Mahō Shōjo Madoka Magica: a luta entre esperança e desespero

A vida, os medos da juventude, as escolhas e as perdas: com grandes poderes vêm grandes responsabilidades.

Vicky · 17 de janeiro de 2022 às 11:48
menos de 1 minuto de leitura

Aviso: pode haver spoilers referentes à obra no decorrer do artigo. A maioria pode influenciar no futuro da história e do seu entendimento.

O anime Mahō Shōjo Madoka Magica (Puella Magi Madoka Magica) foi lançado em 2011, produzido pelo estúdio Shaft (o mesmo da série Monogatari), completando, portanto, 11 anos neste ano. A franquia teve uma série de filmes, light novels e spin-offs baseados em outras garotas mágicas, tendo uma infinidade de títulos da série lançados no Brasil pela editora NewPOP, e o anime se encontra disponível na plataforma da Netflix. Aproveitando o aniversário da obra, resolvi escrever um pouco a respeito.

Se você pudesse ter um desejo qualquer seu realizado, o que escolheria? E se esse desejo custasse sua liberdade, você ainda realizaria o desejo? Estes são alguns dos questionamentos que Madoka Magica nos traz. O anime não se trata apenas de garotas mágicas e não é sobre lutar contra o mal e sobre transformações: Madoka Magica é sobre a vida, os medos da juventude, as escolhas e as perdas.

Mahō Shōjo Madoka Magica é um anime do estilo mahō shōjo, o mesmo gênero de animes como Sailor Moon, Sakura Card Captors, entre outras, e consiste basicamente na história de garotas que ganham poderes e usam roupas diferentes para combater o mal, tendo elementos que se repetem: as garotas são seguidas de criaturas fofinhas, se apaixonam por alguém e sempre fazem coreografias para se transformar ou usar uma técnica, cujos cenários são sempre compostos de muita cor e o figurino sempre se destaca.

O elenco de produção do anime foi composto por Akiyuki Shinbō (Sayonara Zetsubō Sensei, Bakemonogatari) como diretor, Gen Urobuchi (Fate/Zero, Psycho-Pass) como escritor, Yuki Kajiura (Tsubasa Chronicle, Sword Art Online; produtora dos álbuns de Kalafina) como compositora e Ume Aoki como designer de personagens.

Sinopse

Suicídios sem explicação? Acidentes de trânsito? Mortes de pacientes quase curados? Tudo isso é causado pelo poder das bruxas. Elas causam o mal e estão presentes em todos os lugares. Para combatê-las, há apenas uma saída: algumas meninas têm que firmar um contrato com Kyubey e tornarem-se Garotas Mágicas. Em troca, essas garotas receberão como prêmio um desejo concedido. Em Puella Magi Madoka Magica, seguimos a vida de Madoka Kaname e os dramas causados após descobrir a existência das bruxas e das garotas mágicas. Em meio a outras personagens, temos Homura Akemi e sua tentativa de impedir que Madoka se torne uma garota mágica.

Sabendo a definição do gênero mahō shōjo e a sinopse do anime, vou elencar alguns pontos que fazem Madoka ser diferenciado, quebrando estereótipos. Ao longo dos dois primeiros episódios, a impressão que se passa é que é uma produção como qualquer outra: há um conflito, uma criatura mágica pede a ajuda das meninas para para resolver um problema. É a partir do terceiro episódio que o padrão de obras de mahō shōjo é rompido, começando a se diferenciar.

O anime se passa basicamente à noite, tendo poucas cenas ocorrendo durante o dia; o desenvolvimento da história, de forma geral, acontece no período noturno. As múltiplas cores que costumam ser presentes nos clássicos do gênero aparecem apenas nas roupas e nos cabelos das personagens. Os tons predominantes são cinza, azul-marinho e preto. Obviamente que as personagens são fofas e lutam com graciosidade; porém, em oposição a isso, há uma grande carga sombria e também uma carga sentimental dolorosa. Dor é o que não falta em Madoka.

Um pouco mais do enredo

A história começa quando Madoka Kaname, nossa protagonista, tem um sonho em que uma garota luta sozinha contra um monstro imenso. No dia seguinte, na aula, ela vê que a menina do seu sonho é a nova aluna transferida: Homura Akemi. Em outro momento, enquanto faz compras no shopping com as amigas, Madoka vê Homura perseguindo um animal diferente, que lembra um gato. Madoka e sua melhor amiga, Sayaka, salvam essa criatura – chamada Kyubey – mas acabam presas em uma espécie de mundo paralelo, onde são atacadas por um monstro. As duas são salvas por Mami Tomoe, uma garota mágica.

Kyubey é uma criatura capaz de transformar garotas normais em garotas mágicas, como Mami. Ele explica que o objetivo das garotas mágicas é lutar contra as bruxas, criaturas horrendas que se alimentam de humanos, levando-os inclusive a se suicidar, cometer assassinato, entre outras coisas. A trama ganha corpo quando Kyubey oferece a Madoka e a Sayaka um contrato para que elas sejam garotas mágicas também — em troca, elas podem ter qualquer desejo atendido.

Alerta de gatilho: tema sensível no próximo parágrafo!

As vilãs do anime aparecem com formas pitorescas, não tendo uma forma específica. Quando aparecem, são acompanhadas de desenhos que simbolizam a infância (carrosséis, ursos), computadores e paisagens (uma transição entre a infância e a juventude). As bruxas têm o objetivo de criar caos e levar as pessoas à morte, provocando os humanos a se suicidarem – lembrando que a sociedade japonesa tem uma das maiores taxas de suicídio do mundo.

“Você pode fazer um contrato comigo e se tornar uma mahō shōjo!”

Fundo de imagem sombrio, com um céu cinzento. Ao meio, um gato branco, com olhos vermelhos e longa cauda.

O anime tem 12 episódios, mas possui um ótimo desenvolvimento de trama e personagens, com destaque para Kyubey, que tem uma aparência fofinha. Mas não se deixe enganar… O Kyubey é bem misterioso, não sendo mau, segundo seus próprios valores e objetivos, mas, na perspectiva humana, isso talvez mude. Se você pudesse ter algum desejo realizado, em troca de ser uma garota mágica para salvar os outros, isso não parecia um mau negócio, não é mesmo? Durante o tempo todo, você sente que tem algo que ele não está se mostrando, como é de verdade. É um enigma que vai sendo desvendado ao poucos.

Do ponto de vista de Kyubey, existiam coisas que não precisavam ser contadas. O que criaturas como ele buscavam era a energia gerada pelas almas dos humanos. Eles queriam usá-lo para combater a entropia que poderia causar o colapso do universo. Todos nós podíamos pensar nele como apenas uma criaturinha fofa, porém ele acaba se tornando uma das figuras mais odiadas do enredo.

Fundo escuro, em tons cinza e preto.
No centro da imagem temos cinco garotas com vestidos. Da direita para a esquerda temos: uma menina de cabelo rosa, maria-chiquinha, roupa branca com detalhes rosa; uma menina de cabelo preto, escorrido, com roupa branca e detalhes pretos; uma loura, de cabelo na altura dos ombros, com roupa branca, preta e detalhes na bainha amarelo queimado; uma de cabelo curto, azul, com roupa branca e detalhes azul-marinho; e, por fim, uma ruiva com roupas predominantemente vinho. Ou seja, as cores de cabelo determinam as cores da roupa. O chão onde estão em pé parece um tabuleiro de xadrez (preto e branco).

As personagens femininas são complexas, com fardos pesados e arrependimentos que precisam conviver. Madoka é doce, gentil e altruísta, mas muito insegura, se sentindo muitas vezes como alguém sem importância. Sayaka é apaixonada pelo melhor amigo desde a infância e não tem coragem de dizer o que sente. Mami e Kyōko, outras duas garotas mágicas, têm suas próprias histórias que as motivaram a decisão de se tornarem garotas mágicas. E temos Homura, uma personagem que aparentemente é fria, calculista.

O título da série é Mahō Shōjo Madoka Magica, mas a verdadeira preciosidade da série vem no episódio 10, quando percebemos que a principal protagonista não era Madoka, mas Homura. A primeira cena do episódio surpreende os espectadores, pois nos mostra uma Homura muito tímida, totalmente ao contrário de como ela estava agindo nos últimos nove episódios. Esse é o episódio-chave para a grande reviravolta da trama de Madoka, e não vou falar muito a respeito, para que você possa assistir e tirar suas próprias conclusões.

Com grandes escolhas vêm grandes responsabilidades

É ótimo ter um grande coração, mas a premissa é que você precisa ser capaz de lidar com o resultado, seja como for.

Madoka Magica traz alguns debates interessantes: As personagens viram garotas mágicas para salvar o mundo das bruxas? Ou para ter seu desejo atendido? A questão é que, junto do desejo atendido, vêm também as consequências. É a “troca equivalente”, em que tudo tem um preço. Madoka não quis passar a mensagem de que ela salvaria a todos. Ela era uma garota comum, com medos, crises, que sofria ao perder amigas e ao mesmo tempo se sentia impotente quanto aos fatos. Dúvidas, problemas pessoais e tudo que uma garota de 14 anos costuma sentir, se mesclam com a dúvida de ter um desejo ou não realizado. Mahō Shōjo Madoka Magica mostra que toda ação tem sua consequência e que pessoas podem morrer e sofrer no processo. É um anime doloroso, por mais que suas cores delicadas e traços fofos não deixem transparecer essa dor inicialmente, cuja grande lição é que não somos capazes de alterar a dor de uma perda, mas que o que mais importa é carregar as lembranças daquilo se foi vivenciado. Deixo aqui minha recomendação para que conheçam essa obra, e quero terminar este texto com uma frase:

“Não se esqueça. Sempre, em algum lugar, alguém está lutando por você. Enquanto se lembrar dela, você não estará sozinho.”

Ficha técnica

  • Título original: Mahō Shōjo Madoka Magica
  • Ano de lançamento: 2011
  • Direção: Akiyuki Shinbō
  • Roteiro: Atsuhiro Iwakami
  • Elenco: Aoi Yūki, Chiwa Saitō, Eri Kitamura, Kaori Mizuhashi, Ai Nonaka, Emiri Katō

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Sobre Vicky

Otaku, escritora, locutora na J-Hero e cinéfila, conectada ao mundo dos animes, J-Rock e cultura oriental.