Alô, alô, leitores da Rádio J-Hero. Nos encontramos mais uma vez nesta quarta-feira para mais um papo superinteressante. Antes de entrarmos no assunto desta semana, deixe-me perguntar-lhes: vocês gostam de queijo com goiabada, o famoso Romeu e Julieta? Muitas pessoas gostam! E que tal um lanche estadunidense como sanduíche de pasta de amendoim e geleia? Ou mesmo arroz com feijão, o clássico dos clássicos na culinária brasileira? Ao meu ver, todas as combinações são ótimas. Mas e quanto a combinação de espaguete e sushi? Acham que ficaria bom? Pois saiba que essa mistura já foi feita há algumas décadas, e o resultado mudou a história do cinema mundial. Acham que estou biruta? Então cheguem mais para acompanhar o texto desta semana (lá vem spoiler, cuidado).
Akira Kurosawa, Sergio Leone e o faroeste: o início
Os filmes de faroeste são algumas das produções mais clássicas dos Estados Unidos. Entre os anos 10 e meados da década de 60 do século passado, os filmes de faroeste criaram algumas das histórias mais famosas da época. Durante décadas, o faroeste estadunidense se focou, majoritariamente, em contar o chamado “avanço ao oeste”, onde, segundo o “espírito americano” superpatriota da época, os membros “civilizados” da região leste da América eram responsáveis por levar a “civilização” aos “bárbaros” residentes do oeste, enfrentando a “ameaça dos povos indígenas da região” para fazê-lo.
Como o faroeste refletia fortemente a postura da sociedade, o gênero (felizmente) foi se modificando conforme a sociedade americana se modificava. Por exemplo: durante os anos 60, houve uma queda no sentimento patriótico americano graças ao movimento hippie e sua cultura de paz (em um momento em que os Estados Unidos estavam envolvidos na Guerra do Vietnã), o que inviabilizou histórias de “avanço para o oeste” nos faroestes, pois este possuía forte caráter patriótico.
Na Itália, as coisas se desenrolavam de maneira um pouco diferente. Com o fim do regime fascista na década de 1940, muitos filmes americanos, proibidos de entrar no país durante o comando de Benito Mussolini, invadiram os cinemas do país. Dessa forma, várias produções de faroeste americano foram vistas por milhares de pessoas, sendo uma delas o jovem Sergio Leone, que se tornaria o maior diretor do faroeste espaguete (ou seja, dos filmes de faroeste italianos daquela época).
Leone queria produzir algo diferente dos faroestes americanos e viu em Yōjinbō: O Guarda-Costas a inspiração perfeita. Yōjinbō é um filme lançado em 1961 por Akira Kurosawa, um dos grandes nomes do cinema japonês e mundial. No filme, vemos Kuwabatake Sanjūrō, um rōnin (samurai sem mestre) que chega em uma cidade onde há uma disputa entre duas gangues rivais. Sanjūrō, perspicaz e malandro, manipula os grupos rivais para ganhar dinheiro (e salvar a cidade… mas ele queria muito a grana!).
Sergio Leone ficou encantado com Yōjinbō e resolveu adaptá-lo. O resultado foi a produção Por um Punhado de Dólares, obra de 1964 que se tornou (possivelmente) o maior título dos filmes de faroeste. O longa-metragem trouxe um jovem e não muito conhecido (até o momento) ator americano chamado Clint Eastwood (sim, aquele que sempre faz filmes “durões”) para o papel principal e fez um sucesso estrondoso, tanto na Itália quanto no exterior.
A ligação entre Clint Eastwood e a cultura pop japonesa
Certamente os filmes de faroeste não seriam os mesmos sem esse trio formado por Clint Eastwood, Sergio Leone e Akira Kurosawa (ainda que este último tenha tido uma participação indireta). Leone não creditou Kurosawa e Yōjinbō em seu filme, mas Clint Eastwood deixa clara sua admiração pelo cineasta japonês.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo em 2009, o ator destacou Kurosawa como o diretor estrangeiro que mais o influenciou em sua carreira, chegando a afirmar que só participou de Por um Punhado de Dólares, que o levou ao estrelato, por saber que aquela era uma refilmagem de Yōjinbō. Eastwood também disse que Kurosawa mudou sua vida, afirmando que devia sua carreira ao diretor.
Akira Kurosawa não é o único artista japonês ligado a Eastwood. Como não lembrar de Hirohiko Araki, criador de JoJo’s Bizarre Adventure, e a forma como ele se inspirou em Eastwood para criar Jōtarō Kūjō no arco Stardust Crusaders? Não é à toa que Jōtarō é tão badass!
Por hoje é só, pessoal. Nos vemos na próxima semana, nesta mesma coluna e nesta mesma rádio, que é do seu jeito, do seu gosto. Bye bye.