Dorameiros de plantão, hoje não um, mas dois doramas de diferentes temas, mas unido pelo mesmo conceito: agradar e cativar os nossos olhos e ouvidos. O objetivo não é analisar o dorama e criticar, mas, sim, conversar sobre as propostas e importância de cada um, pegando o favorito de um público BL e outro dos doramas coreanos. Então, jovens, hoje lhes apresento TharnType: The Series e The Lover – zangado, não nos processe.
TharnType: The Series
Começando com o mais preferido das fujoshis de 2019.
O dorama tailandês narra a história de dois rapazes que precisam lidar com suas diferenças quando são forçados pelo próprio ego a se manterem como colega de quarto. Com o passar do tempo, vemos o amadurecimento e o despertar de algo mais profundo.
Normalmente, temáticas BLs tentam não entrar em questões LGBTQ+, fazendo os seus personagens se distanciarem da realidade e da aceitação de sua sexualidade — o que, de fato, não se torna um problema, afinal querem agradar apenas o público feminino, o qual é o seu nicho. Lógico que existem algumas exceções, mas, em grande parte, meninas consomem mais essa idealização e incentivam mais a indústria a usar esse distanciamento, e tudo isso é devido ao fato de que seus espectadores não podem sentir que seus ídolos são inalcançáveis: quanto mais distante da sexualidade individual (isto é, não existe hétero nem gay, bi etc.), melhor será a idealização e aceitação de seu público.
Há um grande diferencial nesta história, pois TharnType muda esse clichê da inexistência sexual dos protagonistas (isso só vale para o núcleo principal) e trabalha na descoberta e aceitação de seus personagens. E nos primeiros cinco minutos de tela vemos a palavra gay, e com uma única e maravilhosa temporada acompanhamos de forma intensa a alegria, dor, negação, aceitação e cumplicidade de ambos os protagonistas e, claro, ainda assim romantizada para seus consumidores.
The Lover
E agora, o mais aclamado de todos os doramas — sério, não conheço uma alma viva que goste de doramas e nunca elogiou The Lover.
The Lover retrata quatro casais diferentes que vivem juntos em um complexo de apartamentos.
Quarto 609: Na casa dos trinta, Oh Do-si é um dublador e Ryu Doo-ri é uma blogueira. Eles simplesmente escolheram viver juntos em vez de se casar e dividem um apartamento há dois anos.
Quarto 610: Jung Young-joon e Choi Ji-nyeo, um casal com 12 anos de diferença de idade. Ji-nyeo tem a personalidade de uma ajumma (senhora) e basicamente apoia seu namorado mais jovem na esperança de que ele um dia irá realizar o seu sonho, enquanto Young-joon é um músico desempregado que vive com uma guitarra que não sabe tocar. Eles vivem juntos há um ano e são rápidos para brigar e fazer as pazes.
Quarto 510: Park Hwan-jong e Ha Seol-eun estão em seus vinte e poucos anos e moram juntos há pouco tempo. Seol-eun quer que seu namorado acredite que ela é a personificação perfeita da feminilidade e trabalha incansavelmente para manter a ilusão.
Quarto 709: Lee Joon-jae é um jovem solitário que prefere ficar em casa, mas é forçado a encontrar um companheiro de quarto por razões financeiras. Ele não quer trocar nem uma pequena conversa desnecessária, por isso quer um companheiro de quarto estrangeiro que não saiba falar coreano muito bem. Takuya é um japonês aventureiro que tem Seul como seu último destino antes de voltar para seu país. Takuya pensa que Joon-jae está desperdiçando sua juventude e começa a atraí-lo para o mundo.
E novamente vamos falar dos clichês e estereótipos usado em doramas (não vale BL) principalmente coreanos com situações em que a mocinha sempre arranja um jeito de cair no personagem principal ou fixar os olhares de forma tímida e sem jeito, como se fosse a coisa mais ousada da vida dela — affs — ou até mesmo a inocência forçada dos protagonistas que poderia resolver logo a questão dizendo “estou a fim de você, passa logo o zap“. Não que seja ruim, afinal é essa romantização que o público (novamente feminino) espera; entretanto, essa idealização de casais acaba se tornando sempre repetitiva, e temos a mesma novela contada de formas diferentes: quando esperamos o próximo, temos os clichês e estereótipos sendo reaplicados. Isso acontece tantas vezes, que chega ao ponto de aceitarmos isso e caracterizá-los como doramas, e quanto mais fanservice desse clichê, mais aceitaremos esse universo (conhecida em grande parte pelo público otaku masculino como novela coreana cheio de clichê de meninas).
The Lover pega todos esses clichês e imediatamente joga no lixo, e isso deixa tudo maravilhoso e inovador, pois os casais não precisam ter um padrão de beleza ou ser um nerd charmoso melhor amigo de alguém: os personagens já existem como casais ou como futuros casais, e tudo que ocorre poderia acontecer com todo o mundo sem precisar ter que criar um ídolo inalcançável. Quando percebemos, estamos apaixonados com aquela pequena curta história.
E qual é o porquê deste artigo e qual são as semelhanças entre essas duas séries?
Jovens gafanhotos, a resposta é única: as duas series são exclusivamente para o público feminino de preferência jovem, fazendo com que este tipo de conteúdo tenha impacto sobre os seus idealizadores. Não estou dizendo que doramas mudam vidas, mas, sim, que têm o poder de fazer uma aceitação cultural. Quem nunca idealizou um oppa na vida? E essa é a questão: a idealização de um universo cômico, dramático, romântico, é interessante e legal, mas não passa apenas de ideias. Essas duas séries, uma BL e outra não, tentam se desvincular um pouco (só um pouco) desta imagem irreal que muitas das vezes é criada por nós mesmos, ocidentais, de uma cultura distante e inversa da nossa.
É também um dos motivos de fazerem sucesso, pois mostra um cotidiano diferente do que a gente acredita que seja e, além de tudo, deixa uma pergunta no ar: será que é realmente tão diferente da nossa cultura ou da forma que relacionamos?
Dito tudo isso, reflitam e bons doramas!