Vários países ocidentais e orientais possuem laços históricos notáveis. A cultura brasileira, por exemplo, recebeu influência direta dos migrantes nipônicos e seus descendentes. Há também muitas e grandes diferenças entre os dois lados do Meridiano de Greenwich, desde itens culturais clássicos como música, vestuário e gastronomia até a forma de se relacionar ou de se comunicar.

E já que falamos da Terra do Sol Nascente, por que não mencionar algumas diferenças entre personagens de animes e personagens de obras ocidentais no que diz respeito à chamada “caracterização de personagens”? É justamente sobre isso que vamos conversar um pouquinho hoje.

O que é caracterização e qual sua função em uma história

Antes de comentarmos sobre a caracterização de personagens e as diferenças entre o Japão e o Ocidente no que toca esse assunto, vamos entender justamente do que se trata essa “caracterização”. Ok, eu sei que essa palavra pode ser meio estranha, mas garanto que você já reparou nisso e nem se deu conta. A caracterização nada mais é que a soma de todas as qualidades observáveis de um ser humano como QI, estilo de fala e gestos; escolhas de casa, carro e roupas e assim por diante.

E essa tal caracterização tem uma finalidade prática nas histórias. A função de um personagem, dentre outras, é trazer para a história as qualidades de caracterização necessárias para representar de forma convincente as escolhas. Cada personagem deve trazer para a história a combinação de qualidades que permite ao público acreditar que o personagem poderia e faria o que faz.

Ou seja, as atitudes de um personagem se tornam convincentes para nós, espectadores, se elas condizem com a caracterização deste, seja personalidade, atributos físicos ou idade.

Há uma diferença notável entre o Ocidente e o Japão no que diz respeito à escolha da idade de seus protagonistas. Com certeza existem exceções de ambos os lados, vide o adolescente nova-iorquino Peter Parker e o nosso amado “Careca de Capa”, Saitama, de One-Punch Man, com seus vinte e poucos anos. Grande parte dos personagens dos nossos animes favoritos são, porém, bem jovens. E muitos dos heróis ocidentais são pessoas mais velhas. E o porquê disso tudo reside justamente nas diferenças culturais entre ocidente e Japão.

A caracterização no Japão

No Ocidente, nós temos a ideia de que é mais acreditável, enquanto herói, uma pessoa mais velha e experiente, até mesmo alguém que seja profissional em seu heroísmo. Em terras japonesas, no entanto, é um pouco diferente. Heróis mais velhos como Superman ou Batman não encontram problemas para serem aceitos, inclusive existem vários personagens, em animes e mangás, que possuem caracterização similar, tais como Gokū (a partir de Dragon Ball Z) e Kenshirō, de Hokuto no Ken. No Japão, porém, ao contrário do que acontece no Ocidente, a ocorrência de protagonistas pré-adolescentes e adolescentes é notável, especialmente em obras shōnen e shōjo (ainda que isso não se restrinja a elas).

De Ichigo Kurosaki a Sakura Kinomoto, passando por Yuri Nakamura, Haruhi Suzumiya e Ash Ketchum (o rapaz que tem dez anos há mais de duas décadas), os exemplos são abundantes. Alguns, como o próprio Ichigo, chegam ao final de sua história com uma idade mais avançada, mas, ainda assim, podemos incluí-lo justamente por ter iniciado sua jornada na adolescência.

O motivo disso está na forma como os japoneses veem a juventude.

A juventude no Japão

Apesar de algumas mudanças nesse panorama ao longo dos anos, o adulto japonês geralmente passa a maior parte ou a integridade de sua vida profissional em uma mesma área de atuação. Além disso, os japoneses possuem uma extensa carga horária de trabalho, muito em decorrência de incontáveis horas extras. Isso tudo faz com que a vida de um adulto no Japão não seja exatamente a coisa mais animada e empolgante do mundo.

Por outro lado, os adolescentes possuem uma vida mais “leve” e ainda não tão “engessada”, sendo, portanto, modelos melhores para protagonistas em seus mundos cheios de ação e aventuras. A juventude se torna, então, um “prato cheio” para que os autores expressem suas idéias e deem vida às mais diversas histórias.


Por hoje é só, galera. Muito obrigado pela atenção e paciência. Até a próxima.