J-Hero, você abriu… e nós viemos.

Produzida pelo estúdio Deen, responsáveis também por Beyblade e Samurai X, esta série antológica adapta alguns dos melhores contos do autor Junji Itō. Conhecido por seus trabalhos no gênero de terror e horror, entre as obras adaptadas estão títulos publicados nos mangás Junji Itō Kyōfu Manga e Ma no Kakera. Dirigido por Shinobu Tagashira, o diretor do maravilhoso Steamboy, nestes episódios duas histórias diferentes são apresentadas com enredos e personagens diferentes.

Anunciado em 2017 e transmitido em 2018, atualmente os episódios estão disponíveis na Crunchyroll, e para os mais saudosistas há uma edição de luxo em Blu-ray sem cortes e censura!

The Pinballs – Shichiten Battō no Blues (七転八倒のブルース)

Considerações gerais

Apesar da união primorosa entre arte, direção e adaptação, Junji Itō Collection não é a obra-prima esperada pelos fãs. Infelizmente algumas mídias não são facilmente adaptáveis, e os desenhos de Itō se mostram unicamente difíceis. Por se tratar de uma adaptação colorida e mais “fluída”, os desenhos e a tensão repassada nas páginas do mangá ficam perdidas durante os episódios.

Apesar de uma adaptação próxima de seus desenhos, o clima e sentimentos passados em papel são mais traumatizantes. Durante a leitura de seus mangás, Itō prioriza a virada de página para momentos de impacto e tensão, artifício o qual poderia ser equiparado através da boa trilha sonora, mas se perde pela escolha dos momentos de silêncio.

Contudo, a produção tem seus pontos fortes. A dublagem entrega o tom gutural e soturno esperado dos personagens. A cadência das falas, tanto dos personagens quanto dos autores, envolve o espectador na trama e facilita o decorrer dos episódios que são curtos e suficientes.

Apesar da escolha dos contos não ser a melhor, afinal temos cenas mais cômicas do que aterrorizantes, há também episódios incômodos e agoniantes assim como é esperado da obra advinda de Junji Itō:

Episódio 6 – Coleção 67 – A Janela da Vizinha

Quiçá o melhor conto adaptado. Neste episódio, acompanhamos uma família que acaba de se mudar e tenta conhecer seus vizinhos. No entanto, um dos moradores não é visto e nunca sai de sua casa, possuindo apenas uma janela de encontro: a janela do jovem Hiroshi.

Durante todas as noites, o vizinho então chama pelo garoto através das janelas. Ele tenta ignorar até que percebe a tentativa de seu vizinho em atravessar o vão entre as casas! Aterrorizado, Hiroshi grita por seus pais, que não encontram nada de errado.

Alerta de spoiler!

Por fim, em uma manhã vemos o desejo do vizinho em alcançar a janela de Hiroshi personificado na janela de sua casa, que se expandiu e se aproximou, deixando ambíguo se ele invadiu a casa ou não.

Episódio 7 – Coleção 38 – Cidade sem Ruas

O enredo deste episódio merece um destaque por si só. Saiko é observada constantemente pelos membros de sua família, que furam sua parede e a espiam pelas frestas da porta. Frustrada por não ter privacidade, ela decidiu visitar sua tia em outra cidade e invariavelmente se perde no caminho. Aos poucos, as ruas se tornaram mais estreitas, os caminhos, mais fechados, e ela percebe estar sendo observada também pelas pessoas ao redor.

Ao chegar na casa de Tamae, o véu da realidade finalmente se rompe, e vemos um ambiente sem privacidade onde todos convivem com a exposição excessiva. A tia de Saiko convive sendo observada por todos e se acostumou com essa “invasão”. A garota, por outro lado, não aceita a situação e tenta fugir, mas o quanto é possível fugir de uma cidade com ruas onde não há privacidade? O quanto este conto fala com a atualidade e os exageros das redes sociais me fazem arrepiar.

Episódio 10 – Coleção 107 – Engordurado

Sem sombras de dúvida, o conto mais incômodo de toda a coletânea. Não pelo terror retratado, mas pela conexão criada com a protagonista, Yui. A garota vive no restaurante da família com seu pai e irmão mais velho, este que tem um sério problema com acne e é rejeitado por todas na escola.

A casa por si só “transpira” gordura, e o nível de tensão do episódio é medido pela saturação do óleo. Acompanhamos os abusos de seu irmão mais velho, que desconta seu problemas na garota e em litros de óleo que bebe compulsivamente. As cenas escatológicas são comuns neste episódio, e a sensação de algo oleoso que escorre pela tela e nos atinge é constante.

Temo dizer que todas as metáforas deste episódio são sobre abuso de substâncias como o álcool. Afinal, ao concluir o arco do irmão mais velho, o pai assumiu o papel de antagonista e abusador que espera que a filha siga seus passos. Apesar da péssima escolha de palavras, este episódio merece ser “degustado”.


E você já assistiu Junji Itō Collection? Quais episódios mais gostou? Qual outro anime de terror merece atenção?