Olá, Brasil! Como estão? Estamos aqui novamente para levar até vocês mais um texto superinteressante que você só encontra aqui, na Rádio J-Hero. Hoje, vamos dar uma espiadinha em duas das formas mais usadas em filmes e séries para dar dicas sobre o que espera a audiência no restante da trama: o foreshadowing e a arma de Chekhov. Curiosos? Ansiosos? Espantados? Então, sem mais delongas, bora para o texto de hoje. Fica de olho nos spoilers, ok? Vez ou outra eles aparecem por aqui para dar um “oi”.
Indicando o futuro com o foreshadowing
Como diria o poeta, vamos começar pelo começo, pois o jogo é jogado, e o Lambari é pescado. Foreshadowing é o nome dado a um recurso literário usado para indicar eventos e dar pistas sobre acontecimentos futuros. Com o foreshadowing, que também é amplamente usado no audiovisual, podemos ter, segundo o roteirista David Trottier, uma história mais coesa, ainda que o espectador não a identifique instantaneamente. Com essa pequena antecipação, as recompensas que os personagens obtêm ao final do filme, que estejam relacionadas ao foreshadowing, se tornam mais gratificantes.
O foreshadowing direto
Existem, basicamente, duas formas de se executar um foreshadowing, sendo a primeira o foreshadowing direto. Usualmente criado por meio de diálogos, esse tipo de prenúncio pode ser facilmente identificado pelos espectadores e revela momentos futuros da trama, como os pontos principais (plot points) e até mesmo o desfecho geral da obra e/ou de algum personagem. Como o foreshadowing direto “entrega de bandeja” acontecimentos futuros da história, o espectador pode se concentrar mais na forma como a trama e os personagens se desenvolvem e menos no resultado final da aventura, tornando a jornada mais importante que sua conclusão.
Um bom exemplo de foreshadowing direto por meio de diálogos é o que Harvey Dent diz em Batman: O Cavaleiro das Trevas. Em uma das falas mais memoráveis da história do cinema de super-heróis, o ex-promotor de Gotham enfatiza que “ou você morre herói ou vive o bastante para ver você mesmo virar vilão”. Adivinhem o que acontece com o moralmente irrepreensível Harvey Dent, a esperança de Gotham, após o Coringa executar suas artimanhas na cidade do Batman, fazendo o Homem-Morcego escolher entre salvar a vida de Harvey ou de sua amada Rachel? E mesmo o Morcegão se encaixa nesta frase, uma vez que ele, no fim do filme, se coloca, com a ajuda do Comissário Gordon, como o vilão da história. E tudo pelo bem de sua amada Gotham! Que fofinho.
O foreshadowing indireto e a arma de Chekhov
O foreshadowing também pode ser executado de maneira indireta. Mais sutil, essa forma de foreshadowing se concentra em detalhes, objetos, roupas etc., sempre passando sua mensagem, mas de maneira bem discreta. Difere dos famosos easter eggs por carregarem significado real para a trama, não se resumindo a referências à cultura pop ou piadas que somente o fandom entende, por exemplo. O foreshadowing indireto preza tanto pela inserção em detalhes que, muitas vezes, só conseguimos notá-los em retrospectiva, após o fim da produção ou mesmo após assistir a obra novamente.
Aí que entra a chamada arma de Chekhov. Creditada ao dramaturgo russo do século XIX Anton Chekhov, o princípio diz que tudo em uma história deve ser relevante, com tudo aquilo que for desnecessário sendo descartado. Apesar da palavra arma, esse recurso não se restringe apenas a armas de fogo ou objetos que possam ser usados para infringir dano à outras pessoas. Basicamente qualquer coisa pode ser usada como uma arma de Chekhov, desde que tenha relevância para a história e não apareça somente uma vez (apesar de este último ponto não ser uma regra).
Três coisas que devemos prestar atenção nas armas de Chekhov são: a visibilidade e destaque dados a ela (se aparece em close ou repetidas vezes, por exemplo); se a arma de Chekhov em questão, ao ser apresentada, afeta a trama de forma imediata ou de maneira tardia, em um momento futuro da história; e se a importância desta para os acontecimentos da história é clara desde o início ou se a audiência terá de esperar um pouco para saber a relevância da arma. Como o foreshadowing indireto é realizado a partir de detalhes, a arma de Chekhov pode ser vista como um ótimo exemplo desse tipo de prenuncio. Legal, né? 🙂
Por hoje é só, pessoal. Nos vemos na próxima semana, nesta mesma coluna e nesta mesma rádio, que é do seu jeito, do seu gosto. Bye bye.