Primeiro navio japonês a… ops, navio errado :p

Yoo, voltamos com mais um Made in Ásia! Hoje não iremos falar de lendas, superstições ou animes, vamos conhecer um pouquinho sobre a vinda dos nossos queridos japoneses.

Mas por que você decidiu falar da imigração justamente hoje? Bem, no mês passado no dia 18 foi comemorado os 107 anos da imigração japonesa, e quando soube, fiquei com uma enorme vontade de escrever para vocês sobre esse tema, mas como eu estava um pouco sem tempo e ainda tinha a matéria do Dia dos Namorados na fila, só agora que pude fazer essa matéria.

Preparados? Peguem um lance, por que a viagem de hoje será um pouco longa e coloquem os cintos, pois hoje iremos seguir o trajeto do Kasato Maru.

 

Antes de partir

Família Ono Kobe.

Quando falamos viagem sempre nos recordamos da chegada, mas em todas as viagens sempre há fatos anteriores a essa, como a preparação da mala e a viagem em si, e muitas vezes nos esquecemos disso.

A data que falaremos hoje é comemorada exatamente na chegada dos imigrantes ao nosso país, mas não foi simplesmente eles pegarem suas malas, entrarem no primeiro navio e vir para cá. Houve vários fatores que influenciaram nessa viagem.

Durante dois séculos e meio o Japão foi governado pela família Tokugawa e sua sociedade era feudal com uma economia completamente estagnada (como eles plantavam somente o que consumiam) e com grande dependência da produção de arroz.

Nesses 265 anos, o tempo que durou o Período Edo (Xogunato Tokugawa), o Japão ficou praticamente isolado do resto mundo, não havia guerras, epidemias estrangeiras, mas também não houve desenvolvimento tecnológico e industrial.

Porém, tudo isso mudou com a queda da família Tokugawa, após a guerra civil que surgiu depois de revoltas da população japonesa, e com início da Era Meiji, em 1868.               

Colônia japonesa numa fazenda brasileira em 1930.

A Era Meiji foi marcada pela extrema modernização do Japão com os moldes ocidentais e, como em todos os países que se modernizaram, com essa veio junto com a mecanização agrária o que, consequentemente, desempregou milhares de camponeses e fez outras dezenas de pequenos produtores ficarem endividados.

Nos primeiros vinte anos dessa era, a aristocracia conseguiu ótimos cargos na nova estrutura política e a burguesia que surgia se enriqueceu com novos métodos industriais e financeiros. Entretanto, como esse desenvolvimento foi voltado somente para o Japão ser uma grande potência bélica, não criou-se projetos voltados às necessidades sociais, e a população camponesa, com impostos altíssimos e fome, viu-se obrigada a migrar-se para a cidade, ocasionando um grande êxodo rural.

Como o Japão era um país superpovoado e como todo mundo estava à procura de emprego para sustentar sua família na cidade, as oportunidades logo acabaram, fazendo o governo pensar em promover a emigração de parte da população.

A primeira emigração japonesa foi para a Austrália no ano de 1883 e a partir de 1885 o fluxo emigratório passou a receber importância. Entre outros países que aceitaram a imigração de japoneses estão o Estados Unidos (principalmente Havaí), o México e o Peru.

 

Arrumando as malas

Aula de português no convés do Kasatu Maru.

O grande marco da imigração japonesa no Brasil foi a chegada do Kasato Maru ao porto de Santos em São Paulo no dia 18 de junho de 1908. Mas antes do Kasato chegar às terras tupiniquins outros navios e barcos japoneses ancoraram por aqui.

Registros indicam que os primeiros japoneses a pisarem em solo brasileiro foram quatro tripulantes do navio Wakamiya Maru que afundou próximo à costa do Japão em 1804 e foram socorridos por um navio de guerra russo. Como esse não podia alterar sua rota os quatro japoneses foram juntos com os russos em sua viagem.

Mas esse navio russo teve que parar no porto de Desterro (atual Florianópolis – Santa Catarina) para ser consertado, e esses japoneses fizeram relatórios sobre a população e a agricultura do local.

Mas a primeira visita oficial à procura de um acordo diplomático e comercial ocorreu em 1880, quando o vice-almirante Artur Silveira da Mota (Barão de Jaceguai) foi à Tóquio e começou o Tratado da Amizade, Comércio e Navegação entre o Brasil e o Japão.

Cais de Santos, locomotiva KRAUSS.

Em 1894 o deputado Tadashi Nemoto veio até Brasil para visitar os estados da Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Durante sua viagem ele gostou de visitar os estados e ver a receptividade da população e a produção agrária desses, e enviou relatórios recomendando o Brasil como um país preparado para receber os imigrantes.

 

Mas por que o Brasil aceitou receber imigrantes?

Durante o século XIX o principal produto agrícola brasileiro era o café, e a cada ano que passava amentava-se a quantidade de fazendas com cafezais, o que demandava alta quantidade de mão de obra. E esse era o principal objetivo em trazer imigrantes para o país.

Porém, em 1897 houve uma crise de superprodução do café que durou até o ano de 1906, o que fez com que esse se desvalorizar e cancelar o embarque dos japoneses no que seria o primeiro navio a vir ao Brasil. O acordo inicial era levar ao Brasil cerca de três mil japoneses num período de três anos.

 

Decolando…

Kasatu Maru ancorado no porto de Santos.

E no dia 28 de abril de 1907, cerca de 780 imigrantes japoneses entraram no Kasatu Maru, aportando no Brasil 52 dias depois de ter saído do seu país de origem. Esses foram divididos entre seis fazendas, mas não ficaram por muito tempo nas mesmas, por terem costumes muito diferentes e por sofrerem preconceito.

Na época muitos burgueses brasileiros temiam o “perigo amarelo”, para eles os japoneses eram “raças” inferiores e a vinda deles atrapalharia o “branqueamento” da população.

A saída dos japoneses das fazendas, fez com que muitos desses procurassem terras para se tornarem proprietários, esses foram os primeiros a cultivarem algodão e muitas deles foram morar no noroeste de São Paulo.

Com os nossos amiguinhos de olhos puxados saindo constantemente das fazendas fazia com que mais imigrantes chegassem ao país. Em 1910 mais 906 trabalhadores chegam ao Brasil e foram divididos entre 17 fazendas paulistas. Em 1912 as famílias japonesas alcançam o Paraná. E em 1913 chegam 107 imigrantes com destino às minas de Minas Gerais.

Essa quantidade de imigrantes faz com que em 1914, o governo parasse de subsidiar a viagem de novos imigrantes diminuindo consideravelmente a quantidade de desses.

Os primeiros anos por aqui foram difíceis, aprender uma nova língua e conviver com costumes bem diferentes dos seus não é para qualquer um. Mas eles superaram as primeiras dificuldades e aos poucos foram conquistando lugares na nossa sociedade, se tornando no que são hoje.

 

…Pousando

A Hospedaria dos Imigrantes na cidade de Kobe.

Para quem não sabe, o Brasil é o segundo lugar no mundo que possui mais japonês. De acordo com o IBGE há cerca 1,5 milhão de descentes de japoneses no nosso país.

E a partir da década de 80 começou a ocorrer o contrário da imigração. Muitos japoneses e nikkeis (descendentes de japoneses) passaram a ir ao Japão em busca de melhor condição de vida e trabalho, esse processo foi denominado dekassegui.

Bom, nossa viagem fica por aqui, espero que tenham gostado. Esse tema é extenso e resolvi dar uma resumida para que não ficasse tão chato e ficasse fácil de entender. Agora é com vocês, deixem aí nos comentários o que acharam dessa matéria e se vocês teriam coragem de deixar o Brasil para se aventurar em outro país.

Até a próxima matéria. O/