Saudações, leitores. Como estão? Mais uma quarta-feira e mais um texto aqui na Takagi Showcase. Antes de entrarmos no assunto de hoje, aqui vai uma pergunta: já ouviram a frase “quem tem boca vai a Roma”? Ela nos será bem útil hoje, começando pelo fato de que o correto é vai a Roma, se utilizando do verbo ir, e não vaia Roma, lançando mão do verbo vaiar. Curioso, não? Mas essa frase nos é útil para o texto desta semana porque transmite uma ideia muito interessante: a ausência do medo e do receio de se expressar e se comunicar (geralmente) gera bons frutos, sendo o oposto tão verdadeiro quanto. Sem mais delongas, bora para o tema da semana. Ah, e antes que eu esqueça: cuidado que lá vem spoiler! Se preferirem, assistam o anime antes de ler o texto a seguir, vai ajudar a compreender as cenas descritas.

O curta

Para quem não conhece a obra que vamos usar como base para nosso papo semanal, aqui vai uma breve introdução: Socorro! Me transformei em um Gengar! é um curta-metragem que se passa no universo Pokémon e faz parte da série Pokétoons, composta por oito episódios e disponível na Pokémon TV (site ou app) e no YouTube.

No episódio em questão, acompanhamos Shōko (ou Luísa, na versão em português) e seus colegas de classe testando sua coragem ao se aventurarem na chamada Escadarias Assombradas do Crepúsculo, local de sua escola que, supostamente, dá acesso ao Mundo das Trevas. Quem ousar entrar neste local sombrio será transformado em um fantasma. Movido pelo espírito aventureiro infantil, as crianças se dirigem até o local, sendo Shōko aquela que tem o “prazer” de se dirigir (in)voluntariamente ao local misterioso, fazendo com que ela e seus amigos vivam grandes aventuras.

Situações complicadas

O anime gira em torno de três grandes temas: o poder da amizade, trabalho em equipe e, principalmente, a necessidade de comunicarmos aos outros o que sentimos e precisamos. Isso se mostra presente em Shōko desde o começo da obra, enquanto ela e seus amigos ainda estão na sala de aula, se preparando para irem para casa após o período escolar. Enquanto a maior parte das crianças estão conversando sobre as Escadas Assombradas do Crepúsculo, Shōko está longe, em sua cadeira. O Gengar que lá habita (sim, realmente existem alguns Pokémon no local, o que alimenta as histórias horripilantes), após uma de suas travessuras, faz com que os meninos pensem que Shōko está se candidatando à aventura. Após o ocorrido, Shōko se cala. Ela não diz que aquilo era só um mal-entendido, o que faz com que ela vá ao local mal-assombrado com o resto da turma, mesmo contra sua vontade.

O Gengar que habita a escola puxa o pingente do celular de Shōko para cima. Ao levantar a mão para pegá-lo, ela derruba a cadeira da sala, chamando atenção de seus colegas e fazendo-os verem-na nessa posição, o que os fez pensar que ela também queria ir às escadarias.

Já nas escadarias ao pôr do Sol, a turma se mostra com medo de prosseguir. Após mais uma aparição de Gengar, Shōko se espanta. As crianças interpretam a reação da garota como um sinal de que ela aceita ir ao local. Shōko outra vez se cala. Mediante esse silêncio, Shōko se vê, novamente, em uma situação onde não queria estar.

O Gengar da escola aparece na escada, onde somente Shōko o vê. A garota se espanta e levanta as mãos, fazendo com que as demais crianças, que estavam superamedrontadas, pensem que ela está se candidatando a explorar o local desconhecido.

Shoko entra no tal “reino das trevas”, se transformando temporariamente em um Gengar (de vestidinho). Ela faz contato tanto com o Gengar que já estava lá quanto com outros Pokémon, como uma Misdreavus, um Drifloon e três Dreepy. Assustada no começo, Shōko pede para que os Pokémon se afastem dela. Alguns momentos depois, com medo de ficar sozinha, ela se arrepende e pede para eles voltarem – o que os Pokémon prontamente fazem. Os monstrinhos danados, então, decidem assustar as outras crianças, algo que Shōko se mostra relutante em fazer. É neste momento que o Gengar original diz algo que evidencia a necessidade de Shōko de pôr para fora o que ela sente.

Gengar é cirúrgico ao falar para Shōko se abrir e expor o que ela quer.

Após os Pokémon pregarem peças nas crianças durante toda a madrugada, o sol nasce. Neste momento, uma misteriosa “gosma” roxa começa a cobrir toda a escola. Gengar diz à Shōko que ela deve sair imediatamente da escola pelo portão principal ou, caso seja pega pela substância, ficará presa na escola para sempre. Com a ajuda dos Pokémon, a menina consegue sair a tempo, o que não ocorre com seus amigos. Enquanto eles tentam correr para o portão, o chão cede, fazendo com que o Gengar original tenha de intervir. Ele lança sua língua e consegue segurar a turma.

Gengar dá uma mãozinha (ou uma linguinha) para os amigos de Shōko.

As crianças, porém, são muito pesadas para o pobre Gengar e, pouco antes de o Pokémon sucumbir, Shōko o agarra e ajuda a segurar o pessoal. A garotada, contudo, ainda é pesada demais, sendo que agora eles começam a escorregar da língua de Gengar, onde eles estavam agarrados. Shōko olha ao redor e vê os demais Pokémon com medo. Ela pensa em pedir-lhes ajuda, mas hesita. Após ver a iminente morte de seus amigos (e após um oportuno flashback no qual Gengar a diz: “você consegue, Shōko”), a menina finalmente faz o que deixou de fazer em todo o anime: ela toma coragem para dizer o que sente e precisa. Com um grito estridente, Shōko chama os demais Pokémon para ajudar.

Shōko, com um grande pedido de ajuda, finalmente expõe o que sente e o que precisa.

Com um grande trabalho em equipe, eles conseguem tirar as crianças daquela situação e impedir que algo de pior lhes aconteça. Com tudo resolvido, Shōko e seus amigos se despedem de Gengar e sua trupe.

Shōko e seus amigos comemoram junto com os Pokémon.

Shōko e a necessidade de nos expressarmos

Ao longo do curta, nos deparamos com quatro momentos cruciais para entender a mensagem da obra: quando as crianças pensam que Shōko está se disponibilizando a ir às escadarias, quando Shōko adentra, involuntariamente, o “mundo das trevas”, quando Gengar diz para Shōko verbalizar o que deseja e o momento do resgate da criançada.

Shōko se meteu em todas aquelas enrascadas por guardar para si o que sentia e pensava. Se não fosse assim, ela não teria ido com seus colegas à escadaria nem teria ido àquele novo cenário. Isso mostra o quanto é importante não escondermos o que precisamos, mas nos expressarmos e nos comunicarmos aos outros. Ainda que possa ser difícil em alguns casos, deixar claro o que sentimos, acreditamos e necessitamos pode nos garantir mais transparência e tranquilidade em relação aos nossos relacionamentos interpessoais e dia a dia. Sermos francos sobre nós mesmos é positivo tanto para a gente quanto para aqueles que convivem conosco.

Por fim, é interessante notar como a mudança de Shōko parece ter alterado positivamente sua relação com as outras crianças. Em um primeiro momento, antes de aprender a se expressar, Shoko está distante de seus amigos, como se naquele estágio, no qual a menina ainda não havia superado suas dificuldades, ela não fosse tão próxima a eles, justamente por causa daquilo que ela precisava aprender. No final, após todos aqueles momentos vibrantes e de aprendizado, os alunos são mostrados indo juntos para casa após mais um dia de aula.

Shōko e seus amigos, mais unidos do que nunca, voltam para casa após a aula.

Antes de concluirmos, um lembrete: “Socorro! Me transformei em um Gengar!” é uma obra com uma mensagem moralizante, ou seja, que pretende passar uma lição geralmente e comumente aceita como válida e positiva. A aplicabilidade dessa lição pode variar de acordo com inúmeros fatores, como contexto específico, background cultural daqueles que recebem essa mensagem etc. O intuito do texto não é necessariamente validar ou não, de maneira definitiva ou parcial, o conteúdo passado. Ou seja, por mais que a ideia passada possa ser considerada válida por algumas pessoas (inclusive eu), cabe a cada um decidir o quanto isso se aplica para si mesmo. Feshow? Então é nóis! 😁


Por hoje é só, meu queridos. Espero que tenham gostado e que tenha ficado bem claro a todos. Nos vemos na próxima semana, nesta mesma coluna e nesta mesma rádio, que é do seu jeito, do seu gosto. Bye bye.