J-Hero, você abriu… e nós viemos.
Originalmente publicada entre junho de 2002 e abril de 2003 como uma série na revista japonesa Comic Flapper, os Contos de Horror da Mimi foram logo compilados em um volume único, o Shin Mimibukuro.
Criado a partir de histórias reais coletadas e compiladas por Hirokatsu Kihara e Ichirō Nakayama, Junji Itō se fascinou pelas estranhezas apresentadas no livro e não pensou duas vezes quando obteve a oportunidade de transformar tais relatos em mangá.
No Brasil, foi traduzido por Jéssica Ilha da Silva e lançado em novembro de 2022 pela Darkside Books. Possuindo 248 páginas em folha offset e capa dura com detalhes em verniz, esta coletânea é ideal para os amantes do j-horror maiores de 18 anos.
A jovem Mimi parece não conseguir se desvencilhar dos estranhos eventos sobrenaturais que a cercam, testando até mesmo as crenças de seu cético namorado. Visitantes mortais, lápides misteriosas e visões improváveis espreitam as páginas desta assustadora coleção de histórias reais editadas pelo lendário Junji Itō.
Contos de Horror da Mimi, Darkside Books
Considerações gerais
Entre os contos curtos, nove são adaptações associados a Mimi, e o décimo e último acompanha Sakurai em O Boneco de Assombração. Nesta obra, conseguimos perceber um amadurecimento de Junji Itō como desenhista e mangaká quando comparamos as obras que ele se proclama “enferrujado”. Os desenhos que já eram surpreendentes se tornam aterrorizantes transmitindo toda dor, agonia e sentimentos ruins com maior impacto por serem mais críveis.
Além dos desenhos, a fluidez dos quadros, a utilização das páginas duplas e as viradas de página são impactantes e precisam de tempo para serem digeridas. A recriação dos desenhos é tão macabra e lembra contos que até nós brasileiros já ouvimos alguma vez. Fotos que expõem espíritos, histórias de cemitérios e suas vizinhanças e, claro, mortes tão terríveis que impedem que os espíritos descansem em paz.
No entanto, Contos de Horror da Mimi talvez não seja a melhor opção para um leitor iniciante nas obras de Itō ou em mangás de terror em geral, pois, apesar de ter as artes do mestre mangaká, os roteiros não são de sua autoria. Itō ainda incorpora um pouco de seu estilo de terror psicológico e social, mas as análises por trás do véu das histórias são sutis ou inexistentes. Não que não haja terror e momentos que geram a estranheza característica de Junji Itō, mas não é o ápice do seu trabalho.
Ler despretensiosamente irá estragar completamente a experiência entre reviver e cogitar as possibilidades da existência dos fenômenos retratados, e, portanto, é aconselhável ler aos poucos. Prestar atenção em todos os detalhes. Sentimentos transmitidos. Ok, precisamos desconsiderar que Mimi ainda continuaria sã e funcional após tantos acontecimentos sobrenaturais, mas isso não estraga a experiência dos contos lidos individualmente.
E vocês? Já leram a “nova” obra de Itō? Sentiram o calafrio esperado? Conseguiram entender algo nas entrelinhas?