Olá, pequenos gafanhotos do meu coração. Como vão? Estão curtindo o mês das férias escolares e da faculdade? Espero que sim! Sempre bom desacelerar um pouquinho, não é? A gente tem sempre que alternar trabalho e descanso, dedicação e repouso, aceleração e pausa. Não tem como sempre estar no mesmo ritmo, certo? Uma vida muito agitada e sem descanso causa fadiga, enquanto uma vida com excesso de descanso é uma vida desperdiçada. Devemos ter um equilíbrio na forma como levamos nossa rotina.
“Ain, mas por que você está escrevendo essas coisas? A Rádio J-Hero (Do Seu Jeito, Do Seu Gosto) virou um programa de coaching online?”. Calma, meu jovem, não é nada disso. Este meu breve discurso semimotivacional no início tem uma boa razão de existir, pois é sobre isso que nós vamos falar hoje: ritmo! Mas não do ritmo das nossas vidas, mas, sim, do ritmo das nossas produções favoritas. Então chega de enrolação e bora pro papo desta semana.
A composição de cenas em um roteiro
Como eu disse antes, é bom alternarmos momentos de trabalho com momentos de descanso, caso contrário ficaremos sobrecarregados. Olhando para as cenas em um filme ou série é a mesma coisa: é necessário uma alternância entre cenas e sequências de cenas no que diz respeito ao ritmo delas, e é no roteiro que isso tudo começa. Segundo a roteirista e professora de roteiro Beatriz Góes, uma cena ou uma sequência de cenas pode ter, em suma, um ritmo alto, um ritmo médio ou um ritmo lento, de acordo com o que acontece e com que velocidade acontece nessa cena ou sequência de cenas.
É importante destacarmos isso porque existe uma parte na criação de roteiros chamada composição de cenas, que consiste justamente em escolher a sequência de todas as cenas e sequências menores de cenas que estarão presentes em uma produção. Na composição, também segundo Beatriz Góes, se faz necessária uma alternância no ritmo das cenas e sequências, com uma cena ou sequência de cenas de ritmo lento ou médio sucedendo uma cena ou sequência de cenas de ritmo alto e vice-versa. Claro, existem filmes e séries que, no geral, apresentam um ritmo mais alto (como filmes de ação), médio (como um anime slice of life) ou lento (como uma série de drama), o que nos leva a observar que nem toda produção vai seguir a mesma composição.
Além do ritmo geral de uma obra, outros fatores devem ser levados em consideração ao criar a montagem de cenas de um roteiro. Elementos como tempo de tela a ser dedicado a um personagem ou trama, gênero, questões envolvendo locações e exigências dos produtores são alguns dos fatores que devem ser levados em consideração ao compor cenas de um roteiro.
A necessidade de se alternar cenas e sequências de acordo com seu ritmo tem uma explicação. Segundo o roteirista e teórico Robert McKee, a ausência de uma variação de ritmos impacta diretamente na audiência, fazendo com que as cenas e sequências nos impactem cada vez menos e nosso interesse diminua ao longo da exibição da obra. Nós ficamos cansados, basicamente. Se um filme de ação, por exemplo, tem somente cenas de explosões, perseguições, tiro, porrada e bomba, isso vai gerar, ainda que inconscientemente, uma espécie de cansaço no espectador, fazendo com que as explosões e conflitos se tornem cada vez menos interessantes. Se, por outro lado, um filme de ação consegue mesclar cenas do herói explodindo uma cidade inteira com momentos mais tranquilos (como a trama romântica ou mesmo com o protagonista armando novas explosões futuras), a audiência consegue “respirar” um pouco, assimilar melhor o que aconteceu e ainda continuar empolgada para as próximas detonações e atos de violência desenfreada.
Exemplo de composição de cenas
A partir daqui, haverá alguns spoilers do primeiro episódio de My Little Witch Academia. Se ainda não assistiu esse anime, continue por sua conta e risco. Vou dar um tempinho para você pular essa parte caso ainda não tenha visto.
Muito bem, acho que a galera que ainda não viu o anime já pulou essa parte, então bora lá. No primeiro episódio da obra, vemos Atsuko “Akko” Kagari, uma jovem bruxinha sem “linhagem mágica” que foi aceita na famosa academia de magia Luna Nova e está indo para a cerimônia de abertura. Akko, então, chega à estrada mágica no terminal de Leyline, por onde as bruxas passam para chegar à Luna Nova. Ela, porém, não possui uma vassoura mágica nem sabe usar uma. É quando aparece uma desastrada, porém prestativa, bruxinha chamada Lotte Yanson, que dá carona para Akko em sua vassoura.
Durante a viagem à Luna Nova, no entanto, Akko e Lotte enfrentam uma “turbulência” que faz com que elas saiam da estrada mágica e, junto de Sucy Manbavaran (outra aluna de Luna Nova, que estava voando um pouco atrás de Akko e Lotte), acabam indo parar na perigosa floresta de Arctulus. Ok, só até aqui.
Percebam que, nas cenas imediatamente anteriores ao encontro de Akko e Lotte e sua (frustrada) viagem à Luna Nova, estavam em um ritmo um pouco mais calmo. Já durante a viagem, porém, o ritmo aumenta, com a dificuldade de Lotte em guiar sua vassoura, os objetos de Akko se perdendo no caminho e até mesmo o choque entre Atsuko e Sucy, tudo isso antes delas chegarem à floresta de Arctulus. Após elas caírem lá, o ritmo cai um pouquinho novamente (antes de subir outra vez com os perigos do local). Notaram como há uma alternância de ritmo ao decorrer das cenas e sequências de cenas, com cenas mais “calmas” sendo intercaladas com cenas mais “frenéticas”? Dessa forma, o espectador não se sente desconfortável e até “cansado” ao assistir um anime, filme ou série.
Por hoje é só, pessoal. Espero que tenham gostado. Voltamos na próxima semana aqui, na rádio que é do seu jeito, do seu gosto. Bye bye.