O dia 26 de setembro é considerado o Dia Nacional do Surdo: momento de celebração para a comunidade surda e para pensarmos mais sobre a inclusão dessas pessoas na sociedade, sendo o mês de setembro como um todo chamado de Setembro Azul. No Brasil, a data foi escolhida por ser a data de fundação do INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos), em 1857, quando o conde francês Hernest Huet, que era surdo, veio ao Brasil com a missão de abrir a primeira escola para surdos do país.

A cor azul foi escolhida pois, durante a II Guerra Mundial, todas as pessoas que possuíssem algum tipo de deficiência deveriam levar no braço uma faixa azul para serem facilmente identificados pelos nazistas. Com o término da guerra, a cor passou a simbolizar a opressão enfrentada pelos surdos e o orgulho da identidade surda.

E foi pensando sobre a data que resolvi trazer para vocês as minhas impressões sobre uma obra muito conhecida chamada A Voz do Silêncio (Koe no Katachi), uma série de mangá escrita e ilustrada por Yoshitoki Ōima e cuja conclusão ocorreu em 19 de novembro de 2014, sendo compilada em sete volumes pela editora Kōdansha no Japão e lançado digitalmente pela Crunchyroll Manga. No Brasil, o mangá é licenciado e publicado pela editora NewPOP.

Sinopse

A história gira em torno de Shōko Nishimiya, uma estudante do primário que sofre de surdez. Ela é transferida para uma nova escola, mas acaba sendo intimidada por seus colegas. Shōya Ishida, um dos valentões responsáveis, acaba forçando-a a mudar de escola. Como resultado dos atos contra Shōko, as autoridades escolares tomam medidas sobre o assunto, Shōya é condenado ao ostracismo como punição, sem amigos para falar e não ter planos para o futuro. Anos depois, Ishida tenta reparar seus erros para redimir-se com Nishimiya.

Alerta de gatilho

Sendo sincera com vocês, A Voz do Silêncio aborda temas muito pesados e possui inúmeros gatilhos (bullying, suicídio) e tem uma recomendação de faixa etária 14+. Mesmo eu gostando muito da obra, teve muitos momentos em que fiquei extremamente impressionada e mal com o desenrolar dos acontecimentos. Então, fica aqui o alerta de gatilho: o mangá apresenta os problemas de Nishimiya de forma extremamente realista, e se você não estiver bem, evite ler por agora.

A surdez no capítulo 51 (volume 3)

Esse é um capítulo em que vemos o mundo pelos olhos e ouvidos da Nishimiya, em que temos dificuldades para ler os balões de diálogos, sendo uma comparação direta com a dificuldade que ela tem em ouvi-los. O “mesmo” esforço que fazemos para entender, seria “proporcional” ao esforço que ela também teve que fazer para conseguir acompanhar as pessoas falando. A ideia da autora foi de sentirmos a dificuldade da protagonista em se comunicar, nos colocando no lugar dela. O que me lembra, outro assunto que quero abordar…

Línguas de sinais

As línguas de sinais são idiomas visuais baseados nos movimentos das mãos e das expressões faciais e corporais, não são auditivas e não necessitam de expressão vocal, sendo uma língua como qualquer outra — como o português ou o japonês. Desde 2002, a Libras (Língua Brasileira de Sinais) é reconhecida como uma língua no Brasil. Porém, só uma pequena parcela da população sabe se comunicar em Libras, o que faz com que a vida das pessoas surdas — cerca de 9,7 milhões de brasileiros, segundo o censo do IBGE — seja bem mais difícil do que a das ouvintes.

Capítulo 2 (volume 1)

Voltando ao mangá, no capítulo 2 do volume 1 vemos a cena da Naoka Ueno, uma das personagens, dizendo que é mais fácil escrever do que aprender a língua de sinais. A surdez de Shōko Nishimiya é vista como um problema, cuja escola não se adapta a sua existência, ignorando sua condição, sendo palpável a exclusão que ela vive.

Não é apenas em Setembro ou no Dia do Surdo que devemos lutar pela inclusão dessas pessoas, mas o ano inteiro. A inclusão acontece quando cada um de nós se interessa e procura entender e ser mais compreensivo. A deficiência não está na surdez, mas em quem se recusa a escutar a voz dos surdos. A deficiência está nas escolas e universidades que não disponibilizam as aulas em formato acessível, nas empresas que evitam a contratação de pessoas surdas devido a dificuldades de comunicação: está em tudo que impede as pessoas surdas de serem incluídas nos mais diversos âmbitos.

Para atingir, de fato, a inclusão para todos é preciso estarmos atentos para as diversidades. Portanto, sigamos nessa luta por uma sociedade mais justa, inclusiva e com acessibilidade. Por mais que a história de A Voz do Silêncio seja inicialmente uma história sobre bullying, é também sobre empatia e como nós podemos aprender a ouvir e entender o outro, apesar das diferenças.


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