Você está ciente das semelhanças entre Lionel Messi, Zinedine Zidane e Fernando Sanz? Para além de suas carreiras como jogadores de futebol, todos foram inspirados no esporte por um jovem japonês chamado Ōzora Tsubasa. A série de mangá e anime Super Campeões (Captain Tsubasa) não apenas se destaca como a principal franquia de futebol do mundo, graças à sua originalidade, mas também alterou como o Japão interage com o esporte.

Além de seu impacto global, Super Campeões tem um lugar especial na memória dos brasileiros. Afinal, a franquia conquistou pelo menos três gerações diferentes com suas animações transmitidas ao longo de décadas distintas.

Apesar de ser considerado um dos principais promotores do futebol no Japão, o autor da série não era um entusiasta do esporte. Na verdade, Takahashi Yōichi era um grande admirador de outra atividade: o beisebol! Ele compartilhou em uma entrevista ao site Nippon.com:

Foi durante meu último ano do ensino médio, assistindo à Copa do Mundo na Argentina pela televisão, que me interessei pelo esporte. Isso despertou minha curiosidade e comecei a pesquisar sobre futebol. Descobri que na Europa o futebol era muito mais popular que o beisebol e tinha um número muito maior de praticantes. Foi surpreendente para mim imaginar que o futebol fosse o esporte número um do mundo.

A singularidade do conceito impulsionou o autor, pois, embora houvesse uma variedade de mangás esportivos em circulação no Japão, nenhum se destacava no universo do futebol: as histórias predominantes eram sobre beisebol, boxe e outros esportes. Ao ser publicado na principal revista de mangás do país, Super Campeões se tornou uma espécie de “manual de futebol” para os japoneses. Em uma entrevista à Al Jazeera, Takahashi explicou:

Eu percebi o quão fascinante o futebol poderia ser e desejava vê-lo tornar-se um esporte popular no Japão. Foi por isso que escrevi esse mangá, detalhando o futebol para o público japonês.

Enredo

A narrativa de Super Campeões é bastante descomplicada, seguindo os clichês típicos do gênero esportivo. O protagonista, Ōzora Tsubasa, é um garoto de 11 anos obcecado por futebol, frequentemente visto com uma bola debaixo do braço. Ele se junta ao modesto time local, o Nankatsu Futebol Clube, apesar de suas limitações. No clube, ele faz amizade com outros jovens como Ishizaki Ryō e Misaki Tarō, enquanto rivaliza com o goleiro Wakabayashi Genzō e o atacante Hyūga Kojirō. Recebendo instruções do ex-jogador brasileiro Roberto Hongo, Tsubasa sonha em um dia jogar no time do São Paulo (ou Brancos, como é chamado na história do anime para evitar questões de direitos autorais com times reais).

Super Campeões está navegando na fronteira entre a realidade e o absurdo. Enquanto todas as regras do jogo são seguidas meticulosamente dentro das quatro linhas do campo, os garotos, justamente por ser um anime, exibem habilidades físicas e técnicas que parecem ter saído diretamente de um anime como Dragon Ball Z. Seus chutes são envolvidos por uma aura de energia, um jogador sozinho pode percorrer um campo quase infinito de uma só vez, e um gol de bicicleta é a forma mais estilosa de derrotar os adversários. Os treinamentos retratados também flertam com a surrealidade, como Kojirō praticando seus chutes contra ondas gigantescas de três metros de altura — o que explica em grande parte de onde Super Onze tirou suas inspirações.