Uma das principais marcas da cultura japonesa com certeza é a sua culinária envolvendo frutos do mar. A razão disso é que a prática da pesca é tão antiga quanto o próprio Japão.

A cultura da pesca remete aos primórdios da sociedade japonesa e está presente a todo momento na vida dos japoneses, até mesmo quando se trata de videogames.

Podemos observar o caso de Kawa no Nushi Tsuri, lançado em 1990 pela Pack in Video para o Famicom (versão japonesa do Super Nintendo). O jogo de pescaria, publicado exclusivamente no território japonês, teve boa recepção no mercado e rendeu outras três continuações, ainda no mesmo console. A franquia seguiu através das novas gerações de consoles, assim publicando novos títulos para Game Boy Advance, Nintendo 64, PlayStation e mais tarde para o Nintendo 3DS.

Jogos de pesca são extremamente populares entre os jogadores japoneses, desde o clássico Fishing Derby (1980) para o Atari 2600 até Reel Fishing Paradise 3D (2011) para o Nintendo 3DS. Não é exagero dizer que praticamente todos os consoles possuem pelo menos um jogo com a temática de pescaria. Isto deve-se ao reflexo da tradição ancestral da pesca no coração da cultura do povo japonês.

Conhecido popularmente como Terra do Sol Nascente, o território japonês se encontra em meio ao Oceano Pacífico, sendo composto por um arquipélago contendo quatro grandes ilhas: Kyūshū, Honshū, Shikoku e Hokkaidō, além de outras milhares de ilhas menores. O clima chuvoso e o terreno montanhoso tornava difícil a pecuária e a agricultura. Mediante a estes fatores, os antigos japoneses voltaram seus esforços para o mar, resultando em um povo extremamente dependente da pesca.

Contudo, o Japão enfrenta uma conturbada situação ambiental no seu território tanto em seus rios quanto em seus mares. Questões ligadas ao combate à pesca predatória, preservação de espécies nativas e maus-tratos a animais estão entre as diversas problemáticas enfrentadas pelos japoneses.

A Organização independente People for the Ethical Treatment of Animals (PETA) critica radicalmente a prática de pesca tradicional conhecida como ukai. O ukai é uma forma de pesca antiga que envolve o uso da ave cormorão, também conhecida como corvo marinho. O ukai consiste em amarrar um fino cordão no pescoço do pássaro e soltá-lo; assim que o cormorão fisga o peixe, o pescador o puxa de volta para o barco e toma o peixe de seu bico. A prática do ukai data de mais de 1300 anos e tem sido alvo de várias críticas de movimentos relacionados aos direitos dos animais além da própria PETA.

Outro problema relacionado aos oceanos japoneses é a caça às baleias. A ONG Greenpeace defende a criação de uma santuário para as baleias no território marítimo japonês, visto que nos mares do Japão se encontram zonas de reprodução de diversas espécies de baleias. No entanto, apesar das pressões de vários países estrangeiros, principalmente sul-americanos, e organizações independentes, o governo japonês insiste na legalização da caça às baleias em seu território.

Vale lembrar do acidente na usina de Fukushima em 2010. Biólogos marinhos afirmam que, apesar de o ocorrido não ter resultado em uma explosão nuclear, pode ter havido vazamento de material radioativo, contaminando as águas daquela região.

Diante essa problemática, o governo japonês tem reagido devagar e se mostrado muito conservador. Todavia, grande parte da população japonesa é ciente da situação e tem mostrado constante desaprovação principalmente nas redes sociais.

A abordagem da problemática ambiental nos mares do Japão não é simples. As abordagens devem ser elaboradas levando em consideração a importância que a pesca tem na vida dos cidadãos e seu significado histórico-cultural. Afinal de contas, como vamos ter novos jogos de pesca se não tivermos mais peixes?