Temporada de outono de 2021. Grandes animes viram a luz do dia nessa que foi uma das principais temporadas do último ano. Animes como Ōsama Ranking, Komi-san wa, Komyushō Desu (meu queridinho) e Blue Period, aquele que será o assunto de hoje, são alguns exemplos. O “anime das artes” vai além do entretenimento e nos apresenta vislumbres interessantes sobre questões existenciais, então prepare seus pincéis, tinta guache e as folhas sulfite, querido leitor. Hoje nós vamos “pintar o sete”.
Sinopse
O estudante do segundo ano do ensino médio Yatora Yaguchi é um delinquente com excelentes notas, mas está desmotivado para encontrar sua verdadeira vocação na vida. Yatora passa seus dias trabalhando duro para manter sua posição acadêmica enquanto sai com seus amigos igualmente pouco ambiciosos. No entanto, sob seu comportamento despreocupado, Yatora não gosta de nenhuma das atividades e deseja encontrar algo mais gratificante.
Enquanto medita sobre sua situação, Yatora se vê olhando para uma paisagem vibrante de Shibuya. Incapaz de expressar como se sente sobre a visão incomumente de tirar o fôlego, ele pega um pincel, esperando que seus pensamentos sejam transmitidos na tela. Depois de receber elogios por seu trabalho, a alegria que sente o leva a uma jornada para entrar na extremamente competitiva Tokyo University of the Arts – uma escola que aceita apenas um em cada 200 candidatos.
Enfrentando colegas talentosos, falta de compreensão das artes plásticas e lutas para obter a aprovação de seus pais, Yatora é confrontado com muitas adversidades. Na esperança de garantir uma das cinco vagas de prestígio em seu programa de escolha, Yatora deve mostrar que sua inexperiência não o define.
O poder da arte para a humanidade
Qual o sentido da vida? Qual o motivo de nos levantarmos dia após dia e seguir com nossas existências, sonhos e responsabilidades? Seriam as contas a pagar? Seria o desejo de deixar um legado marcante? Ou vivemos de modo puramente automático, em uma total ausência de significado?
Perguntas assim marcam nossa espécie. Desde que nossos antepassados começaram a se ater a essas dúvidas, elas nunca nos deixaram. Da ciência à religião, vários são os meios que usamos para responder nossas dúvidas existenciais.
Robert McKee, um dos maiores nomes da arte de se contar histórias em formato audiovisual, aponta que, dentre os grandes meios que usamos para tentarmos chegar ao sentido de nossas vidas (filosofia, ciência, religião e arte), três deles estão “em apuros”. Segundo ele:
Hoje em dia quem lê [filósofos como] Hegel ou Kant sem passar por uma prova? A ciência, outrora o grande explicador, confunde a vida com complexidade e perplexidade. Quem pode ouvir sem cinismo os economistas, sociólogos, políticos? [por fim] a religião, para muitos, tornou-se um ritual vazio que mascara a hipocrisia.
Uma área, porém, se destaca e desponta como aquela que tem o poder de apontar aos homens uma razão de existir: a arte!
McKee não é o único a pensar assim. Hayao Miyazaki, cofundador do Studio Ghibli e um dos maiores nomes da história do cinema de animação, é categórico:
Eu acredito no poder da história. Acredito que as histórias têm um papel importante a desempenhar na formação de seres humanos, que podem estimular, surpreender e inspirar seus ouvintes.
McKee e Miyazaki, como bons nomes ligados aos cinema que são, destacam o papel da contação de histórias pela sétima arte, mas sem dúvidas podemos expandir tal poder para todas a arte em todas suas formas, como ilustrações e pinturas, que são as formas de arte que permeiam Blue Period e transformam para sempre o destino de Yatora Yaguchi.
Como a arte transformou Yaguchi
Como vimos na sinopse, Yatora Yaguchi, o protagonista de Blue Period, carecia justamente desse sentido de vida. Suas ótimas notas e os elogios decorrentes de sua boa performance escolar não traziam o preenchimento que o rapaz precisava. Às portas da formatura e calçado pela necessidade de escolher um caminho acadêmico e profissional, ele se sentia extremamente vazio por dentro.
Esse vazio só foi preenchido quando a luz da arte raiou sobre a escuridão de seu espírito. A partir desse momento, sua vida ganhou (literalmente) cores e texturas nunca antes experimentadas pelo rapaz. Já no primeiro episódio do anime vemos essa reviravolta na história pessoal de Yatora, que, a partir desse ponto, se vê cada vez mais imerso no mundo dos pincéis, grafites e telas. Esse é o poder da arte!
Por hoje é só, meus queridos leitores. Espero que tenham gostado do papo de hoje. Fique à vontade para, se for o caso, discordar dos pontos de vista apresentados aqui embaixo na seção de comentários. Nos vemos na próxima semana nesta mesma coluna e nesta mesma rádio, que é do seu jeito, do seu gosto. Bye bye.