A tática de gravar álbuns em diferentes idiomas é extremamente comum no mercado sul-coreano, seja em inglês, japonês ou chinês. Já foi adotada por grupos como SNSD, EXO e, dentre muitos outros, pela cantora BoA. Esta última acabou por fazer mais sucesso na Terra do Sol Nascente que em seu próprio país.

Agora, as que estão utilizando de tal tática mercadológica são as meninas do 2NE1. Após uma parceria com o rapper Will.i.am, algumas boas canções lançadas como single e um fraquíssimo e mal produzido álbum de inéditas para o mercado coreano – cuja resenha e comentários/xingamentos podem ser lidos aqui – que lhes deu um pequeno destaque internacional ao ingressar na parada do Itunes americano, o quarteto K-Pop resolveu caçar público na ilha vizinha.

Com uma versão nipônica do CD anterior, contendo algumas faixas diferentes, a empreitada parece estar sendo bem planejada, visto o videoclipe repleto de influências mangá e pitadas de fetiche Yuri lançado para a Crush, música que abre ambos os álbuns. Confesso que achei bem gostosa a cena da CL se esfregando numa cadeira com outras dançarinas, mas isso não salva a canção de ainda ser um dance óbvio, com exagero de elementos culturais.

E se Comeback Home é divertida e grudenta em sua pegada Trap, acústica ela novamente convence mais, de forma orgânica e permitindo as meninas uma interpretação vocal depressiva totalmente adequada. Entretanto, Gotta Be You ainda é igualmente fracassada ao tentar trazer um mid-tempo original.

Já balada If I Were You, uma das poucas realmente boas do trabalho anterior, continua contendo uma aura R&B/electopop bacaninha. Assim como a ótima e animadíssima Happy, que em japonês se assemelhou ainda mais a aberturas de anime, com um arranjo marcial um tanto viciante que só é meio atrapalhado pela bateria eletrônica alta demais.

Só que a grande surpresa desse novo trabalho foi a recuperada dos já citados singles lançados de forma individual. Aposto um prato feito pela redatora Bolinho que os produtores do grupo caíram em si um tempo depois de escutar o material final e notar que ele estava raso demais daquela forma.

Começando pela agitada Do You Love Me?, Park Bom e cia demonstram o quanto podem ser divertidas ao optar por um arranjo EDM menos coxinha e mais descompromissado. E em Falling Love, a melhor do álbum, é destacável a influência reggae com um refrão extremamente pegajoso e interessante. Por fim, a quase balada Missing You é totalmente recheada de bons efeitos, acompanhada de uma ótima guitarra e baixo, com a utilização correta de diferentes andamentos.

Infelizmente, é fácil voltar a realidade patife da superestimação do 2NE1 com a patética I Love You. Novamente, elas tentam se portar como meninas modernas, futuristas e vanguardistas, mas apenas acabam se afundando numa emulação do que há de mais entediante na música eletrônica europeia.

Nessa versão japa do álbum Crush, a girl band mostrou que talvez consiga juntar uma porção de boas faixas em um lugar só, que a tentativa de serem meninas más pode – um dia – se converter em boa música. Desde o debut, é o primeiro onde há mais coisa boa que ruim. Só que isso ainda é fraco demais se comparado a outras grandes bandas do K- ou do J-Pop.