Saudações, juventude nacional. Como estamos nesta semana? Mais uma semana, e mais um texto fresquinho para vocês. Esta semana vamos falar do MacGuffin, uma das ferramentas mais importantes na contação de histórias do cinema e como ele é visto de maneira distinta por dois dos maiores nomes da história da indústria: o inesquecível Alfred Hitchcock e o glorioso George Lucas. Sem mais delongas, bora para o texto.
Lembrete: senta que lá vem (um montão de) spoilers.
O que é o MacGuffin… segundo Alfred Hitchcock
Não resta dúvida de que o MacGuffin é uma das ferramentas mais conhecidas do cinema, mas do que se trata essa ferramenta? A resposta varia de acordo com a “linha de pensamento” que você segue. O conceito “original” do MacGuffin é comumente associado ao lendário cineasta Alfred Hitchcock, ainda que tenha sido o roteirista Angus MacPhail, que trabalhou com Hitchcock em algumas oportunidades, quem, de fato, criou esse termo.
Segundo a ideia original, um MacGuffin é um objeto de desejo qualquer dos personagens em uma trama, tendo, contudo, importância baixa ou nula para a história e para a audiência, a ponto de poder ser substituído por qualquer outro objeto de desejo, desde que este seja tão almejado quanto o primeiro.
Um pouco confuso, certo? Permita-me tentar explicar melhor: MacGuffin é qualquer coisa (um objeto, uma quantia em dinheiro, um par de sapatos, um ideal etc.) que seja desejada pelos personagens de uma obra, a ponto de fazer com que a história se desenrole e se desenvolva por causa do desejo que ele causa. O MacGuffin em si, porém, pouco importa. O que faz diferença é o esforço que os personagens farão para consegui-lo. O MacGuffin é, segundo a ideia original, tão insignificante em si mesmo que ele poderia ser trocado por qualquer outra coisa desde que essa segunda coisa também fosse desejada pelos personagens e também movesse a história para frente, gerando as aventuras perseguições, conflitos e qualquer outro evento no caminho.
Vamos citar um exemplo: no filme Psicose, a personagem Marion Crane foge com 40 mil dólares de seu chefe com o objetivo de se casar com Sam, seu namorado, e começar uma nova vida. A fuga, porém, se dá sob forte chuva, o que faz Marion parar em um velho hotel. No local, Marion é assassinada no chuveiro pelo proprietário, Norman Bates, em uma das cenas mais icônicas do cinema. Após isso, Sam e Lila, irmã de Marion, começam a procurá-la, o que os leva ao bizarro “mundo” de Bates.
O dinheiro serviu para levar Marion Crane até Bates, mas este não é o ponto mais importante para a história ou para a audiência. Além disso, o dinheiro poderia ser substituído por outros objetos de desejo (como joias ou uma barra de ouro, por exemplo) e, ainda assim, a história poderia se desenvolver da mesma maneira.
Pronto. Para Alfred Hitchcock, o MacGuffin é isso: algo que move a história, mas que não é o ponto central desta, não possui valor algum por si mesmo no que diz respeito ao filme e que não gera um interesse maior nos espectadores. Segundo Hitchcock, o MacGuffin “não é absolutamente nada”.
O que é um MacGuffin… segundo George Lucas
Regras foram feitas para serem quebradas (menos a regra que diz que a coxinha deve ser consumida a partir da “bundinha”, essa é inegociável). Anos após Hitchcock e sua visão inicial de MacGuffin, vemos uma subversão ao conceito com um dos maiores cineastas das últimas décadas e um dos maiores filmes de todos os tempos.
George Lucas, uma das mentes por trás de franquias como Star Wars e Indiana Jones, possuía uma visão diferente sobre de Hitchcock sobre o MacGuffin. Para Lucas, um MacGuffin não servia apenas para mover a história para frente, mas também devia ser algo realmente relevante em si, não podendo ser substituído por nada similar.
Em uma das obras-primas de Lucas, Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança, vemos a forma como o cineasta enxerga o MacGuffin. O simpático droide R2-D2 foi o responsável por carregar os planos que os rebeldes usaram para destruir a Estrela da Morte, transformando-o, segundo o próprio George Lucas, em um MacGuffin. De acordo com o diretor, R2-D2 “é a principal força motriz do filme” e tudo isso graças aos planos que ele carrega. Esses planos, ao contrário do que vemos nos filmes de Alfred Hitchcock, nunca perdem sua importância para a trama ou para os espectadores e não poderiam ser substituídos por qualquer outra coisa.
Se para Hitchcock o MacGuffin “não era nada”, para George Lucas ele pode ser a diferença entre a vitória da Aliança Rebelde e o triunfo do Império.
O MacGuffin no mundo dos animes
Certamente existem inúmeros momentos nos quais o MacGuffin, em qualquer uma de suas duas formas, foi utilizado em animes, filmes e séries japoneses. Porém, no momento em que este artigo está sendo publicado, faz apenas alguns dias desde que o anime de Naruto comemorou 20 anos desde sua estreia na TV japonesa (parabéns, ninja loiro!). Dessa forma, vamos dar uma olhadinha em um exemplo de MacGuffin presente desde a fase “clássica” de Naruto.
Lembram-se da forma como Orochimaru era, durante boa parte do anime, obcecado por Sasuke? Corpinho jovem, sangue Uchiha… O cara tinha um crush enorme no rapaz. Lembram também como a galera de Konoha, principalmente Naruto, queria a todo custo ajudar Sasuke e que isso rendeu vários e vários momentos para a obra? Pois bem, o Sasuke era como um “MacGuffin vivo”.
Sasuke era um “objeto de desejo”; a tentativa de Naruto e dos outros ninjas de reaver seu companheiro moveu a história, e Sasuke era relevante em si, não tendo valor apenas para a história e para os personagens, mas também para os fãs. Sasuke, portanto, reunia características típicas de um MacGuffin. Dito isso, vocês conseguem responder qual tipo de MacGuffin, de Hitchcock ou de George Lucas, Sasuke era? Vou dar um tempinho para vocês pensarem. Tic tac, tic tac… Pronto? Acertou quem respondeu “George Lucas”. No fim das contas, os Uchiha e os Jedi têm bastante coisa em comum. Dattebayo!
Por hoje é só, pessoal. Espero que tenham gostado. Nos vemos na próxima semana, nesta mesma coluna e nesta mesma rádio, que é do seu jeito, do seu gosto. Bye bye.