No dia 21 de julho é comemorado o Dia Mundial do Cosplay, e, para celebrar essa arte tão querida e admirada por todos os amantes da cultura pop, conversamos com a cosplayer Beatriz Rocha, mais conhecida como Sanchichy, para descobrir um pouco mais sobre a vida e a rotina de quem se dedica há anos ao cosplay. Beatriz revelou um pouco sobre seu início no cosplay, sua rotina antes de um evento e abriu o coração para falar um pouco sobre suas perspectivas e expectativas em relação ao cenário cosplayer no Brasil. Tudo isso e muito mais você confere a seguir:
Rober: De onde vem o apelido Sanchichy?
Beatriz: Quando eu comecei a jogar jogos on-line, eu comecei jogando Grand Chase. Na época, eu criei um nick chamado Mimichii, uma mistura de nekomimi, que significa orelha de gato, com Chi, uma personagem de Chobits. Quando eu fiz minha conta no Instagram, mais ou menos na mesma época, eu não curtia muito o Mimichii, então eu só adaptei. Eu usei o san, que é um som que eu gosto, enquanto que o chichy vem de chii, só que eu coloquei Y para não ficar muito repetitivo. Não tem nenhuma grande história, não.
Rober: Como conheceu e qual foi seu primeiro cosplay?
Beatriz: Eu conheci o cosplay quando era bem nova. Eu já assistia animes desde os oito anos de idade. Um belo dia, eu estava procurando imagens da Miku Hatsune, isso lá para 2010 ou 2011, e eu acabei me deparando com o cosplay. Eu pensei: “nossa, que legal, tem gente que se veste dos personagens”. Então eu comecei a pesquisar sobre o que era o cosplay e aprender mais sobre isso. Por volta de 2011, eu fiz meu primeiro cosplay: Amu Hinamori, de Shugo Chara!. Foi um cosplay bem improvisado, feito com coisas que eu já tinha em casa como uma peruca de carnaval e uma blusa da minha tia, que também me ajudou fazendo algumas coisas de papel. Foi então que eu fiz meu primeiro cosplay, que foi bem improvisado.
Rober: Como foi a reação da sua família e amigos quando você começou com o cosplay?
Beatriz: Todo mundo achou “engraçadinho” aquele meu primeiro cosplay, de Amu Hinamori, pois eu era criança e, como eu disse anteriormente, minha tia ajudou a montar e tirar foto. Quando eu embarquei mesmo no cosplay, lá para 2016 quando eu fiz a Miku Hatsune e, em seguida, a Yuno Gasai, a reação foi… Minha mãe ajudou muito. Eu pegava emprestado a peruca da Miku Hatsune de uma colega de escola e uma vez eu fui no Anime Friends com minha mãe e eu pedi uma peruca da Miku Hatsune, então ela comprou a peruca. No início, minha vó estranhou um pouco porque ela não entendia o que era, mas depois ela achou superlegal e hoje em dia ela até tira fotos minhas antes dos eventos.
Rober: Qual sua maior inspiração?
Beatriz: Acho que minha maior inspiração são os personagens, mesmo. Então eu vejo o personagem, como ele se comporta, vejo e revejo várias vezes o anime. Se não for cosplay de anime, se for um cosplay de algum jogo ou de Vocaloid mesmo, eu presto atenção nas falas, danças etc. Eu não me inspiro em uma pessoa em específico porque não gosto de me inspirar nos outros, de me olhar nos outros. Porque se você se inspirar muito em uma pessoa você acaba se comparando demais àquela pessoa, então prefiro fazer meus cosplays baseada nos personagens. Além disso, como cada um tem seu jeito de fazer cosplay, com seus próprios trejeitos e coisas assim, você acaba perdendo um pouco da sua própria identidade naquele cosplay.
Rober: O que você mais gosta em fazer cosplay? E o que você menos gosta?
Beatriz: O que eu mais gosto é fazer cosplays de personagens antigos, pois eles me marcaram muito quando eu comecei a ver anime, ouvir Vocaloid etc. Então é muito legal toda essa coisa de poder representar aquele personagem que me marcou tanto durante minha infância e pré-adolescência, além daquele sentimento gratificante de alguém me parar em um evento e falar: “Nossa, você está fazendo esse personagem antigo, que legal”. Já o que eu menos gosto no cosplay é a comunidade. A comunidade é muito tóxica em alguns momentos. Eu não gosto quanto tem, por exemplo, uma rivalidade de “meu cosplay é melhor que o seu” ou “só eu posso fazer esse personagem”, e tem muito disso no cosplay, principalmente nos concursos.
Rober: Como você enxerga a comunidade cosplayer no Brasil?
Beatriz: Eu enxergo a comunidade brasileira como algo em crescimento. Eu boto uma grande diferença de 2016 pra cá, pois antigamente as pessoas diziam que os cosplays brasileiros não prestavam, que só os japoneses (eram bons). Mas esse discurso está mudando aos poucos. Cada vez mais pessoas estão reconhecendo o cosplay brasileiro.
Rober: Quando você começou a participar de eventos e o que acha deles?
Beatriz: Eu comecei a participar de eventos em 2015, no Up!ABC, realizado no ABC Paulista (região metropolitana de São Paulo). Eu acho bem divertido, mas, como eu já participei de muitos eventos, acho que se torna um pouco repetitivo. Então hoje em dia eu vou nos eventos para mostrar meu cosplay, participar de concursos e jogar Just Dance, que eu adoro. Mas quando eu comecei a ir eu ficava encantada com os bótons, camisetas, mousepads etc.
Rober: Como é sua preparação para um evento?
Beatriz: Geralmente eu levanto cedo e levo cerca de três horas para me preparar. Quando é para tirar fotos para as redes sociais, eu não me atenho muito aos detalhes, mas nos eventos eu me preocupo mais com os detalhes, fazer uma maquiagem bacana e vejo algumas referências porque, quando você faz um cosplay, às vezes você esquece de alguns detalhes, de algum penteado etc. Então, para os eventos, eu presto muito mais atenção nos detalhes.
Rober: Onde você, geralmente, compra seus cosplays?
Beatriz: Quando o dólar estava mais barato, eu costumava comprar no AliExpress e no eBay. Hoje em dia não compro mais porque está muito caro (risos), então o que mais estou fazendo são trocas. Eu recebo várias coisas por meio de parcerias, então, quando recebo algo que já tenho, como um par de lentes repetidas, eu troco com alguém por um cosplay, além de visitar páginas de desapego no Facebook e Instagram. Consigo muitas trocas por conta nota disso. Às vezes eu também compro peças nesses sites de desapego, mas só se estiver bem baratinho. Os cosplays de Vocaloid, por exemplo, estão bem baratos porque não está no hype, então consigo pegar por um preço bem bacana.
Rober: Dentre os que você já fez, qual cosplay você mais gosta? E qual o que você menos gosta?
Beatriz: O cosplay que eu mais gosto é, definitivamente, o da Miku Hatsune, pois ela me mercou durante minha infância e pré-adolescência e até hoje eu ouço suas músicas. É uma paixão que tenho há dez anos e eu fico muito feliz em fazer ela.
O cosplay que eu menos gosto é o da Arlequina, cujas fotos nem estão mais no meu perfil. Eu fiz a versão do Esquadrão Suicida e eu achei que minha testa ficou muito grande para a peruca porque ela não tem franja (risos), então não gostei muito desse cosplay.
Rober: Qual cosplay você tem vontade de fazer e qual não faria de jeito nenhum?
Beatriz: Um cosplay que eu gostaria muito de fazer é o da Ichigo Momomiya, de Tokyo Mew Mew, que chegou no Brasil como As Super Gatinhas. Isso porque, se não me engano, Tokyo Mew Mew foi o segundo anime que eu assisti, então me marcou muito e, agora que vai sair um novo anime de Tokyo Mew Mew, eu estou super ansiosa e queria muito fazer esse cosplay para representar esse personagem pelo qual sinto tanto carinho.
Um cosplay que eu não faria é o de Nezuko, de Kimetsu no Yaiba. Sempre me pedem para fazer a Nezuko e eu já cheguei a pegar um cosplay emprestado com uma amiga, mas eu odiei, novamente por causa da franja. Eu me acho muito testuda para fazer personagens sem franja (risos).
Rober: Na sua opinião, como o cosplay é visto pelas pessoas que não são nerds ou otakus? Você se sente à vontade e segura usando um cosplay em qualquer lugar?
Beatriz: Eu acho que depende muito. Há alguns dias eu fui em um evento em um shopping e fui muito bem recebida até por idosas e crianças, que vieram tirar foto comigo. O pessoal acha diferente e vem tirar foto. Mas nesse mesmo evento aconteceu uma situação muito desconfortável. Oito rapazes vieram para cima de mim e da minha amiga, zoando e tirando sarro da gente. Eles chegaram a bater na cabeça da minha amiga e quase quebraram um acessório que ela usa na parte de trás da cabeça, além de tirarem uma das orelhinhas de elfo que ela estava usando. Não tem necessidade disso, foi uma palhaçada. Acho que depende bastante do público, uns vão gostar, outros vão zoar.
Rober: Conte alguma história engraçada ou inusitada que tenha relação com o cosplay.
Beatriz: Uma história engraçada foi a primeira vez que eu fui em um evento com o cosplay da Miku Hatsune. Eu estava, junto com alguns amigos, entrando em uma sala temática, e esse evento foi realizado em uma faculdade. Eles entraram na sala, e eu fiquei tentando entrar porque havia pessoas entrando e saindo da sala pela mesma porta. Aí chegou um maluco e mordeu minha peruca. Ele disse: “Desculpa, achei que era papelão” e saiu correndo. Até hoje eu não entendi porque ele fez aquilo, se era uma aposta com os amigos dele ou algo assim, mas eu achei engraçado e meio doido (risos). Quando eu cheguei em casa, lavei a peruca umas três vezes porque ele babou na peruca e eu fiquei com muito nojo (risos).
Rober: Algum conselho para quem quer começar a fazer cosplay?
Beatriz: Meu conselho para quem está começando é investir em apenas um cosplay. Quando eu comecei, de fato, a fazer cosplay, com aquele da Miku Hatsune, eu investi nele: comprei lentes, acessórios, peruca… Eu fiz várias versões da Miku Hatsuune antes de partir para outro cosplay. Então minha dica é essa: investir em apenas um cosplay, além de usar o que você já tem para fazer outros cosplays.
Rober: Para encerrar, vamos fazer um “bate-bola” rápido. Por favor, me diga um anime.
Beatriz: Neon Genesis Evangelion
Rober: Um mangá.
Beatriz: Chobits.
Rober: Um anime que todo mundo gosta, menos você.
Beatriz: A maioria dos que entram no hype. Eu nunca entendi por que gostam tanto de Kimetsu no Yaiba, por exemplo.
Rober: Um jogo.
Beatriz: Vou falar um que marcou minha infância: Outlaws. E dos atuais, Maneater.
Rober: Uma cor.
Beatriz: Turquesa.
Rober: Uma comida.
Beatriz: Couve.
Rober: Se pudesse fazer apenas um pedido para Shen Long, qual seria?
Beatriz: Acho que mais reconhecimento para meus cosplays. Eu faço muitos personagens antigos que a maioria não conhece (risos).