Aviso: pode haver spoilers referentes à obra no decorrer do artigo. A maioria pode influenciar no futuro da história e do seu entendimento.

O anime Mahō Shōjo Madoka Magica (Puella Magi Madoka Magica) foi lançado em 2011, produzido pelo estúdio Shaft (o mesmo da série Monogatari), completando, portanto, 11 anos neste ano. A franquia teve uma série de filmes, light novels e spin-offs baseados em outras garotas mágicas, tendo uma infinidade de títulos da série lançados no Brasil pela editora NewPOP, e o anime se encontra disponível na plataforma da Netflix. Aproveitando o aniversário da obra, resolvi escrever um pouco a respeito.

Se você pudesse ter um desejo qualquer seu realizado, o que escolheria? E se esse desejo custasse sua liberdade, você ainda realizaria o desejo? Estes são alguns dos questionamentos que Madoka Magica nos traz. O anime não se trata apenas de garotas mágicas e não é sobre lutar contra o mal e sobre transformações: Madoka Magica é sobre a vida, os medos da juventude, as escolhas e as perdas.

Mahō Shōjo Madoka Magica é um anime do estilo mahō shōjo, o mesmo gênero de animes como Sailor Moon, Sakura Card Captors, entre outras, e consiste basicamente na história de garotas que ganham poderes e usam roupas diferentes para combater o mal, tendo elementos que se repetem: as garotas são seguidas de criaturas fofinhas, se apaixonam por alguém e sempre fazem coreografias para se transformar ou usar uma técnica, cujos cenários são sempre compostos de muita cor e o figurino sempre se destaca.

O elenco de produção do anime foi composto por Akiyuki Shinbō (Sayonara Zetsubō Sensei, Bakemonogatari) como diretor, Gen Urobuchi (Fate/Zero, Psycho-Pass) como escritor, Yuki Kajiura (Tsubasa Chronicle, Sword Art Online; produtora dos álbuns de Kalafina) como compositora e Ume Aoki como designer de personagens.

Sinopse

Suicídios sem explicação? Acidentes de trânsito? Mortes de pacientes quase curados? Tudo isso é causado pelo poder das bruxas. Elas causam o mal e estão presentes em todos os lugares. Para combatê-las, há apenas uma saída: algumas meninas têm que firmar um contrato com Kyubey e tornarem-se Garotas Mágicas. Em troca, essas garotas receberão como prêmio um desejo concedido. Em Puella Magi Madoka Magica, seguimos a vida de Madoka Kaname e os dramas causados após descobrir a existência das bruxas e das garotas mágicas. Em meio a outras personagens, temos Homura Akemi e sua tentativa de impedir que Madoka se torne uma garota mágica.

Sabendo a definição do gênero mahō shōjo e a sinopse do anime, vou elencar alguns pontos que fazem Madoka ser diferenciado, quebrando estereótipos. Ao longo dos dois primeiros episódios, a impressão que se passa é que é uma produção como qualquer outra: há um conflito, uma criatura mágica pede a ajuda das meninas para para resolver um problema. É a partir do terceiro episódio que o padrão de obras de mahō shōjo é rompido, começando a se diferenciar.

O anime se passa basicamente à noite, tendo poucas cenas ocorrendo durante o dia; o desenvolvimento da história, de forma geral, acontece no período noturno. As múltiplas cores que costumam ser presentes nos clássicos do gênero aparecem apenas nas roupas e nos cabelos das personagens. Os tons predominantes são cinza, azul-marinho e preto. Obviamente que as personagens são fofas e lutam com graciosidade; porém, em oposição a isso, há uma grande carga sombria e também uma carga sentimental dolorosa. Dor é o que não falta em Madoka.

Um pouco mais do enredo

A história começa quando Madoka Kaname, nossa protagonista, tem um sonho em que uma garota luta sozinha contra um monstro imenso. No dia seguinte, na aula, ela vê que a menina do seu sonho é a nova aluna transferida: Homura Akemi. Em outro momento, enquanto faz compras no shopping com as amigas, Madoka vê Homura perseguindo um animal diferente, que lembra um gato. Madoka e sua melhor amiga, Sayaka, salvam essa criatura – chamada Kyubey – mas acabam presas em uma espécie de mundo paralelo, onde são atacadas por um monstro. As duas são salvas por Mami Tomoe, uma garota mágica.

Kyubey é uma criatura capaz de transformar garotas normais em garotas mágicas, como Mami. Ele explica que o objetivo das garotas mágicas é lutar contra as bruxas, criaturas horrendas que se alimentam de humanos, levando-os inclusive a se suicidar, cometer assassinato, entre outras coisas. A trama ganha corpo quando Kyubey oferece a Madoka e a Sayaka um contrato para que elas sejam garotas mágicas também — em troca, elas podem ter qualquer desejo atendido.

Alerta de gatilho: tema sensível no próximo parágrafo!

As vilãs do anime aparecem com formas pitorescas, não tendo uma forma específica. Quando aparecem, são acompanhadas de desenhos que simbolizam a infância (carrosséis, ursos), computadores e paisagens (uma transição entre a infância e a juventude). As bruxas têm o objetivo de criar caos e levar as pessoas à morte, provocando os humanos a se suicidarem – lembrando que a sociedade japonesa tem uma das maiores taxas de suicídio do mundo.

“Você pode fazer um contrato comigo e se tornar uma mahō shōjo!”

O anime tem 12 episódios, mas possui um ótimo desenvolvimento de trama e personagens, com destaque para Kyubey, que tem uma aparência fofinha. Mas não se deixe enganar… O Kyubey é bem misterioso, não sendo mau, segundo seus próprios valores e objetivos, mas, na perspectiva humana, isso talvez mude. Se você pudesse ter algum desejo realizado, em troca de ser uma garota mágica para salvar os outros, isso não parecia um mau negócio, não é mesmo? Durante o tempo todo, você sente que tem algo que ele não está se mostrando, como é de verdade. É um enigma que vai sendo desvendado ao poucos.

Do ponto de vista de Kyubey, existiam coisas que não precisavam ser contadas. O que criaturas como ele buscavam era a energia gerada pelas almas dos humanos. Eles queriam usá-lo para combater a entropia que poderia causar o colapso do universo. Todos nós podíamos pensar nele como apenas uma criaturinha fofa, porém ele acaba se tornando uma das figuras mais odiadas do enredo.

As personagens femininas são complexas, com fardos pesados e arrependimentos que precisam conviver. Madoka é doce, gentil e altruísta, mas muito insegura, se sentindo muitas vezes como alguém sem importância. Sayaka é apaixonada pelo melhor amigo desde a infância e não tem coragem de dizer o que sente. Mami e Kyōko, outras duas garotas mágicas, têm suas próprias histórias que as motivaram a decisão de se tornarem garotas mágicas. E temos Homura, uma personagem que aparentemente é fria, calculista.

O título da série é Mahō Shōjo Madoka Magica, mas a verdadeira preciosidade da série vem no episódio 10, quando percebemos que a principal protagonista não era Madoka, mas Homura. A primeira cena do episódio surpreende os espectadores, pois nos mostra uma Homura muito tímida, totalmente ao contrário de como ela estava agindo nos últimos nove episódios. Esse é o episódio-chave para a grande reviravolta da trama de Madoka, e não vou falar muito a respeito, para que você possa assistir e tirar suas próprias conclusões.

Com grandes escolhas vêm grandes responsabilidades

É ótimo ter um grande coração, mas a premissa é que você precisa ser capaz de lidar com o resultado, seja como for.

Madoka Magica traz alguns debates interessantes: As personagens viram garotas mágicas para salvar o mundo das bruxas? Ou para ter seu desejo atendido? A questão é que, junto do desejo atendido, vêm também as consequências. É a “troca equivalente”, em que tudo tem um preço. Madoka não quis passar a mensagem de que ela salvaria a todos. Ela era uma garota comum, com medos, crises, que sofria ao perder amigas e ao mesmo tempo se sentia impotente quanto aos fatos. Dúvidas, problemas pessoais e tudo que uma garota de 14 anos costuma sentir, se mesclam com a dúvida de ter um desejo ou não realizado. Mahō Shōjo Madoka Magica mostra que toda ação tem sua consequência e que pessoas podem morrer e sofrer no processo. É um anime doloroso, por mais que suas cores delicadas e traços fofos não deixem transparecer essa dor inicialmente, cuja grande lição é que não somos capazes de alterar a dor de uma perda, mas que o que mais importa é carregar as lembranças daquilo se foi vivenciado. Deixo aqui minha recomendação para que conheçam essa obra, e quero terminar este texto com uma frase:

“Não se esqueça. Sempre, em algum lugar, alguém está lutando por você. Enquanto se lembrar dela, você não estará sozinho.”

Ficha técnica

  • Título original: Mahō Shōjo Madoka Magica
  • Ano de lançamento: 2011
  • Direção: Akiyuki Shinbō
  • Roteiro: Atsuhiro Iwakami
  • Elenco: Aoi Yūki, Chiwa Saitō, Eri Kitamura, Kaori Mizuhashi, Ai Nonaka, Emiri Katō