Ooi, pessoal, aqui é a Mell.
A fanfic de hoje se passa em um universo alternativo do dorama chinês chamado Ashes of Love e também teve como inspiração um artigo chamado O fio vermelho que une destinos da nossa querida Tuzi, redatora da coluna Tsuki no Usagi, que tem feito matérias excelentes! Recomendo que deem uma olhada caso ainda não tenham visto nada dela :3
Espero que gostem, boa leitura!
Aos dezesseis anos, o arrogante e orgulhoso segundo Príncipe do Reino Celestial, chamado Xù Fèng, resolveu fazer um passeio durante a noite. Saltando e voando entre as nuvens, em determinado momento ele acabou deixando o território de seu reino e vagou rumo ao Reino das Flores, conhecido por possuir as mais belas e coloridas paisagens de todos os seis reinos.
A figura brilhante e atípica de um ancião chamou a atenção de Xù Fèng, que desceu até o solo para se aproximar daquilo que parecia ser uma divindade. Conforme a distância entre os dois encurtava, ele percebeu que o senhor usava roupas douradas, tinha longos cabelos brancos e uma longa barba igualmente pálida, e seu rosto possuía traços singelos, dando-lhe um ar gentil e sábio.
— Boa noite! O senhor me parece familiar, poderia me dizer seu nome? — ele perguntou, fazendo uma reverência breve antes de cumprimentá-lo.
— Boa noite, jovem Príncipe — o fato de tê-lo reconhecido não foi novidade para o mais novo, que, por ser membro da família imperial, era famoso até mesmo fora do Reino Celestial — Alguns chamam-me de Criador de Luas; outros usam meu nome, Yuè Lǎo, para se referir a mim.
— Yuè Lǎo? O Deus do Casamento? — a divindade assentiu e ele prosseguiu — Por isso sua aparência me era tão familiar. Minha mãe costumava ler histórias sobre você e seus feitos quando eu era pequeno — um pequeno sorriso nostálgico surgiu nos lábios do jovem Príncipe.
Com um olhar mais atento, Xù Fèng percebeu que o ancião tinha um livro com folhas douradas e capa vermelha em seu colo, despertando assim a sua curiosidade em relação ao conteúdo dele.
— Qual é o nome deste livro que você estava lendo? — ele questionou, não conseguindo tirar os olhos das atrativas páginas douradas, mesmo que por conta da distância ele não conseguisse identificar as palavras escritas nelas.
— Este é o Livro do Casamento. Graças a ele, eu sei quem se casará com quem e posso amarrar um fio vermelho no tornozelo das respectivas pessoas destinadas a se encontrarem e se casarem.
Xù Fèng então lembrou-se de sua mãe lhe contando que seu destino era casar-se com Suì Hé, filha de uma amiga muito próxima da Imperatriz Celestial e a herdeira do título de líder da Tribo da Ave, uma tribo renomada e benquista no Reino Celestial.
Todos sabiam que Xù Fèng era perdidamente apaixonado por Suì Hé, e era de conhecimento geral que tal amor era recíproco, mas uma dúvida um tanto cruel passou pela cabeça do jovem Príncipe.
E se seu destino fosse se casar com uma mulher que não fosse aquela que tem seu coração?
— Criador de Luas, poderia me dizer com quem eu me casarei no futuro?
O ancião deu um sorriso compreensivo e assentiu, descendo seu olhar até o livro pra encontrar o nome de Xù Fèng e da pessoa com a qual ele estava destinado a ficar.
— A sua futura esposa ainda possui apenas dez ano de idade e vive aqui no reino Floral. Seu nome é Jǐn Mì.
— Jǐn Mì… — o nome não era estranho para Xù Fèng, então ele começou a revirar suas memórias e demorou muito para se lembrar de quem era — Você quer dizer que meu futuro é me casar com uma órfã que não tem nada? — seu questionamento saiu em um tom alto e ríspido, mas isso não abalou a divindade, que permaneceu com seu usual sorriso simpático no rosto.
— Jovem Príncipe, a Imperatriz Celestial nunca lhe ensinou a não julgar os outros conforme suas posses ou a falta delas? — sua resposta enfureceu o Xù Fèng, mas ele não interrompeu o ancião, que continuou a falar — É certo que Jǐn Mì é conhecida como uma órfã que foi acolhida pela Grande Fada Floral, a atual líder do Reino Floral, mas o futuro é imprevisível, nós nunca saberemos o que poderá acontecer.
— Não me importa quem é essa Jǐn Mì, meu destino é me casar com Suì Hé! Eu a amo e quero que seja ela com quem passarei o resto da minha vida!
— Se a pequena Suì Hé fosse sua destinada, era o nome dela que estaria ao lado do seu, porém este não é o caso.
Um riso de desprezo escapou dos lábios do jovem Príncipe, que sacudiu a cabeça em negação a tudo que ouviu do velho Yuè Lǎo.
— Não importa. É com Suì Heéque eu irei me casar — o olhar da divindade mudou, ficou claro que ele estava sentindo pena de Xù Fèng, e, por ser empático, uma grande tristeza habitou em seu semblante.
— Então você jamais será feliz, querido jovem Príncipe — o velho se levantou na grande pedra que até então estava servindo de assento para ele e estalou os dedos.
Um cordão vermelho brilhou no tornozelo direito de Xù Fèng, porém ele logo despareceu, já que este fio não costumava ficar visível.
— Agora estou indo ligar seu fio ao tornozelo de sua destinada, com licença. Espero que você faça a escolha certa, jovem Príncipe, pois temo pela vida da pequena e doce Jǐn Mì.
O jovem Príncipe deu um sorriso de escárnio que foi ignorado pela divindade; esta saiu dali com uma expressão nada contente em seu rosto, ele só esperava que Xù Fèng não condenasse seu próprio destino, igual o mesmo pretendia fazer.
Desde aquele dia, Xù Fèng recusou-se a pisar no Reino Floral novamente. Ele adorava viajar para vários reinos com seu pai, mas aquele reino virou uma exceção.
O segundo Príncipe do Reino Celestial passou os próximos cinco anos evitando conhecer Jǐn Mì e dedicou todos os seus esforços a conquistar e cortejar Suì Hé, até que ela tivesse olhos somente para ele. E, de fato, a mais nova líder da Tribo da Ave estava tão apaixonada que seu amor poderia ser confundido com obsessão, mas Xù Fèng não considerava isso um problema, já que ela era a única que tinha seu coração.
Junto a festa do vigésimo quinto aniversário do segundo Príncipe, veio o anúncio de seu noivado com Suì Hé. A data do casamento estava um pouco distante, porém isso se devia ao fato de que Suì Hé tinha ascendido recentemente, e os anciões da tribo da Ave ainda estavam testando suas competências para terem a certeza de que Suì Hé seria uma líder responsável.
O pai de Xù Fèng, o respeitado Imperador Celestial, Tàiwēi, estava tendo uma longa conversa com seu amigo de infância, chamado de Divindade da Água (ou de Luòlín pelos mais próximos), e quando Xù Fèng se aproximou para ouvir do que esta se tratava, descobriu que estavam relembrando os inúmeros feitos de Xù Fèng e, com um sorriso orgulhoso, o segundo Príncipe educadamente cumprimentou a Divindade da Água.
— Agradeço por comparecer a comemoração do meu aniversário, imagino que o senhor deva ter deixado de fazer muitas coisas apenas para estar aqui.
— Não é necessário agradecer, Xù Fèng. Eu não poderia deixar de vim no aniversário de alguém tão importante para o Reino Celestial.
Como sempre, Luòlín fora cuidadoso ao falar somente quem lhe conhecia muito bem sabia o que estava implícito naquelas palavras. Xù Fèng poderia ser importante para o Reino, mas não para a Divindade da Água, que sempre foi a favor do filho mais velho do imperador, Rùn Yù, ascender ao trono em vez do segundo Príncipe.
Xù Fèng era consciente disso, mas ambos buscavam manter a cordialidade em público para que não prejudicassem as imagens um do outro, já que suas desavenças não deveriam influenciar na forma como se tratavam diariamente, pois eles tinham cargos importantes no Reino Celestial e sua vida pessoal não deveria ser misturada com seus respectivos trabalhos.
— Pois bem, notei que sua esposa não veio, ela está bem?
— Não, recentemente ela tem tido alguns enjoos e não tem se alimentado direito. Pedi para que ficasse em casa, onde nossas criadas poderiam cuidar melhor dela.
Xù Fèng trocou olhares um tanto divertidos com seu pai. Luòlín era competente, mas quando se tratava de sua esposa, ele era lento para entender algumas coisas. Mas se a própria Divindade da Água não sabia dizer o que sua esposa tinha, ou melhor, o que ela provavelmente carregava em seu ventre, quem eram eles para dizerem algo a respeito? Deixariam que Luòlín notasse por si mesmo.
O trio engajou em uma conversa leve, com assuntos banais e nem viram o tempo passando ou quem estava ao redor deles. Houve um momento em que Rùn Yù também se juntou ao diálogo, e eles estavam quase se dispersando para pegarem mais bebidas e socializarem com outras pessoas, quando um rosto familiar chamou a atenção de Tàiwēi e de Luòlín.
— Tàiwēi… — foi tudo o que a Divindade da Água conseguiu dizer, mas o Imperador entendeu o que se passava na cabeça do amigo, já que era provável que ambos estivessem pensando na mesma coisa.
— Sim, ela se parece muito com Zǐfēn…
Os dois Príncipes olharam para a mesma direção que os homens mais velhos e avistaram uma bela jovem que usava trajes lilases e estava acompanhando a respeitada Grande Fada Floral. Tanto Rùn Yù quanto Xù Fèng pensaram que ela talvez fosse uma das mulheres mais belas na festa, mesmo que não tenha se produzido tanto e por isso não chamasse a atenção dos demais. Talvez nem Tàiwēi e Luòlín tivessem notado sua existência se seu rosto não lembrasse a falecida Divindade das Flores e ex-esposa de Luòlín, Zǐfēn.
Antes mesmo que pudessem pensar em ir atrás dela, a Grande Fada Floral os reconheceu e a guiou até eles com um sorriso contido.
— Imperador Celestial, Divindade da Água, primeiro e segundo Príncipe, em nome do Reino Floral eu ofereço meus cumprimentos — então seu olhar se dirigiu especificamente para Xù Fèng — Feliz aniversário, segundo Príncipe. Hoje é um dia alegre para o Reino Celestial, pois seu General e Príncipe mais respeitado completou mais um ano de vida. Trouxemos um presente, espero que seja do seu agrado.
Ela gesticulou para que a jovem que a acompanhava se aproximasse mais, deixando Tàiwēi e Luòlín ainda mais perplexos. Eles já não tinham dúvidas, aquela mulher não apenas se parecia com Zǐfēn, era exatamente igual a ela quando era mais nova.
Assim que o olhar de Xù Fèng se encontrou com o da jovem, por um milésimo de segundo um fio vermelho brilhou no tornozelo de ambos, por baixo das vestes, mas tão rápido como veio, ele também se foi, sem que ninguém naquela festa tivesse percebido.