Mahō Shōjo Site é um título da primavera de 2018 e se classifica como “horror, psicológico, sobrenatural, drama”, que habitualmente não são os gêneros que se espera para um anime de garotas mágicas. Após ter sido convidada a assistir o anime por um dos meus leitores, hoje irei falar minhas impressões a respeito. O anime possui somente 12 episódios e foi exibido a partir de 6 de abril de 2018 até 22 de junho de 2018, sendo baseado no mangá de mesmo nome do mangaká Kentarō Satō.

Atenção: Este artigo, além de conter spoilers, tem temas extremamente sensíveis que podem causar gatilhos, então não continue a leitura se estiver passando ou já passou por situações que te deixem desconfortáveis.

Sinopse

Aya Asagiri é uma garota do ensino médio que tem problemas tanto na escola com bullying quanto em casa por abuso físico de seu irmão. Enquanto navega on-line, um site aparece em seu computador com uma pessoa assustadora. Essa pessoa parece ter pena dela e anuncia que ela concedeu poderes mágicos a Asagiri.

O primeiro episódio causou uma primeira impressão muito negativa em mim pois abordava temas como bullying, abuso, estupro, suicídio. Mas posteriormente as coisas “melhoram”, e Mahō Shōjo Site começa a parecer um anime típico de garota mágica, semelhante a Madoka Magica, porém não com a mesma qualidade. Eu imagino que o criador deve ter pensado: “será que bato o recorde de gatilhos num mesmo episódio?”

Aya Asagiri é uma garota extremamente tímida que chega ao ponto de não conseguir dizer nem mesmo uma palavra a seus colegas de classe, e é em mais um destes terríveis dias em que ela está sendo atormentada que um estranho site aparece para ela. Nele, uma garota lhe oferece poderes mágicos, e, apesar de não acreditar naquilo, no dia seguinte ela encontra junto a um bilhete em seu armário da escola uma arma com o cano em formato de coração.

Essa pistola é um bastão que tem o objetivo de tirar as pessoas que não merecem viver nesse mundo. Porém, ao se utilizar o bastão, sua expectativa de vida diminui. O bastão dela tem o poder de teletransporte (ao atirar em alguém, ele pode levar essa pessoa para qualquer lugar que ela pensar). Quando uma garota mágica usa seu bastão, seu cabelo muda de cor, seus olhos tomam um formato diferente e uma parte do seu corpo sangra. Aya (que tem os cabelos negros) fica com o cabelo vermelho, em seus olhos aparecem corações e ela meio que chora lágrimas de sangue.

Quando comecei a assistir, pensei que ela iria se revoltar, abusar do poder, mas não é isso o que acontece: ela tem medo de machucar qualquer pessoa, mesmo aqueles que foram extremamente cruéis com ela. Para uma protagonista, eu achei ela muito fraca. Suponho que o objetivo da história foi mostrar uma personagem repleta de inseguranças, que cresceria no decorrer da história, porém ela não cresce. Talvez o autor tenha tentado trazer uma personagem com que muitas pessoas se identificassem, mas fiquei esperando o tempo todo ela se revoltar, ter um acesso de raiva, mas ela só faz chorar (depois que digitei o parágrafo acima, percebi que eu estou errada em querer que as pessoas reajam do mesmo modo quando expostas a situações dolorosas: cada um reage da maneira que consegue).

Pensando no propósito de um horror psicológico, que é causar incômodo, nos mostrando dor e sofrimento, a obra cumpre bem seu papel. Nos mahō shōjo que seguem uma narrativa tradicional, adoráveis garotas lutam contra monstros e outros vilões; nesta versão dark, os monstros somos nós mesmos. Vemos figuras perversas e doentias e também a omissão dos pais e professor: é um descaso tão grande, que é extremamente angustiante de acompanhar. E após o impacto inicial, se desenvolvem uma série de subtramas das quais não darei spoiler, mas que adianto que são interessantes.

Estamos constantemente nos perguntando onde as coisas vão acabar e, às vezes, elas dão reviravoltas surpreendentes. As subtramas nos trazem algumas reflexões como: apresentar a um psicopata em potencial, disfarçado de pessoa admirada pelos outros, as pressões familiares relacionadas à vida acadêmica dos filhos, entre outros.

A parte técnica não é das melhores. O uso de CGI é predominante, mas a staff se esforça para entregar o clima dark necessário, usando uma combinação de cores frias e quentes, dependendo do tema do episódio. O tema de abertura é Changing Point de i☆Ris, um grupo de j-pop. O tema de encerramento é Zenzen Tomodachi, de Haruka Yamazaki. Confira ambos a seguir:

Considerações finais

Mahō Shōjo Site não é para todos. Não assista se você estiver passando por algum problema, principalmente psicológico. Outro ponto é que, devido à limitação de 12 episódios, ele deixa muitas outras coisas sem a atenção merecida (ele adapta os primeiros 53 capítulos do mangá). Um dos destaques do anime é a forma como esconde mensagens e pistas sobre a história nos cenários e personagens, e no que diz respeito aos designs e simbolismos, eu fiquei satisfeita com a construção do enredo. É um anime intrigante, mas o que recomendo para quem se sentir confortável em assistir é que tente olhar a versão do mangá (que também é repleta de gatilhos) para conseguir entender melhor as motivações de cada personagem. O primeiro episódio do anime choca com seu excesso de violência, e o episódio final tenta encerrar com uma mensagem de esperança. E apesar de não ter gostado da forma como se desenrola a história da protagonista, reconheço que ela foi além do que deveria ser capaz de ir, superando as suas limitações. Confesso que atingi minha cota de gatilhos vendo este anime e que eu preferia não ter tido esse contato. Nas próximas semanas, esperem conteúdos mais leves!