Olá, queridos leitores. Vamos começar hoje uma série bem especial de textos aqui nesta coluna, que tratará dos principais tipos de personagens que muitas vezes encontramos em animes, mangás e doramas e quais suas funções e características dentro de uma história. Dessa forma, você, querido leitor, conseguirá entender melhor suas obras favoritas e até mesmo saber que alguma coisa vai acontecer muito antes de acontecer de fato. Sim, isso é possível (e eu nem estou falando de spoilers). Antes de falarmos dos dois primeiros tipos de personagens (herói e antagonista), vamos entender um pouco mais sobre esses modelos existentes para personagens e a razão de eles existirem. Mas não se preocupem, os textos serão enxutos, então vai dar para ler todos eles tranquilamente.

Arquétipos

Os chamados “arquétipos” se referem aos modelos pré-estabelecidos de personagens e suas funções dentro de uma história, sendo que essas funções podem ser fluidas, ou seja, um herói pode não ser um herói o tempo todo, um vilão pode não ser um vilão o tempo inteiro e assim por diante. Também vale destacar a possibilidade de um mesmo personagem apresentar traços de dois ou mais arquétipos ou mostrar traços de diferentes tipos de um mesmo arquétipo (veremos isso um pouco mais adiante neste mesmo texto). Um arquétipo, porém, não surge de uma simples convenção acadêmica ou pela pura vontade de estudiosos. Os arquétipos representam a soma de características em comum para determinados personagens que são apresentadas há séculos e, por isso, se tornaram facilmente reconhecíveis para nós, o público. A partir daí é que surgem os tais modelos pré-estabelecidos mencionados anteriormente.

O conceito foi desenvolvido, no campo que nos interessa (animes, doramas etc.), pelo escritor e roteirista Christopher Vogler nos anos 90, apesar de que os arquétipos já podiam ser encontrados em histórias anteriores a esse período. Uma curiosidade é que, antes de escrever um livro propriamente dito sobre o assunto, Vogler criou esse conceito de arquétipos de personagens como uma espécie de “guia interno” para roteiristas dos estúdios Walt Disney.

O herói

Vamos falar do nosso tipo de personagem de hoje: o herói. Esse é o arquétipo mais conhecido, mas ainda vale a pena falar sobre ele e conhecê-lo um pouco melhor (até porque ele é, geralmente, o protagonista). Para começar, quando falamos de “herói”, não estamos falando de personagens heroicos, mas, sim, do personagem central de uma história. Tanto Tanjirō Kamado quanto Light Yagami são “heróis” neste aspecto. Existem alguns tipos de personagens heróis, sendo que alguns dos principais são:

  • Heroico: enfrenta grandes desafios e salva o dia;
  • Amante: está em uma história de amor e é guiado pelo coração;
  • Fora da lei: rebelde que enfrenta e desobedece as regras;
  • Explorador: desbravador lugares desconhecidos e desafiadores.

Lembram que falamos sobre personagens que apresentam características de diferentes tipos de um mesmo arquétipo? Para ilustrar isso podemos recorrer a Eikichi Onizuka, protagonista de Great Teacher Onizuka (também conhecido como GTO). Onizuka, que é um professor, mostra aspectos de ao menos dois desses “subtipos” de herói que vimos acima: herói heroico e herói fora da lei. Logo nos primeiros episódios vemos Onizuka mostrar seu lado heroico ao salvar um de seus alunos de uma queda do terraço da escola e vemos ele mostrar seu lado fora da lei quando ele senta ao lado de uma escada rolante para olhar as calcinhas de colegiais que usavam a escada rolante (o que faria com que, no mundo real, ele ao menos respondesse um processo na justiça ou coisa do tipo – e com razão!).

Eikichi Onizuka e seus alunos que, por causa do traço noventista, aparentam ser mais velhos do que ele.

Anti-heróis

Para Vogler, os anti-heróis são apenas um tipo específico de herói. No geral, um anti-herói faz coisas que, ainda que não sejam ilegais, são imorais – algumas vezes por bons motivos como ajudar alguém em perigo, punir um criminoso ou “dar uma mãozinha” para que alguém melhore.

Por exemplo, deixar uma criança de aproximadamente 13 anos amarrada em um tronco e sem comida enquanto seus dois amigos comem sua marmita ao lado como forma de teste para definir se são capazes ou não de serem ninjas não parece a atitude mais moralmente correta de todas, mas foi exatamente isso que o Kakashi logo nas primeiras fases de Naruto. Ok, o Kakashi não é exatamente um anti-herói, mas essa atitude ajuda a ilustrar bem o que quero dizer.

Pois é, acho que não seria apenas o Onizuka que responderia criminalmente por suas atitudes em relação à alunos caso vivesse no mundo real.

Esta foi a primeira parte das nossas postagens especiais, queridos leitores. Espero que tenham gostado e espero que leiam as próximas partes também. Esta deve ter sido a parte mais extensa de todas, as outras devem ser mais tranquilas de se ler. Nos vemos na próxima semana. Bye bye!