Ontem os fãs de Isao Takahata se reuniram num choro uníssono após o anúncio de sua morte, aos 82 anos, em Tóquio no Japão. A notícia rapidamente rodou o mundo e despertou diversas homenagens feitas nas mais diversas plataformas e formatos.

A jornalista Rafaelle Duchemin, da Rádio Europe 01 da França, em seu boletim matinal comentou sobre a perda sofrida pela comunidade mundial de amantes do Cinema de Animação. Em suas palavras ela apresentou Isao Takahata como o mais “francófilo dos diretores japoneses” e foi enfática ao declarar que o animador deixou um “legado considerável cuja obra-prima é o filme Túmulo dos Vagalumes”.

Em nota, a jornalista lembrou os ouvintes sobre a forma “particular que o filme toca pela força das sensações que insufla Takahata”. Ela lembrou também que essa influência vem do fato de o diretor e animador ter sentido as dores da Segunda Guerra Mundial.

Sobre a filmografia de Isao Takahata ela ainda chamou a atenção para seu trabalho como co-produtor em películas como O Príncipe do Sol: a grande aventura de Hórus (1968), seu primeiro trabalho como diretor e As aventuras de Panda e seus amigos (1972), um média-metragem que trouxe o primeiro roteiro integral de Hayao Miyazaki e foi o pontapé para uma parceria longeva.

A pequena nota das jornalistas francesa no rádio europeu é só um dos muitos motivos para que se possa comprovar a importância de Isao Takahata para a história do Cinema de Animação do século XX.

(Trecho do programa matinal na Rádio Europe 1, na França)

 

Nascido em 1935, na Cidade de Ise, Isao Takahata formou-se em Literatura Francesa pela Universidade de Tóquio e reuniu seu conhecimento pela literatura ocidental para nos presentear com filmes que dialogavam entre adaptações de obras estrangeiras como Marco (1976) inspirado na publicação infantil “Cuore” de Edmondo de Amicis ou mesmo em animações para TV como Heidi (1974), inspirado no livro homônimo da suíça Johanna Spyri e Ana dos Cabelos Ruivos (1979) inspirado no livro Ana das Pontas Verdes da canadense Lucy Maud Montgomery.

Com seu repertório folclórico do menino do interior tivemos filmes como Pom Poko (1994) e sua representatividade destaque para os tanukis, famosa figura do imaginário nipônico, e O Conto da Princesa Kaguya (2013) o seu último trabalho como diretor.

A obra de Isao Takahata é das mais completas e simbólicas para diversos apreciadores de arte e o luto que fica é de muito respeito e a sensação de perda de um dos nomes com grande presença e conteúdo já imortalizado.

Entre os prêmios alcançados na carreira destaque para o do Festival de Cinema Infantil de Chicago (Estados Unidos), Festival de Cinema de Animação de Annecy (França), a Ordem das Artes e das Letras (França) e o Leopardo de Honra do Festival de Filmes de Locarno (Suíça). Faltou-lhe o Oscar de Melhor Animação, concorrido em 2015 com seu último trabalho.

 

(Isao Takahata e Yoshiaki Nishimura na Cerimônia do Oscar 2015 / Fonte: Oscar)

 

Para a indústria de animação japonesa sua contribuição foi de extrema importância. Sua linguagem, abordagem e estética ajudaram a condicionar muitos diretores que lhe sucederam e também fez o contraponto – em muitos momentos – contra a dinâmica compulsiva imposta pelos grandes estúdios ou pela onda cultural do momento. Um exemplo é a série de TV Heidi, que foi fenômeno de crítica ao confrontar as animações do gênero mecha que davam seus passos de sucesso na década de 1970.

O estilo narrativo e estético-visual aplicado por Isao Takahata junto com seus amigos Hayao Miyazaki e Yasou Otsuka mudaram a forma de se encarar a animação japonesa pelos olhos dos estrangeiros. Antes vista apenas como uma linguagem de mercado e de formas e contextos baratos, o diretor e fundador do Studio Ghibli contribuiu com a mudança de status que a mídia sofreu passando a ser considerada arte dentro de um segmento cultural que voltava-se quase que exclusivamente para fins lucrativos.

Isao Takahata sempre inovou em sua dinâmica de trabalho. Mesmo que por muitas vezes em segundo plano (co-produzindo filmes de seus conhecidos) ele foi o responsável por moldar um modelo cinematográfico para a animação respeitado e copiado pelo mundo inteiro. 

Fica nossa homenagem com a lembrança de que graças a ele e seus esforços o Cinema de Animação japonês floreceu para algo mais dialético e profundo, reflexivo.

Isao Takahata… Sayonara!