Algumas marcas são tão boas no que fazem que acabam se tornando sinônimos dos produtos que comercializam. De amido de milho a hastes flexíveis com algodão nas pontas, os exemplos são abundantes. No campo do entretenimento, as coisas não são diferentes, com empresas se tornando referência em seu segmento e sendo sempre citadas quando sua área de atuação é objeto de debate. Uma dessas empresas é justamente o nosso querido Studio Ghibli, nome definitivo quando falamos de animação 2D. E, dentre o vasto e riquíssimo acervo de animações do estúdio japonês, algumas obras se destacam, tais como Túmulo dos Vagalumes, Princesa Mononoke e, acima de todos, A Viagem de Chihiro.

A Viagem de Chihiro é um dos melhores filmes do século não apenas entre as animações, mas também entre os live-actions. Boa história, animação esplendorosa, design de personagens magnífico… Razões não faltam para elogiar o filme, mas um ponto interessante, porém pouco ressaltado, é como a obra inteligentemente mostra a mudança pela qual Chihiro passa através de um elemento específico do cenário: uma escadaria. Vamos olhar esse ponto com um pouco mais de atenção.

Sinopse

Chihiro é uma garota de 10 anos que descobre um mundo secreto de espíritos estranhos, criaturas e feitiçaria. Quando seus pais são misteriosamente transformados, ela deve recorrer à coragem que nunca soube que tinha para se libertar e devolver sua família ao mundo exterior.

Chihiro e as Escadas

Depois de ver seus pais transformados em porcos, a mimada e irritante Chihiro se vê imersa em um mundo para lá de estranho, mas é justamente esse mundo estranho que faz com que ela amadureça rapidamente.

Nesse novo cenário, Chihiro conhece Haku, seu principal aliado nesse novo mundo. Haku diz para Chihiro ir até a sala da caldeira e procurar um ser chamado Kamajī, a quem ela deveria pedir um emprego. Só que, para chegar até este lugar, era necessário descer um longo lance de escadas.

Na primeira vez em que desce as escadas, Chihiro o faz com imenso e notável medo. Seu pavor neste momento reflete uma personagem que ainda devia passar por uma profunda transformação a fim de conseguir sobreviver à nova realidade.

Aos poucos, Chihiro vai mudando e se habituando ao novo contexto. Isso faz com que aquela menina assustada dê lugar a uma moça “calejada” e capaz de lidar com situações que antes a fariam urinar nas calças só de pensar. E essa transformação toda fica clara quando analisamos as vezes em que Chihiro percorre a mesma escada do começo. Se na primeira vez ela desce com extremo medo, nas próximas vezes esse medo vai se esvaindo até que descer aquelas escadas se torna uma tarefa tão comum quanto cuidar de uma pousada para espíritos comandada por uma velhinha de cabeça gigante… ou beber um copo d’água. Quem não gosta de água? Bebam água!

Conclusão

Não, não foram as escadas que fizeram Chihiro mudar e crescer. Mas aquela longa escada às portas da sala de caldeira com uma criatura com vários braços e bigode saliente nos ajuda a ver como aquela mocinha chata do começo se transforma em uma pessoa madura e forte.

Por hoje é só isso, meus queridos leitores. Espero que tenham gostado. Nos vemos na próxima semana, nesta mesma coluna e nesta mesma rádio, que é do seu jeito, do seu gosto. Bye bye.