Serial Experiments Lain é um anime notável pela sua complexidade, que vai muito além da narrativa tradicional, abrangendo uma vasta gama de influências. A série incorpora elementos filosóficos profundos, desde questões existenciais e ontológicas até debates sobre a natureza da realidade e da identidade. Além disso, explora a história da computação e da internet, oferecendo uma visão quase profética sobre o impacto da tecnologia na sociedade.
A obra também mergulha em referências à literatura cyberpunk, enriquecendo sua trama com a atmosfera distópica e a reflexão sobre a fusão entre homem e máquina, características típicas do gênero. Além disso, há uma clara influência de ordens místicas, hermetismo e alquimia, que se manifestam nas simbologias e metáforas usadas ao longo da série, evocando um sentido de mistério e transcendência. As teorias da conspiração também desempenham um papel crucial, questionando as fronteiras entre o que é real e o que é manipulado.
Desde seu lançamento, Serial Experiments Lain tem sido objeto de inúmeras análises e estudos acadêmicos, o que atesta sua profundidade e relevância cultural. O anime trouxe à tona temas inovadores para a época, que desafiavam as convenções do gênero, contribuindo para uma discussão mais ampla sobre a interação entre tecnologia e humanidade. Como resultado, Lain não apenas se destacou, mas solidificou sua posição como um dos pilares do cyberpunk no mundo dos animes, ao lado de obras icônicas como Akira, Ghost in the Shell e Neon Genesis Evangelion. Seu legado permanece vivo, continuando a ser celebrado como um dos maiores sucessos do segmento, tanto pelo seu conteúdo denso quanto pela sua ousadia estética.
Enredo
O anime retrata a Wired como a culminação de todas as redes de comunicação humana, inicialmente desenvolvidas a partir de tecnologias como o telégrafo e o telefone e posteriormente ampliadas pela internet e suas sucessoras. No universo do anime, a Wired é descrita como uma rede que pode ser conectada a um sistema que permite a comunicação inconsciente entre pessoas e máquinas, eliminando a necessidade de uma interface física. Este conceito é introduzido através da Ressonância Schumann, uma propriedade do campo magnético da Terra, que, teoricamente, supera todas as barreiras de comunicação a longa distância. Caso uma conexão desse tipo fosse estabelecida, a Wired se tornaria equivalente à realidade, com base em um consenso geral de percepções e conhecimento. A partir disso, a linha tênue que separa o real do virtual começaria a desaparecer, provocando uma fusão entre os dois mundos.
Dentro dessa narrativa complexa, somos apresentados a Eiri Masami, o diretor do projeto Protocolo 7, que representa a próxima geração do protocolo de internet desenvolvido pela poderosa empresa de computação Tachibana Labs. Masami, em um ato de subversão, insere secretamente um código no sistema que lhe concederia controle absoluto sobre a Wired. Ele então carrega sua própria consciência na rede e, pouco tempo depois, morre na vida real. Esses detalhes são revelados a partir da metade da série, mas é nesse ponto que a verdadeira trama de Serial Experiments Lain começa a se desenrolar. Masami revela que Iwakura Lain é o artefato destinado a derrubar a barreira entre o mundo real e o virtual, e ele precisa que ela “abandone seu corpo”, assim como ele fez, para alcançar seu objetivo. À medida que a série avança, vemos Masami tentando persuadi-la através de uma série de intervenções, oferecendo promessas de amor incondicional, destino predestinado, e, quando essas táticas falham, recorrendo a ameaças e força bruta.
Paralelamente a esses eventos, o anime nos conduz por um intricado jogo de “esconde-esconde” entre os Knights, um grupo de hackers que Masami descreve como “crentes que o permitiram ser um deus na Wired”, e a Tachibana Labs, que luta para recuperar o controle do Protocolo 7. No clímax da narrativa, o espectador testemunha Lain compreendendo, após uma profunda introspecção, que ela possui poder absoluto sobre a mente das pessoas e até mesmo sobre a própria realidade. Diálogos entre diferentes versões de si mesma expõem o quanto ela se sente alienada do mundo real e revelam seu medo de viver permanentemente na Wired, onde ela detém as possibilidades e responsabilidades de uma deusa. O dilema de Lain é, em última análise, uma meditação sobre a natureza da realidade e da existência, questionando até que ponto a tecnologia pode redefinir o que significa ser humano.
No Brasil
A Locomotion anunciou que exibiria o anime em toda a América Latina, mas, quando ele finalmente estreou no canal quase dois anos depois, grande parte das exibições foi ao ar sem legendas. Era raro encontrar episódios legendados, e, quando apareciam, muitas vezes estavam em espanhol.
Quando o Animax substituiu a Locomotion, o público brasileiro finalmente pôde assistir à série de maneira adequada, pois o anime foi dublado em português. A dublagem brasileira foi realizada no estúdio Álamo, onde Lain recebeu a voz da dubladora Letícia Quinto (conhecida por dar voz à Saori em Os Cavaleiros do Zodíaco). O anime teve algumas reprises no canal.