Desenvolvido pela Vic Tokai e lançado para o Mega Drive em 1993, Battle Mania: Daiginjō é um shoot up vertical que estreou no console. Protagonizando o jogo estão as caçadoras solitárias Madson e Crystal (Mania Ōtorii e Maria Haneda, no original japonês). Ao longo da trama, cabe às caçadoras a tarefa de derrotar um culto secreto o qual possui intenções malignas e através do uso de tecnologia e magia negra tentam conquistar o Japão.
É possível destacar diversos pontos que fazem Battle Mania: Daiginjō ser um jogo incrível. A trilha sonora, a fluidez dos comandos, os gráficos, há vários itens que fazem deste jogo uma verdadeira caixinha de joias. Contudo, a presença de protagonistas mulheres, com toda a certeza, é um dos elementos mais interessantes de toda a obra.
Nas últimas décadas, a indústria dos jogos eletrônicos deu a luz a uma grande quantidade de histórias protagonizadas por mulheres. Muitas franquias de peso passaram a contar com heroínas no lugar de heróis em suas tramas, e outras mais vêm fortalecendo a ideia de igualdade de gênero, colaborando para o aumento da presença feminina em posições de destaque.
Esse movimento é o reflexo das grandes transformações ocorridas no Japão ao final do século XIX. Após a segunda guerra mundial, políticas contra a discriminação entre homens e mulheres foram somadas à nova constituição japonesa de 1946. Já com a conquista dos direitos de voto, divórcio, frequentar escolas e com a criminalização do tráfico de mulheres, a posição da figura feminina na sociedade passou a ser um símbolo de resistência e não mais de submissão.
No dia 8 de março de cada ano é comemorado o Kokusai Josei Day, o equivalente ao Dia Mundial da Mulher determinado pela Organização das Nações Unidas. A data homenageia todas as mulheres que vivem ou já vieram a viver no Japão, independentemente da crença, poder aquisitivo ou etnia.
Atualmente, a sociedade japonesa sofre com o forte conservadorismo. Ainda há grupos que compartilham pensamentos arcaicos e promovem atos de discriminação contra as mulheres até mesmo nas redes sociais. Mesmo assim, o combate ao machismo no Japão tem se fortalecido, e as novas gerações compreendem a problemática e o quanto a discriminação é um comportamento inaceitável e criminoso.
O mercado de jogos independentes também vem se opondo à discriminação, para isso vem dando espaço para jogos como Celeste (2018), Iconoclasts (2018) e Ocean Heart (2021), que possuem protagonistas mulheres.
Apesar de possuir uma história rasa e ser dotado de uma dificuldade um tanto quanto elevada, Battle Mania: Daiginjō é bastante divertido. Mais do um jogo, é um símbolo que coloca em xeque o argumento conservador e antiquado de que jogos protagonizados por personagens mulheres são desenvolvidos exclusivamente para meninas.