Oooi, pessoal, aqui é a Mell. Gostam ou já viram Kaichō wa Maid-Sama? Espero que sim, quem não viu, eu recomendo que assista. E que leia o mangá, porque ele também é maravilhoso. Mais uma vez, esta fanfic é em um universo alternativo, então sem spoilers. Enfim, espero que gostem!

Boa leitura :3


O som de uma porta batendo despertou Misaki.

Ela chegou a abrir os olhos, mas não teve vontade de levantar. Na verdade, preferia não ter acordado justo no momento que ele saiu de casa. Agora o lado esquerdo de sua cama estava vazio e provavelmente já tinha esfriado.

A morena não o viu chegando e se deitando ao seu lado e também não o viu se levantar e se trocar para ir para o trabalho. Já fazia meses que ela não conseguia sequer falar com o maldito sem que ambos acabassem discutindo.

Misaki fechou os olhos e sacudiu a cabeça.

Não, ela não choraria de novo tentando se lembrar de quando foi a última vez que o viu sorrindo ou rindo.

Se espreguiçando, a mulher rolou na cama até ficar de bruços e afundou a cara em seu travesseiro. A manhã estava fria, perfeita para se acomodar debaixo das cobertas e cochilar mais um pouco.

E ela realmente queria ter descansado um pouco mais, mas sua cabeça não deixou.

Nunca imaginou que sua vida ao lado de alguém como Usui pudesse se tornar tão angustiante e triste como estava agora.

Quando se conheceram, o loiro era compreensivo, atencioso e sempre a animava quando ela estava decepcionada com alguma coisa ou alguém.

Ele também a ajudou muito em uma das fases mais difíceis de sua vida: a volta de seu pai.

Misaki cresceu o odiando pelo tanto que fez sua mãe sofrer.

Algumas lembranças ruins a fizeram dar um sorriso amargo e carregado de ironia.

Em sua infância, Misaki sempre ouvia seus pais brigando. Na cozinha, na sala, no quarto deles… As discussões sempre eram feias e começavam sem nenhum motivo válido. E eles nunca conseguiam fazer as pazes, viviam se alfinetando na frente dela e de sua irmã mais nova. Sinceramente, ela não sabia como aguentaram tanto tempo juntos até seu pai sumir e deixar elas desamparadas. Em sua mente de criança, eles apenas demoraram para se separar porque ainda existia amor, mas conforme foi crescendo, ela duvidou que eles ainda sentissem algo um pelo outro. Talvez tivessem evitado se separar por causa das filhas.

Ela desconfiava que, mesmo se contassem o motivo, ela nunca acreditaria.

A ironia disso tudo é que Misaki costumava dizer que nunca seria como eles. Que se fosse para casar e ter aquele tipo de relacionamento, ela preferia ficar sozinha. Então Usui apareceu, extrovertido e bem-humorado, parecia ser o cara certo para ela. Parecia ser alguém que a valorizaria.

E, de fato, tanto no início de seu casamento quanto no de seu namoro, ele superou todas as suas expectativas. A morena inclusive chegou a pensar que ela não o merecia, pois ele sempre era muito bom com ela, não importando o quão ruim podia estar a situação deles.

Contudo, nos últimos meses, o Usui sorridente e alegre que ela conheceu sumiu. E no lugar dele veio um homem silencioso e estressado. E pior: ele começou a sair de casa durante noite para beber e esquecer as frustrações de seu dia, deixando Misaki sozinha.

E ela reconhecia que, graças a isso, ela também tinha mudado.

Tudo o que ele fazia agora a incomodava. Não suportava ficar no mesmo ambiente que ele por muito tempo sem começar uma discussão.

As lágrimas que ela tanto tentou conter escorreram por seu rosto contra a sua vontade.

Aquilo que ela mais temia tinha acontecido, eles eram iguais a seus pais. Ou talvez até fossem pior que eles, pois apesar de seu pai ter sido um babaca, ele não saía para beber com os amigos e deixava sua mãe sozinha. Já Usui… nem a abraçava mais.

Ela se pegou sentindo falta de quando eles se enrolavam em um edredom e assistam um filme juntos, quando cozinhavam conversando besteiras que sempre arrancavam risadas de ambos e das noites frias em que ele lhe abraçava na hora de dormir e aquecia o corpo e o coração dela.

Pelo menos agora, Misaki tinha certeza de uma coisa. Seus pais não eram heróis, eram tão humanos quanto ela.

E às vezes, deixar alguém ir era melhor do que continuar se machucando.

Ela se sentou na cama, chocada.

Deixar Usui ir? Ela seria capaz disso?

Fechou os olhos, lembrando-se dos ótimos momentos que tiveram antes dos dois se perderem nos problemas de seu dia a dia e deixarem isso afetar seu casamento.

Não era possível que o Usui que ela conheceu não estivesse mais lá. Então se separar dele não sequer uma opção.

Ela ainda o amava muito. E lutaria por esse amor ao invés de desistir logo na primeira dificuldade que apareceu.

Motivada a começar diferente aquele dia, ela finalmente se levantou.

Tomou seu precioso café da manhã, cozinhou seu almoço e à tarde dedicou para dar uma geral em sua sala e no quarto dela e de Usui.

O tempo todo, ela pôs em sua mente que não deveria ficar na defensiva quando ele chegasse. Muito menos reclamar de sua demora, como sempre fazia.

Tinha que ser diferente. Tinha que ser como era antes.

As horas passaram rápido, e a noite finalmente chegou. E com ela veio um Usui exausto e com alguns hematomas.

— Onde você se machucou assim? Você brigou?

Ela ficou tão preocupada que até se esqueceu de cumprimentá-lo alegremente igual tinha planejado.

— Não, apenas tive que ajudar a controlarem um paciente esquizofrênico lá no hospital. Estavam tentando sedá-lo, mas ele não parava quieto. Consegui esses machucados enquanto o segurava.

Usui teria ido direto para o quarto deles se Misaki não o tivesse parado. Ela fez com que ele a acompanhasse até a sala e o fez se sentar no sofá.

A cena a seguir foi engraçada para o loiro.

Ele era o médico ali, mas quem estava cuidando dele era Misaki.

— Deve estar doendo, seus braços estão bem vermelhos. Por acaso as unhas do paciente eram longas?

— Era uma mulher, tinha unhas bem grandes.

Misaki ficou parada, olha pra ele sem reação. Então o loiro voltou a falar.

— Sei que parece muito suspeito eu chegar aqui com esses arranhões horríveis, mas pense que, se eu tivesse a intenção de trair você, não seria com alguém que estava quase arrancando a minha pele fora.

Ela soltou uma risada baixa, pegando o loiro de surpresa.

— O que foi? Eu fiz algo estranho? — Misaki perguntou, ao ver que dessa vez quem estava sem saber o que dizer ou fazer era ele.

— Já fazia muito tempo que eu não te via rir. Tinha me esquecido do quanto isso pode me acalmar quando não estou bem.

Ficando com o rosto vermelho, Misaki continuou a cuidar de suas feridas até que parassem de sangrar e ficassem com uma aparência menos assustadora.

— Pronto. Agora vamos comer algo e ir dormir. Você precisa descansar.

— Ah… Na verdade eu queria sair e — ele mesmo se interrompeu ao ouvir um soluço.

Quando a olhou, ela estava chorando. E tentava a todo custo limpar as lágrimas com as mãos, mas sempre escorriam mais, ela não conseguia parar.

— Amor… — ele deixou escapar. Aquela cena partiu seu coração. Suas mãos afastaram a dela e seguraram seu rosto. Como ela estava ajoelhada no chão, foi preciso erguer seu rosto para fazer com a que a moreno o encarasse — Ei, o que foi? Por que você está chorando?

— P-porque você vai me deixar sozinha de novo… — respondeu entre os soluços — Eu sei que não tenho sido um bom exemplo de esposa, mas o que fiz para merecer isso? Eu não casei com você para viver sozinha nessa casa enorme. Se não é para te ter ao meu lado, que sentido tem eu estar aqui? Já passei semanas sem sequer ver seu rosto…

— Misaki… — perplexo, Usui a puxou com delicadeza para um abraço, que pegou a morena de surpresa.

Fazia tanto tempo que ela não ficava entre seus braços daquele jeito, a saudade era tão grande que só a fez chorar mais, mas ela ao menos foi capaz de envolver o corpo dele com as mãos trêmulas para retribuir o gesto de carinho.

— Me desculpe, me desculpe… — ele repetiu várias e várias vezes, até ela se acalmar. Algumas vezes chegou a beijar sua testa ou afagar seus cabelos. E só quando ela tinha parado de soluçar ele começou a dizer o que estava preso em sua garganta — Meu trabalho tem exigido muito de mim. E eu não sabia como contar isso, estava muito frustrado e irritado com tudo, não queria descontar em você nem te assustar. Me desculpe… Eu não vou mais sair para beber. Eu vou ficar com você.

As mãos dele ainda seguravam seu rosto, deixando-a com o coração em pedaços.

— Fique, mas por favor, me conte quando seu dia for ruim. Eu não quero estar com você apenas nos momentos bons, nos ruins também. Sou sua mulher, não sou? Eu preciso saber quando algo está te incomodando. É meu dever cuidar de você quando isso acontecer.

Ele parecia ter se emocionado ao ouvir aquilo, pois escondeu o rosto em um dos ombros dela.

— Pensei que você não quisesse saber, você andava tão irritada e distante… Agora entendo que isso é minha culpa. Por favor, me perdoe.

— Também preciso me desculpar, eu deveria ter dito logo que queria saber o que estava acontecendo contigo e não discutido com você. Me desculpe…

— Agora está tudo bem. Não se preocupe com isso.

Ela sorriu e fez Usui olhar pra ela, segurando seu rosto.

— Já que já resolvemos isso, o que acha de jantar comigo? Sinto falta da sua companhia…

— Acho uma ótima ideia.

O sorriso dela aumentou. Seu peito se encheu de alegria e tudo o que ela conseguiu fazer foi beijá-lo antes de se levantar e ambos irem até a cozinha.

Pela primeira vez, depois de longos meses, o Usui que ela amava tinha voltado. E ela não o perderia de vista novamente.