Um dos aspectos que tornam os filmes animados feitos no Japão tão memoráveis é que eles têm o poder de captar bem a essência do país. Apesar do uso frequente da fantasia como tema principal, esses filmes proporcionam uma visão autêntica do modo de vida japonês, em que o respeito pela natureza, as relações familiares e o equilíbrio entre o espiritual e o material estão no centro de muitas tramas.

Outro ponto importante é que essas histórias são ricas em simbolismos que recordam a história e a filosofia do Japão, transmitindo assim uma imersão não apenas no enredo, mas principalmente na alma do estilo de vida dos japoneses.

O cotidiano japonês nas animações

Um dos elementos principais das longas-metragens animadas do Japão é a representação da vida cotidiana. Mesmo em filmes com forte apelo à fantasia, como A Viagem de Chihiro (2001) ou Viagem Para Agartha (2011), o modo como o dia a dia dos personagens discorre é retratado de um modo bem fiel à realidade.

Por exemplo, ainda falando sobre A Viagem de Chihiro, enquanto a história se desenrola em um mundo mágico, muitos detalhes do comportamento de Chihiro e dos personagens com quem ela interage deixam bem claro os valores sociais do Japão. O respeito pelos superiores, a ética do trabalho e a disciplina são temas que, embora universais, ganham uma conotação especial quando observados através da lente da cultura japonesa.

Além disso, filmes como O Castelo Animado e O Serviço de Entregas da Kiki unem o comum com o fantástico, em que personagens realizam tarefas simples, como cuidar da casa ou administrar um negócio, mas em meio a situações mágicas e surreais.

Espiritualidade e tradição

Alguns filmes animados japoneses exploram a espiritualidade e as tradições religiosas do país, representando elementos que fazem parte do aparato cultural do povo japonês. O Conto da Princesa Kaguya, por exemplo, baseado em um conto folclórico japonês, destaca a importância da aceitação do destino e do ciclo natural da vida. A animação consegue juntar temas como a curta duração da existência e a beleza encontrada na simplicidade, conceitos profundamente presentes no zen-budismo e em outras filosofias japonesas.

Simbolismos e estética

A estética visual dos filmes animados japoneses também é uma poderosa forma de capturar a essência do país. O uso das cores, detalhes na arquitetura e a precisão com que as paisagens japonesas são desenhadas passam mais do que apenas beleza. Elas são uma janela para a cultura visual do Japão, onde cada elemento carrega um simbolismo.

O trabalho do Studio Ghibli, em particular, é um ótimo exemplo de como a estética desempenha um papel fundamental na construção de uma narrativa que reflete a essência japonesa. No entanto, outros estúdios também não pecam quando o assunto é qualidade visual. Cito como um segundo exemplo o estúdio Kyoto Animation, mas também há outros.

Cada frame é cuidadosamente elaborado para evocar sentimentos de nostalgia, contemplação e conexão com o mundo ao redor. Esse detalhismo é uma marca da cultura japonesa, em que o visual em si é uma mensagem também.

Conclusão

Mesmo que os filmes animados japoneses sejam, em sua maioria, fictícios, eles oferecem ao público uma visão autêntica da cultura, dos valores e da essência do Japão. Através da fantasia, esses filmes conseguem refletir aspectos profundos da sociedade japonesa.

Essas obras, além de seu apelo artístico, funcionam como uma porta de entrada para o entendimento de um país complexo e rico em tradições, mostrando que a ficção, quando bem feita, pode ser uma verdadeira homenagem à realidade.