A Caminho da Lua: mitologia, emoção e muita música!

O filme passa uma mensagem importante sobre seguir em frente, aceitar que algo já não é como era antes e lidar com novas experiências.

Vicky · 4 de outubro de 2021 às 09:15
menos de 1 minuto de leitura

Olá, meus caros viajantes! Aqui é a Vicky, e hoje nossa viagem nos levará diretamente para a Lua! Espero que estejam prontos para embarcar nesta aventura. Coloquem seus capacetes especiais e vamos adentrar o espaço!

Capa do filme. No centro, em cor azul-celeste, tem uma lua nova e tem escrito: A Caminho da Lua (na mesma tonalidade).
Tem uma menina de costas olhando para a Lua, com um capacete debaixo do braço. Do seu lado direito, no chão, tem um coelho branco e, ao fundo, tem uma cidade.
Na parte inferior, tem escrito: O primeiro passo é acreditar, em breve Netflix.
Na parte superior, em letras miúdas, tem: De Glen Keane, diretor e animador vencedor do Oscar.

Quero indicar para vocês um filme que assisti recentemente: A Caminho da Lua, uma animação da Netflix dirigida por Glen Keane (A Bela e a Fera, A Pequena Sereia e Dear Basketball), com roteiro de Audrey Wells. O roteiro surgiu para que Audrey Wells deixasse algo para a filha. Ela o escreveu enquanto lutava contra um câncer e morreu em 2018, dois anos antes do lançamento. É uma história que celebra a cultura chinesa e tem como temática mostrar a importância de seguir em frente adiante, mesmo nos momentos mais difíceis.

Sinopse

A graciosa Fēi Fēi, uma menina chinesa, perde cedo sua mãe e fica sozinha com o pai. Ela é ótima aluna, ainda ajuda o pai no negócio dos tradicionais “biscoitos da lua”, típicos do Festival da Lua, a cerimônia das lanternas chinesas.

Fēi Fēi acredita na princesa Cháng’é, que vive na lua à espera de seu único e eterno amor, lenda que gostava de ouvir sua mãe contar. Inconformada com a vontade do pai de casar novamente, Fēi Fēi decide ir à lua, provar que existe a princesa, e o amor eterno para que o pai desista do casamento.

Feriado da Lua

A lenda de Cháng’é faz parte do feriado nacional na China; a festividade se passa em meados do outono chinês. Criada durante a Dinastia Sòng, entre 960 e 1127, a celebração nasceu como forma de agradecimento dos antigos imperadores e trabalhadores do campo pela boa colheita. Nesta data, as famílias se reúnem em volta à mesa, oferecem um farto jantar para venerar as Luas cheias, agradecer e pedir felicidades. Como sobremesas, se alimentam de Bolinhos da Lua, preparados exclusivamente para este evento anual.

A lenda

Fundo claro, ao centro vemos Hòu Yì, a esquerda, virado de frente para Cháng’é.
Ele tem cabelo preto, grande, que está amarrado, usa cavanhaque e nas suas costas tem uma espécie de "bolsa", na qual estão suas flechas guardadas. Ele está segurando a queixo dela, com a mão esquerda e sua mão direita está na cintura dela.
Ela tem cabelos longos presos, sua roupa é azul com verde-oliva (o dele é azul-petróleo e cinza). Ela está com os olhos fechados e ele está a contemplar sua boca.

Ícones da mitologia chinesa, Cháng’é e seu marido arqueiro, Hòu Yì, são descritos como salvadores da colheita e retrato do amor verdadeiro. Segundo a lenda, haviam dez sóis no céu, e o excesso destas estrelas queimavam as plantações e, consequentemente, fazia pessoas morrerem de fome. Para acabar com esse sofrimento, Hòu Yì usou seu arco e flecha para atirar em nove deles.

Como recompensa por seu bom ato, o arqueiro ganhou um elixir que o permitia viver eternamente. Ele não queria bebê-lo, porque isso significaria eventualmente levar uma vida sem Cháng’é. Certo dia, porém, um homem tentou roubá-lo e, para garantir que o ladrão jamais colocaria suas mãos no elixir, Cháng’é o tomou. Ao chegar em casa, Hòu Yì conseguiu encontrá-la, mas ela já estava subindo para a Lua. Tiveram uma triste despedida e, depois do ocorrido, Hòu Yì começou a rezar periodicamente para a Lua, visando honrar a esposa (existem muitas variações da lenda, mas esta é a que mais gosto).

Impressões iniciais

Inicialmente pode se confundir A Caminho da Lua com uma produção da Disney, se assemelhando às produções com princesas e musicais, deixando uma sensação de familiaridade — o que é compreensível, visto que o animador Glen Keane é um dos nomes mais conhecidos quando se fala do estilo 3D das animações Disney, já que o próprio ajudou a implementar a técnica. Porém, para além das semelhanças, um dos pontos de destaque é a ambientação na China, celebrando a cultura do país, desde o passado até os dias atuais.

Imagem de Glen Keane. Ele está do lado esquerdo da imagem, rosto e tronco. É um senhor com poucos cabelos (apenas nas laterais), que são brancos.
Ele tem olhos castanho-escuro, sua boca está arqueada e seus olhos sorriem, com a boca semifechada, aparecendo apenas os dentes da parte superior.  Atrás, é um local que tem um suporte que aparenta ser madeira, com esboços de desenhos que ele fez, tendo xícaras que dentro tem variados lápis e uma garrafa de água.

Foi uma visita à China que fez Keane querer que o filme fosse feito dessa maneira. Em uma entrevista que concedeu ele diz:

Fiquei tão emocionado pela empolgação das crianças chinesas com as nossas histórias, que pensei que deveria contar a história deles. Era importante que fosse uma autêntica história chinesa. Abraçamos não só a lenda, mas a cultura moderna, com as melhores de intenções.

Cathy Ang, dubladora de Fēi Fēi no idioma original, disse que:

Interpretar um personagem que compartilha sua herança foi uma experiência igualmente profunda para ela. “Na verdade, eu não interpretei um personagem chinês até ‘A Caminho da Lua’, e não percebi como seria diferente isso”, disse ela. “Eu apenas consigo ser eu mesma, completamente eu mesma. É um grande privilégio compartilhar minha cultura por meio da arte”.

O que fica…

A Caminho da Lua começa com a apresentação dos seus personagens, que por si só já são extremamente cativantes, e aborda o tema do luto, mas não sob a perspectiva de como lidar com a morte e, sim, com a saudade, com a falta que o outro faz e como se pode manter a chama do amor acesa para seguir em frente. A dor da saudade existe por meio das recordações felizes.

Representatividade

O protagonismo feminino e a representatividade são pontos positivos dessa produção. Para além da personagem principal, a obra foca em outras personagens femininas, como a mãe de Fēi Fēi, a deusa Cháng’é e a relação da jovem com a nova namorada de seu pai. Em entrevista à Universa, Glen contou como foi o processo de criação:

Fēi Fēi em trajes de astronauta: roupa cinza-metálica, capacete, sorrindo, aparece tanto os dentes superiores quanto inferiores. Seus olhos são castanho-claro e estão bem abertos. Ela está com uma expressão de muita felicidade. Ao lado dela tem um coelho branco, que também está de capacete.

A personagem principal é o veículo que guia cada criança e adulto através deste filme. Eles vão ver e sentir através de seus olhos e alma. Para mim, como um animador, eu passei minha carreira fazendo personagens como essa. Ariel [de “A Pequena Sereia”] pareceu, em diversas maneiras, como uma personagem-irmã, pois acreditava que o impossível é possível. Fēi Fēi é tão inteligente, ela sabe de ciência, tecnologia, física e matemática. Então você está criando essa faísca de inteligência e também uma faísca de fé na mãe, que vê o que os outros não veem.

Imagem com fundo preto. Ao centro, vemos a deusa da Lua, à esquerda, com longos cabelos pretos, soltos, e roupa branco-gelo. Ela está olhando de frente para Fēi Fēi, que se encontra do lado direito, com cabelos curtos, pretos, e roupa cinza com detalhes azuis na parte superior. Ambas estão com olhar de sofrimento.

A Caminho da Lua abre espaço para debater questões como luto, amor e significado de família. Uma das grandes metáforas do filme, que é extremamente genial e delicada na representação, é a Câmara de Extraordinária Tristeza, um lugar impenetrável onde Cháng’é se isola, seguida por Fēi Fēi. Enquanto elas sofrem pela perda de um ente querido, seus amigos ficam desesperados do lado de fora, vendo elas se isolarem, sem ter como alcançá-las. O luto é representado por uma escuridão devastadora, que afeta não só quem está sofrendo, mas todos ao redor, por não poderem confortar essa pessoa.

Trilha sonora

Outro ponto forte do filme são as músicas. Vou deixar com vocês a que mais gostei e me emocionei: Se abrir para o amor:

Mensagem final

Ao final, A Caminho da Lua passa uma mensagem importante sobre seguir em frente, aceitar que algo já não é como era antes e lidar com novas experiências, e passar por isso sem diminuir a dor da perda. É um filme emocionante e divertido que super recomendo!

Ficha técnica

  • Filme: A Caminho da Lua (Over the Moon; EUA, China)
  • Duração: 1h35min 
  • Gêneros: aventura, comédia, fantasia
  • Direção: Glen Keane, John Kahrs
  • Elenco (vozes): Cathy Ang, Ken Jeong, Sandra Oh, Kimiko Glenn

E você, já assistiu a animação da Netflix? Deixe seus comentários abaixo!

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Foto de Vicky

Sobre Vicky

Otaku, escritora, locutora na J-Hero e cinéfila, conectada ao mundo dos animes, J-Rock e cultura oriental.