e de vez em quando — eu cheguei a mandar um material para uma diretora da casa na época — e de vez em quando eu fazia uns estágios lá. Então eu saía do trabalho e ia pro estúdio para estagiar, e aí foi meio que indo nessa direção! Tipo, de vez em quando surgia umas pontinhas para fazer, aí às vezes eu ficava só olhando, e até que teve um dia que eu virei para minha chefe e falei: “não quero mais”, pedi as contas. E nessa época também a Alessandra Araújo, que foi minha madrinha na dublagem, ela estava tendo problemas com um texto maltraduzido e tal, e aí eu ofereci meu serviço como tradutora. Eu nunca tinha traduzido na vida, e aí ela falou assim: “Ah, mas você traduz mesmo?” Falei: “Traduzo 😆”! Mas assim, não é por nada, eu já tinha terminado minha escola de inglês, eu fiz nove anos de inglês, então tipo, eu tinha a base e eu tinha tudo para traduzir bem, eu só não tinha experiência na área. Mas acho que é assim, né?, a gente dá a cara a tapa e aí foi dando certo. E hoje em dia, graças a Deus, estou aí trabalhando com as duas coisas que eu mais amo nessa vida, e tradução também era uma coisa que eu queria muito fazer. Inclusive, Letras foi a minha primeira opção de faculdade quando era criança; eu gostava muito, então, cara, a vida foi se encaminhando pro lado certo, diria.

DJ Vicky: Eu queria que você falasse desse seu último trabalho. Como foi? Como tá sendo a receptividade?

Lia Mello: Ai, cara, nossa, eu não sei nem por onde começar! A Kiriko foi um presente gigantesco na minha vida! Tipo, eu sempre amei muito a cultura oriental, eu sempre fui muito otakinha e, assim, acabei deixando isso um pouco de lado. Tipo, depois que eu saí da faculdade comecei a trabalhar, já não tinha mais tempo para gastar tanto com anime, com jogos etc., mas, tipo, sempre tive muita vontade, por exemplo, de dar continuidades aos meus estudos no japonês, eu cheguei a estudar japonês por um tempo.

E aí recentemente eu estava… eu inclusive, tipo, no começo do ano, eu voltei a estudar japonês, né? Então desde o começo de 2022 eu tenho feito aula particular de japonês e tal, então eu já estava ingressando de novo nessa busca de me reencontrar com esse lado Lia que eu sinto um pouco de saudade, de quando eu tinha menos preocupações nessa vida. E aí, cara, foi incrível! Assim, eu recebi a oportunidade de fazer o teste da Kiriko. Foi meio que em cima hora, assim, tipo, recebi uma mensagem falando: “Consegue me mandar um áudio agora? Tipo, agora!” E eu falei: “Consigo!” E aí eu entrei na cabine, só gravei rapidão ali o teste, enviei e, no fim das contas, demorou um pouquinho, eu não sabia do que era. E aí eu recebi a mensagem depois falando, tipo: “Você acabou de passar no teste para Overwatch!” Eu fiquei, tipo, “QUÊ?!” Caraca, eu sei que isso é grande! Tipo, eu nunca tinha jogado Overwatch, eu já tinha visto Overwatch, já tinha visto algumas coisas, tenho amigos que jogam muito. Mas depois Overwatch acabou também, tipo… eu não ouvi mais falar, e aí agora ele estava voltando com tudo, né?, com essa onda do Overwatch 2. Aí me falaram, tipo: “É a nova heroína do Overwatch 2” e não sei o quê. Eu fiquei, tipo: “Meu Deus do céu, que da hora!” E aí foi incrível, tipo, já receber essa notícia, né? E fazia muito tempo que eu tinha gravado o trailer inicial dela, né?, aquele trailer dela pequenininha, né?, e é mais um slideshow, assim…

Enfim, tipo, foi tipo uma surpresa quando chegaram as frases in game dela mesmo, onde ela falava japonês. E aí eu perguntei pro diretor, né?, na hora eu falei: “A gente vai gravar as falas em japonês?” Aí ele falou: “Ah, não, as falas em japonês vão ficar no original.” Aí eu pensei comigo: Mas que desperdício! Vamos gravar! Eu, tipo assim, eu já estava fazendo japonês mesmo, já estava fazendo aula de japonês mesmo, sabe? Tipo, então ele falou assim, “é que tem outros heróis também japoneses, tipo o Hanzo” e tem mais um que eu não lembro o nome agora, e eles, os dubladores não fizeram, né? Aí eu falei “Ah, mas, vamos fazer, se eles quiserem usar, eles usam; se eles não quiserem usar, eles não usam, pelo menos tem”. Aí eles falaram: “Ah, tá bom! Vamos lá, se você quiser!” E não tinha nada de texto em japonês, então eu tive que ouvir, entender e fazer. Então foi muito interessante essa jornada aí, de construção da Kiriko brasileira.

DJ Vicky: Qual a diferença entre dublar e localizar?

Lia Mello: É, acho que a principal diferença entre os dois é que a dublagem, você tem uma imagem de referência, então você tem um filme, você tem um desenho que já foi previamente feito, praticamente finalizado, muita coisa chega não finalizada para a gente, mas temos uma imagem básica, a gente tem um boca para seguir. Então a gente não necessariamente precisa fazer em cima do áudio, né? A gente faz em cima mais do vídeo, porque as vezes o áudio e o vídeo também… por exemplo, se é um anime, anime é uma coisa que a dublagem às vezes até melhora do original, porque se você prestar bem atenção no japonês, tem muitos animes que estão bem syncados, né?, tem a sincronia labial boa com a voz. Mas alguns, você vê que a boca bate, às vezes a voz já acabou ou às vezes, tipo, a boca parou e ainda tem voz, então, tipo, o trabalho de dublagem é você correr atrás dessa boca, né?, para não parecer que tá mal dublado. A gente vê às vezes assim umas dublagens que a gente fala “ihhhhh”, né? Mas a essência da dublagem é você correr atrás da boca, dando a interpretação, dando, né?, todo esse lance, mas assim, tem que parecer que tá saindo da boca da personagem.

A localização é um pouquinho diferente, porque quando a gente faz um game, a gente não tem uma imagem para se basear. Inclusive, no trailer da Kiriko, o curta-metragem, a gente fez um esquema de localização também, não foi dublagem. Então algumas coisas eu até faria diferente se fosse dublagem, mas como a gente tinha o áudio para se basear apenas, a gente tinha a wave, né, que a gente fala, tipo… o pessoal que não tá familiarizado com wave, quando a gente grava em algum gravador de áudio, né?, tem aquelas ondas de voz, né?, a gente grava e fica aquela ondinha que representa nossa voz no programa, aquilo a gente chama de wave. E quando a gente tá localizando um game, a gente só tem isso do original, então o diretor toca pra gente o que a pessoa falou, até porque tipo, in game às vezes você tá vendo a nuca do personagem, você não tem nenhuma boca para percorrer, né?, para seguir. Então você tá olhando a nuca do personagem, a única coisa que vem são vários arquivos de áudio, então um arquivo de áudio, outro arquivo de áudio, três arquivos de áudio e assim vai. Então é isso que a gente recebe, então basicamente o trabalho de localização é a gente botar a nossa wave em cima da wave do inglês. Então essa é basicamente a diferença entre dublagem e localização.

DJ Vicky: Perfeito, parece muito complicado!

Lia Mello: É! Localizar, né?, todo mundo fala que é mais difícil do que dublar, e eu concordo, localizar é mais difícil do que dublar, porque, tipo, se você não tiver um ouvido bom, e o diretor não tiver um ouvido bom e técnico de áudio não tiver um ouvido bom, sabe?, tipo, a gente tem três pessoas trabalhando no estúdio, mas pelo menos uma pessoa lá dentro tem que ter o ouvido muito bom. Normalmente é o técnico e o diretor, pois eles são os que entendem melhor do assunto ali em questão. O dublador, ele chega sem saber o que ele tá fazendo naquele dia, né? Para quem não sabe muito bem como funciona a rotina de um estúdio, né?, o dublador, ele tem várias escalas no decorrer do dia, então de manhã ele vai dublar em um estúdio, aí ele vai fazer, sei lá, um pirata num filme de época, não sei aonde, então ele chega lá e o diretor fala o que ele vai fazer naquele dia. Depois ele sai dessa escala e ele vai fazer um filme de terror em outro estúdio, então ele tem que entrar em outro clima de terror, e aí depois à tarde ele tem um game, onde é um game de guerra, aí ele tem que gritar e não sei o quê. Então o dublador acaba se destrinchando em 200, né?, para fazer todos os trabalhos dele. Então assim, quem tem que manjar realmente do que tá sendo gravado ali é o diretor e o técnico, para eles poderem, assim, colocar o dublador no estado mental certo para aquela produção.

DJ Vicky: Como foi a questão da dublagem durante a pandemia, já que praticamente não dava para se dublar em estúdio pelo risco de contaminação?

Lia Mello: Então, realmente, quando houve aquele estado de choque, né?, de, tipo, “ok, estamos entrando em uma pandemia global, o que é que a gente faz?”, né… Porque é uma doença letal e que pode ser transmitida em espaços fechados, né?, principalmente. Então vamos evitar aglomerações, não vamos ficar expondo pessoas, né?, as pessoas que têm um risco maior de se contaminar… E a dublagem nada mais é do que você trancado numa cabine, né?, por duas horas, três horas e depois trocando com outras pessoas que vão ficar meia hora, né?, várias pessoas muito rapidamente entram no estúdio e saem, é muita saliva no microfone… Então, assim, o estúdio era realmente um lugar muito propício para contaminação de COVID.

Não teve o que fazer: estúdios pararam, todos os estúdios pararam, alguns às vezes até tentaram, mas aí, tipo, realmente não tinha como, era uma questão de priorizar a saúde, né? A gente tem muitos dubladores mais idosos, vários dubladores possuem algum tipo de, enfim, complicação que poderia dar, né?, eram mais vulneráveis… Então foi um momento muito complicado mesmo, de “o que que a gente faz?”, porque até então não era permitido trabalhar de casa, e aí ficava nesse debate, a gente fez algumas assembleias — virtuais no caso, né? A gente inclusive mobilizou, teve toda uma mobilização do pessoal mais jovem da dublagem, a gente fez várias reuniões por Discord, o que eu achei genial. A gente conseguia votar pelo Discord, foi, tipo, incrível, assim, nesse sentido. E aí acabou flexibilizando esse lance do home studio, né? Então, não tendo outra alternativa, todo mundo achou que depois de dois meses fosse acabar, né?, que fosse ter um desfecho, que a gente ia concluir que “ah, não, na verdade, ó, se a gente fizer isso e isso, limpar bem a cabine e tal”, porque a gente tentou burlar um pouquinho nesse lance, assim, tipo, “não, mas as cabines estão esterilizadas, a gente tá trocando todas as coisas o tempo todo, botando redinha no microfone, cada um tem sua redinha, tendo limpeza nos estúdios, assim que a pessoa sai limpa, esteriliza”… Mas realmente no começo da pandemia estava muito pesado, tava muito arriscado, não dava pra fazer isso, assim desse jeito. E aí, mano, quem tinha uma reserva conseguiu comprar uma cabine, um microfone… Foi o jeito que deu, né?

E algumas pessoas não conseguiram investir esse dinheiro, então, inclusive, os dubladores se mobilizaram, né?, para tentar ajudar as pessoas que não estavam em condições de comprar a cabine, de comprar espuma, de comprar microfone… E aí criaram o Projeto Alô, que foi um projeto muito legal que teve durante a pandemia, onde fizeram um portal no Instagram, um site, tudo, onde as pessoas podiam comprar alguns pacotes. Por exemplo, uma palestra com os dubladores de desenho, uma palestras com os dubladores de game… Ou então, tipo, você curte um dublador específico? Então você pode comprar um áudio especial para você, onde ele fala seu nome, e não sei o quê… E com esse dinheiro as pessoas foram se ajudando, né?, não só dubladores ajudando entre si, mas também os técnicos de áudio, mas também, tipo, às vezes os funcionários de dentro do estúdio, né?, por exemplo, o pessoal da limpeza, uma recepcionista ou alguém assim que também foi ajudado por esse projeto, né?, pessoas que ficaram paradas, que, tipo, não tinham como não receber uma grana. Mas sem o estúdio trabalhar não tinha como, então foi um lance assim legal que aconteceu, no meio da pandemia.

E aí, agora, né?, tipo, depois de um tempo que começou a flexibilizar um pouco, os estúdios foram retomando. Aí algumas pessoas, né?, as pessoas que não eram tão vulneráveis, né?, foram perguntando, né?, tipo: “Vocês podem voltar? Vocês topam voltar?” E aí quem foi topando, foi voltando; algumas pessoas ainda preferiam tipo “ó, vamos continuar remoto e tal”… E aí agora, tipo, estão voltando com força mesmo, agora, tipo, tá todo mundo vacinado, né?, como você disse: “graças!” E aí agora já está mais seguro, né? Então, mas assim, a gente continua com as cabines, eu trabalho 50/50, digamos assim: tem estúdios que estão 100% presenciais pra mim, e alguns estúdios, 100% remotos pra mim, então, tipo, a gente vai balanceando. Em escalas que precisam ser presenciais a gente vai, agora aquelas escalinhas que dá pra ser remota, a gente faz de casa, o que ajuda também! No quesito locomoção, foi incrível, porque, tipo, tem estúdios que ficam muito longe, e tem estúdios que ficam mais perto, então os que estão mais perto são mais tranquilos de ir e vir, agora os que estão mais longe, às vezes, pô, se dá pra fazer remotinho, ajuda. Então a gente vai dando uma balanceada assim, no fim das contas não foi tão ruim.

DJ Vicky: Qual dos trabalhos você gostou mais de fazer? Não só sobre a imperatriz de Ixtal ou a raposinha do Overwatch, mas de todos que fez até o dia de hoje, qual você mais gostou de fazer? E por quê?

Lia Mello: Ah, cara, que pergunta difícil, porque tipo… cada um tem um lugarzinho especial no meu coração, tipo, no sentido de… são trabalhos muito diferentes, sabe? Esses trabalhos um pouco maiores assim que a gente faz, porque é sempre mais legal você fazer um protagonista ou você fazer um personagem de game que acaba tendo um destaque, então é difícil… é difícil pensar, tipo, qual que é meu favorito, é que nem filho, sabe? Tipo, você… sai de você, você fica “como eles são lindos e maravilhosos!”, não tem como! Mas assim, eu não sei se é porque é recente, mas eu realmente tô num love love com a Kiriko, assim, não consigo dizer que ela é minha preferida porque realmente, tipo… ela, a Qiyana, a Uma, a Enid do The Walking Dead, a Aiva do Warrior Nun… Ah, quem mais? Eu devo estar esquecendo de alguém, mas tipo, eu gosto muito dessas personagens, eu gosto muito mesmo, assim. A Gina do High School Musical, também eu adoro, sou fascinada. A Andi do Rebeldes… Eu não consigo não colocar todas elas no top 1, assim, sabe?, porque cada uma tem um significado diferente. É que a Kiriko tem esse lance do japonês, né?, ter as falas em japonês, ditas por mim, no português também foi muito especial para mim. Então no momento eu tô focada nela, nesse lance, enquanto isso.

Mas a Qiyana foi muito divertida de fazer, tipo, principalmente porque as pessoas gostam tanto dela, sabe? E foi uma surpresa pra mim porque, quando eu gravei, eu pensei: “gente, as pessoas vão odiar ela”. Pelo contrário, as pessoas amaram demais! E eu fiquei “caramba, então tá!”. Acho que eu não sirvo para prever o futuro dos heróis de LoL, porque, sei lá, tipo, ela tem esse lance de ser toda petulante, arrogante, né? Mas é justamente isso que as pessoas gostam nela, então, independente de quem você for, seja você, sabe? Tipo… Eu adoro isso!

(…)

Mas eu gosto de sempre exaltar muito o trabalho do Marcelo Campos, que foi meu diretor. Tipo, sem ele, com certeza a Qiyana teria metade de toda essa petulância que ela tem. Ele realmente, tipo, espremeu tudo que ele conseguiu de mim, assim, tipo, “Seja mais nojenta! Pisa, pisa mais!”, entendeu? Tipo, e eu falei “tá bom!” E a gente foi “ahhhh”, foi pisando! Não foi fácil, Qiyana não veio fácil! Ela foi um parto complicado!

DJ Vicky: Mas foi um parto bonito!

Lia Mello: Tipo, não, quando saiu ficou realmente bem legal, mas assim, tem muito do Marcelinho por trás, porque realmente ele foi genial, assim, tipo me ajudando a criar ela, foi um trabalho muito especial nesse sentido.

DJ Vicky: Quais são as suas influências dentro do ramo? Em quem você se inspira?

Lia Mello: Eu tenho uma madrinha, que foi a Alessandra Araújo. Maravilhosa, diva, ela é incrível e foi a pessoa que me estendeu a mão real, assim, confiou no meu trabalho, me deu a primeira escalinha, e eu sou eternamente grata! Eu também tenho uma segunda madrinha, que é a Angélica Santos, nosso eterno Cebolinha, incrível também, amo demais, uma fofa, inclusive, tipo, mano, adoro muito. E, assim, eu gosto muito do trabalho do Marcelo Campos, como eu já falei, ele, quando ele me dirigiu, na verdade foi o único trabalho que eu fiz com ele como diretor e, tipo, foi muito especial para mim, que já era fãzaça dele, eu amo o trabalho dele, me inspiro muito. E o Rodrigo Andreatto também, ele já sabe, eu já falei isso pra ele! Gosto muito desde Shaman King, Fullmetal, e tipo, até hoje, sabe?, tipo, porque a gente vê hoje nos profissionais que estão há muitos anos no mercado um certo esgotamento às vezes, sabe? Tipo, às vezes a gente vai de um estúdio pro outro, vai, corre, não sei o quê, e a gente entra num modo automático, a gente acaba virando um dublê: você só vai, faz seu trabalho e sai.

E, sei lá, o Rodrigo é uma pessoa que vejo sempre uma renovação, e eu quero ser assim, sabe?, tipo, eu quero ser essa pessoa que sempre renova a sua vontade de fazer um personagem de um jeito diferente. Então, tipo, meu maior medo na hora de fazer a Kiriko era que ficasse parecendo a Qiyana, então eu ficava assim: “meu Deus, é outro jogo, é outra Campeã, eu preciso fazer de um jeito que não pareça a Qiyana!” Mas, assim, é minha voz, não tem muito como! Mas eu espero que… eu sei que tem muita gente que fala assim “eu só conseguia lembrar da Qiyana”, e eu pensava “ai, não!” Eu espero que a Kiriko remeta novos sentimentos pra que não… sei lá, eu espero que eu tenha conseguido fazer ela um pouquinho diferente, que seja. Mas eu quero sempre estar com essa disposição, sabe?, de, tipo, entrar no estúdio com o pé direito e pensando em fazer um bom trabalho e renovar minha esperança naquilo que eu tô fazendo para não cair nessa mesmice, porque acho que isso é o que faz a dublagem seja tão especial, sabe?, que a dublagem brasileira seja uma das melhores do mundo porque, tipo, a gente realmente tem ótimos profissionais, atores muito capacitados, e que eu vejo, assim, principalmente até nas pessoas que estão entrando, sabe?, tipo, um amor muito grande pela dublagem. Então uma dica que eu posso dar pra vocês é, tipo, entrem sempre com vontade de dar o seu melhor, de verdade, porque não tem como não ficar legal se você realmente estiver se esforçando ao máximo para fazer um bom trabalho.

E que mais de outros profissionais? É que tem muita gente que eu gosto muito, cara. Eu acho que o top four assim pra mim é esse mesmo: é Alessandra, Angélica, Marcelo e Rodrigo.

DJ Vicky: O preconceito que antes era presente no público em relação a filmes dublados parece ter diminuído. Você concorda? Se sim, a que se deve esta mudança, na sua opinião?

Lia Mello: Sim, de verdade, porque, assim, conheço muita gente que fala assim para mim “ah, mas eu só vejo legendado” e por mim tudo bem, sabe? Cada um tem o seu gosto. Agora, o que é inegável é que a dublagem é necessária por muitos motivos, né?, principalmente para aquelas pessoas, por meio de acessibilidade, onde as pessoas realmente necessitam da dublagem, porque às vezes não enxergam uma legenda, né? Então a dublagem é extremamente necessária, e a gente não pode falar “Ai, por que tem filme dublado, poxa, devia ser legendado sempre!” Tipo, não, calma aí, tudo bem você não curtir a dublagem, mas ela é extremamente necessária por vários motivos. Sem falar que, assim, eu me divirto muito dublando, não necessariamente vou ver tudo dublado, tem várias coisas que eu assisto legendado, e acabo não vendo dublado, e tudo bem! É isso aí.

Mas eu vejo mesmo que muita gente tem valorizado bastante a dublagem e acho que vem um pouco também o lance das redes sociais, sabe? Querendo ou não, os artistas, eles mexem com o imaginário das pessoas, e o dublador não deixa de ser um artista, né? Nós somos atores, querendo ou não, né?, somos atores, formados e tudo. E alguns mexem mais com redes sociais, outros menos, mas, querendo ou não, é muito bizarro como eu deixo de ser a Lia e passo a ser a Qiyana no Brasil e passo a ser a Kiriko no Brasil. Então muita gente me segue não porque é a Lia, muita gente me segue porque é a Kiriko, muito gente me segue porque é a Qiyana, e ao mesmo tempo que isso me deixa muito feliz eu fico pensando também, tipo: “mano, eu não sou ninguém sem essas pessoas!” Então eu sou muito grata a elas, de verdade, e rola um estranhamento também nesse sentido, né? Tipo, o ator nada mais é do que uma personificação daquilo que não é real. Então, cara, é louco e maravilhoso ao mesmo tempo…

Então por que eu tô falando tudo isso, qual era a pergunta? Ah é 😂😂😂, desculpa, viajei! Sim, dublagem é muito importante, que bom, muito obrigada a todos que gostam muito de dublagem e valorizam nosso trabalho, isso é essencial para que a dublagem continue crescendo e continue sendo uma arte tão maravilhosa quanto ela é.

DJ Vicky: Tem algum personagem que você tem o sonho de dublar?

Lia Mello: Cara, eu nunca tive pretensões de dublar tal coisa XYZ assim, mas pensando agora, tipo, isso foi uma coisa que eu pensei recentemente, inclusive, porque quando eu era mais nova, eu cheguei a fazer fandub de Ouran High School Host Club. E foi uma coisa rápida, foi uma coisa besta, coisa de fã, né?, que normalmente a gente faz quando é fã de dublagem, a gente acaba criando fandub uma hora ou outra. Mas, tipo assim, eu gostei tanto, sabe?, eu me identifiquei tanto com a Haruhi, que é a protagonista, que agora que eu vejo vários animes sendo dublados, real, assim, oficial, e às vezes até alguns do passado, eu fico meio possessiva com a ideia de que, tipo, cara, se Ouran viesse pro Brasil e eu não fizesse a Haruhi… eu ia ficar muito triste, sabe? Então, assim, como a gente… o dublador na verdade nunca tá esperando receber o trabalho que recebe, né? Normalmente tem gente que até sabe, tipo: “ah, ó, você sabe o que que tá rolando em estúdio tal, estão dublando tal coisa”, aí você, tipo: “ah, nossa, que legal!” Mas eu nunca sei por antecedência, assim, coisas que estão rolando em estúdio tal, tal. Mas se algum dia aparecesse, tipo, eu acho que até chegou a… alguém chegou a me falar, tipo: “pô, parece que Ouran tá sendo dublado, né?” Me rolou uma tristeza assim de pensar… são boatos, eu não faço ideia, mas, tipo, me rolou uma tristeza pensar que Ouran poderia estar sendo dublado e eu não estou fazendo parte! Então assim, cara, isso seria realmente uma pena, mas, assim, também não vou morrer por causa disso, sabe? Mas realmente, parando para pensar, eu acho que seria a única coisa que eu ficaria triste real, assim. Tirando isso, o que vier é lucro, é nóis! Obrigada, diretores que lembram de mim, mandem-me escala!

DJ Vicky: Você tem algum cuidado especial com sua voz, alguma rotina específica?

Lia Mello: Olha, eu achava que cuidava bem da minha voz, mas depois que eu cheguei a fazer uma entrevista com (inaudível), que é um colega meu que amo muito, a gente fez uma entrevista juntos uma vez para um podcast, e ele falou que ele às vezes, tipo, fica, no dia anterior, ele fica sem beber, sem gritar, sem falar no telefone por um período de tempo antes de dormir, porque é para não acordar com a voz cansada… Mas, gente! Eu não cuido da voz do jeito que eu deveria, não!

Assim, eu tenho cuidado com a voz, óbvio, a gente, assim, deveria, né? Os profissionais deveriam pelo menos ter mais uma rotina, mas assim, não chego a esse extremo. Eu normalmente não falo muito ao telefone, eu já não sou uma pessoa que não fala muito, então talvez isso seja um ponto positivo. Parece que eu falo, mas é porque a gente tá aqui nesse ambiente! Mas assim, tipo, quando eu acordo, isso é uma coisa que eu sempre faço: eu passo uma hora sem falar, eu acordo, então, tipo, eu vou tomar meu café, eu vou fazer minhas coisas, eu passo pelo menos uma horinha aí sem falar, que é pra realmente a corda vocal aquecer, sabe?, tipo, para dar aquela acordada. Normalmente quando a gente acorda tem muita coisa acontecendo, tipo, tem muco, né?, tem catarro, tem um monte de coisa, né?, que a gente vai (inaudível), e aí depois uma hora que a voz tá realmente pronta para ser usada. Então eu acordo com uma certa antecedência e tal, e depois disso eu faço os aquecimentos, então é uma sequencia de “prrrr”, “brrrr” etc. que é só para dar um acordada mesmo, e algumas técnicas que eu aprendi no canto… A gente vai pegando uma técnica daqui outra dali, um aquecimento da fonoaudióloga, um aquecimento do canto, e a gente vê o que a gente tá mais precisando naquele dia,e aí a gente vai fazendo para aquecer, tanto corda vocal, quanto boca, quanto bochecha, toda nossa cabeça é uma grande caixa de ressonância, né? Então a gente vê o que a gente tá mais precisado naquele dia e a gente vai fazendo de acordo com o que precisar. E todo dia é isso, acordar mais cedo para passar uma horinha de relaxamento, para conseguir fazer as coisas do jeito certo.

DJ Vicky: O que você pode dizer para quem quer trabalhar com dublagem, mas se sente inseguro com a própria voz?

Lia Mello: Isso é muito interessante, porque, assim, eu… quando eu era mais nova eu considerava minha voz feia. Se isso serve de consolo para alguém, quando eu era mais nova, eu odiava me escutar, mas eu acho isso normal, eu acho que isso é uma coisa que todo mundo acha esquisito porque a voz que a gente escuta na nossa própria cabeça não é a voz que realmente as outras pessoas escutam. Então a gente não tá acostumado com a nossa própria voz. A partir do momento que você começa a trabalhar com a voz, a gente começa a se escutar com mais frequência, a gente passa a não ter mais esse estranhamento e a gente aceita que essa é nossa voz normal.

Então, tipo, quando eu comecei a fazer teatro, teve uma aula de voz que o nosso professor pediu exatamente isso, que a gente preenchesse uma folha dizendo quais eram as qualidades da nossa voz, que a gente achava de bonito, e quais eram as coisas que a gente achava de feio, e eu só marquei coisa feia. Eu achava minha voz ruim, eu não gostava da minha voz, achava estridente, irritante, feia, enfim, distorcida… E meu professor falou: “Nossa, mas porque você acha tudo isso?” E eu: “não sei!” Mas é engraçado, a partir do momento que eu comecei a trabalhar com a voz, eu comecei a acostumar com ela. E para a dublagem não existe voz feia, porque você tem todos os tipos de gente. Uma coisa é você ver um digital influencer e pensar “uau, que corpo lindo, nossa, não tenho um corpo desses”. Cara, não é verdade, sabe? Tipo, a gente tem que se aceitar do jeito que a gente é e só assim a gente vai ser minimamente feliz. E pode ter certeza de que tem uma personagem para sua voz, tem com certeza, e se você for ver todos os dubladores que existem, existem todos os tipos de vozes possíveis e imagináveis.

Então, assim, não se sinta desencorajado, desencorajada, de procurar fazer um teatro, procurar fazer uma dublagem por achar esse tipo de coisa, não precisa se sentir assim. A única coisa que você precisa ter é confiança real, assim, porque pra você entrar no estúdio você precisa ter um mínimo de confiança, por isso que é legal fazer curso de teatro, um curso bom, não esses cursos de férias, não esses cursos de um ano, um curso do bom, uma faculdade, uns três aninhos aí pra você realmente perder a vergonha, botar a cara a tapa, se descobrir, porque no teatro é onde a gente se descobre mesmo e vê se vale a pena ou não, porque é dar a cara a tapa mesmo, todos os dias. E enfim, tipo, eu só fui superar minha vergonha da minha própria voz, fazendo, então façam, se tiver com medo vai com medo mesmo, é como diz aquela velha frase.

DJ Vicky: Ao longo desses anos, muitas coisas engraçadas devem ter acontecido nos sets de gravação. Você lembra de algum em particular?

Lia Mello: Acontece um monte de coisa o tempo todo, mas de engraçado, mano, eu não sei se eu vou lembrar agora. Eu sou péssima para lembrar de momentos específicos, eu depois de um tempo eu fico “putz, eu devia ter falado daquilo”. Mas teve uma coisa engraçada que eu lembro que foi, tipo, uma vez que a gente tava… Tem uma coisa na dublagem que se chama vozerio, né?, que é quando junta quatro dubladores dentro da cabine para fazer voz de ambiente. E teve um filme, foi no Cruella, eu acho, que estava eu e mais duas dubladoras fazendo vozerio, e aí, lógico, tinha um monte de cachorro, né?, no filme… E aí, quando a gente tinha que falar “olá tudo bem, oi, senhora, por favor, por aqui, entra nessa loja, ahh, oi, quanto tempo, não sei”, fazendo esses sons de ambiente, a gente começou “Pipo, Pipo, vem cá, Pipo!”, que era o nome do cachorro. E aí, tipo, a gente olhou uma para outra e ficou tipo: “por que Pipo?” E aí ficou, e aí quando a gente não sabia mais o que falar, a gente falava “Pipo, vem cá, Pipo!”. E de vez em quando a gente ainda bota algum caquinho de Pipo em outras produções, então, tipo, se um dia você estiverem vendo alguma coisa e vocês ouvirem um “Pipo”, (inaudível) “ah, foi bem que a Lia falou mesmo, ó o Pipo aÍ!

DJ Vicky: Tem algum comentário que você mais escuta dentro de sua área, que você tem vontade de corrigir? Você costuma receber hate ou você prefere não ver?

Lia Mello: Sobre a área, cara, eu não sei dizer, viu? Normalmente as pessoas são bem receptivas, então eu acho que eu nunca recebi hate, não, de alguém virar para mim, tipo, e jogar um hate, assim, gratuito, não, graças a Deus isso não aconteceu, não precisa começar agora, inclusive! Eu na verdade gosto muito de todo o carinho recebido, de verdade, as pessoas são bem calorosas. Normalmente quem não gosta muito de dublagem não vem comentar, porque elas não viram, então tá tudo bem.

E sobre corrigir coisas que são ditas, eu não sei de verdade, agora, assim, pensando não me vem nada à mente, então acredito que não. Normalmente a gente recebe mais dúvida do que realmente pessoas querendo afirmar algo que elas não sabem, então a gente costuma receber mais perguntas mesmo, tipo: “como que faz tal coisa?”, “por que que é assim, assado?” Então são mais as pessoas realmente tentando se informar mesmo do que só falando coisas da cabeça delas.

DJ Vicky: Como fazer para tornar-se um tradutor de dublagens? É algo diferente de ser apenas dublador?

Lia Mello: Sim, totalmente diferente, totalmente diferente, são duas áreas diferentes. Se bem que, assim, em algum momento elas se encontram, porque, assim, traduzir para a dublagem é diferente de traduzir para legenda e é diferente de traduzir para livro ou qualquer coisa assim. A tradução para a dublagem, você vai fazer no formato do roteiro, né?, que o estúdio providenciar, e, por exemplo, na tradução para a legenda, você tem um máximo de caracteres que você pode usar para caber na tela, então você tem um limitador ali nesse aspecto. A tradução para a dublagem, você tem um limitador que é tempo da boca do personagem bater ali, né?, então, assim, não adianta, por exemplo, o personagem falar “tudo bem?”, no original ele falar, por exmeplo, “How are you?” e na tradução da dublagem colocar “como vai, senhorita?”. Não vai caber. Então, assim, tem que ter essa noção para chegar o mais mastigado possível e o mais, assim, fácil de fazer pro dublador, então, tipo, tem que ter essa noção. Claro, você tem que ter um extremo domínio do idioma que você está traduzindo porque a dublagem, ela vem… você ganha desde filmes para crianças até filmes extremamente adultos, você nunca sabe o que vai chegar. Então, claro, tem que ter um conhecimento da língua muito bom.

E é basicamente isso, tipo, ter uma noção também do público, porque a tradução para a legenda é tudo formal, independente do que você tá fazendo, é tudo formal. Agora, para a dublagem, poxa, dependendo da série, você pode ser superinformal, mas dependendo da série, você tem que ser superformal. Então você tem que ter… ou às vezes a série é formal, mas tem um personagem que é mais, né?, informalzão, ou, tipo, a série é superinformal, mas tem aquele personagem que é mais nerd, ou às vezes aquele personagem que é mais certinho, ou aquele personagem… que é mais fora da curva, então você tem que ter essa noção pra também já (inaudível), porque as vezes só a tradução passa isso. Às vezes não fica tão visível, e como o tradutor é o cara mais próximo de entender a língua-mãe, ele é o cara mais próximo de conseguir passar a mensagem certa pro diretor, né?, que às vezes não conhece aquele idioma. Já pensou? Um diretor que recebe uma série norueguesa, é mais fácil você conhecer um inglês, mas um norueguês, tipo, um coreano… A gente tem que depender muito da tradução, e a se tradução vem muito formal pra você ali, que é mais informal, poxa, como é que a gente vai saber, né? Então tem isso também.

DJ Vicky: O que você acha da utilização de gírias durante a dublagem?

Lia Mello: É, isso é um assunto polêmico! Polêmica para encerrar! Cara, eu acho que depende, porque tem séries que são datadas, sabe? Tipo, por exemplo, Um Maluco no Pedaço. Um Maluco no Pedaço é muito anos 90, muito anos 90. Então usar gírias do ano 90 (inaudível) vale, agrega, porque é uma série datada mesmo, sabe? Tipo, você olha e fala: anos 90! A roupa, sabe?, tipo, o estilo, as músicas, tudo grita anos 90. Então, assim, dependendo da série… Agora é claro, por exemplo, tem algumas coisas que deveriam ser mais atemporais, às vezes, sei lá, um desenho um anime ou qualquer coisa assim que as pessoas querem ser muito engraçadonas, elas saem botando gíria a rodo. E não é bem esse o caminho, né? Tipo, não é uma série datada, não é para ser um desenho datado. Às vezes é para ser um desenho mais atemporal, que você poderia ver em qualquer contexto. Se o original não pede, então não tem por que forçar, né? Agora, se tem a ver com o contexto, por que não, sabe? Tipo, por exemplo, a Netflix foi uma das revolucionarias no quesito palavrão. A Netflix… eu lembro que, quando eu recebi o primeiro projeto da Netflix, estava escrito no guideline deles: “se tiver palavrão, mantenha, tudo que for no original mantenha o mais próximo possível na língua de vocês”. Eu falei: “beleza!”. Então tudo que eu podia botar de palavrão eu coloquei, ficou incrível! Mas realmente, tem coisas que não dá para forçar, então, tipo, é tudo com base no original, se o original não pede, não tem por quê. A dublagem não tem que inventar nada, ela tem que traduzir do melhor jeito aquilo que tá sendo apresentado, então vai do bom senso mesmo da equipe envolvida.

DJ Vicky: Você indica alguma escola de refêrencia na área de teatro para quem gostaria de trabalhar com a área de dublagem?

Lia Mello: Então, na verdade eu tô meio por fora, assim, de saber quais são as escolas de teatro, que estão dando DRT, que capacitam (inaudível). Das faculdades, eu sei que a Anhembi Morumbi tem uma faculdade de teatro, e é muito legal. E eu sei que o Macunaíma também é uma escola de teatro muito legal daqui de São Paulo, eu tenho vários amigos que se formaram por lá, e não sei se Nilton Travesso também… Eu tô meio por fora, real, assim, tipo, das escolas de teatro que tão dando DRT. Agora, voltado pra dublagem, eu sei que tem a Dom Caixote, por exemplo, que é da Agatha Paulita e a Flora Paulita também, elas tão fazendo um curso superlegal, então a Dom Caixote pode ser uma escolha bacana, e aí você já pode entrar pensando em ingressar na dublagem, então fica a dica. Mas é isso, procura sempre, tipo, se você quer fazer dublagem, você tem que pensar no DRT, então foque numa escola que tem um curso legal. Eu indico pelo menos uns três anos de teatro, que é pra realmente você se descobrir lá dentro, e que entregue um diploma que seja reconhecido pelo MEC, porque daí com esse diploma você vai poder ir na Secretaria do Trabalho e você pode tirar o seu DRT.

Para finalizar

Você pode também encontrar a Lia Mello nas seguintes plataformas:

Confira a entrevista na íntegra

Bem, pessoas, neste artigo tentei transcrever as partes mais importantes da entrevista. Mas se você deseja ouvir as respostas mais completinhas e saber mais sobre a Lia, assim como ouvir ela interagindo com os ouvintes da J-Hero, irei disponibilizar a entrevista completa aqui neste artigo mesmo, então aproveitem!