Porco Rosso: O Último Herói Romântico foi concebido originalmente como um curta-metragem de encomenda para a Japan Airlines, baseado em um mangá de 15 páginas escritas e desenhadas por Hayao Miyazaki em 1989, e rapidamente se transformou em um longa-metragem (que eu considero ser um dos melhores dele), embora não receba tanta atenção quanto os demais. E é sobre ele que eu e a Vicky iremos falar hoje!

Sinopse

Um piloto veterano da Primeira Guerra Mundial, amaldiçoado a assumir para sempre a forma de um porco antropomórfico, passa seus dias no começo da década de 1930 na Itália, fazendo trabalhos aéreos. É quando é chamado para resgatar uma vítima sequestrada por piratas do ar.

Vicky

Essa semana minha sugestão para review foi um dos filmes que mais gosto do Hayao Miyazaki e que acredito que não tenha a atenção devida para o mesmo. O que mais me impressiona sobre ele é que é um longa que consegue ser divertidíssimo, falando a respeito de um período histórico conturbado e utilizando uma estrutura típica do romantismo. E vamos dar uma pequena pausa para a definição do romantismo:

O romantismo foi um movimento artístico, político e filosófico surgido nas últimas décadas do século XVIII na Europa que durou por grande parte do século XIX. Os autores românticos voltaram-se cada vez mais para si mesmos, retratando o drama humano, amores trágicos, ideais utópicos e desejos de escapismo. O termo romântico refere-se ao movimento estético, ou seja, à tendência idealista ou poética de alguém que carece de sentido objetivo.

O filme se situa no final dos anos 1920, em uma Itália tomada pelo fascismo, e é caracterizado por um realismo que não é muito presente na filmografia de Miyazaki e que se deve basicamente em grande medida à eclosão dos conflitos étnicos e guerras na antiga Iugoslávia, que resultaram em incontáveis mortes, além de sua divisão em diversos países na época de sua produção, que se passa em grande parte na mesma região geral da Dalmácia. Assim, podemos dizer que ele é uma mistura dos dois extremos: de um lado, a realidade localizada no século XX, durante o período entre-guerras; por outro lado, a fantasia, um protagonista que é um porco falante de aparência humana.

Haydaru

Porco Rosso era originalmente um ser humano chamado Marco, que acaba sofrendo as consequências de um feitiço que o transformou em porco, sendo agora um aviador caçador de recompensas que se dedica a interromper todos os atos de vandalismo perpetrados pelos piratas do ar adriático. E logo estes contratam os serviços de um aventureiro americano para terminar de uma vez por todos com Porco Rosso.

Boa parte do filme acontece no céu, com muitas sequências aéreas que impressionam, com variadas manobras e batalhas. Combinado a isso, temos uma narrativa muito bem construída, e destaco especialmente a construção do personagem de Porco Rosso ao longo do filme, que tem muitas cenas memoráveis, excelente animação e ótimos cenários, tudo isso junto com uma trilha sonora fantástica.

Vicky

Sendo ambientado em uma Itália em guerra, Porco Rosso adota um tom romântico, presente na belíssima trilha sonora de Joe Hisaishi (Nausicaä do Vale do Vento) e com um personagem cuja personalidade e princípios o impedem de se aliar com antigos amigos que aderiram ao lado fascista na guerra, e acho que esse é um dos pontos que me fez simpatizar com o Marco logo de cara! A ascensão do fascismo é bem explorada, mostrando que aqueles que não se adaptam às novas normas são caçados e abatidos por quem está no comando. As frases que são distribuídas ao longo do filme trazem toda a importância da luta diária pelo direito à liberdade, e talvez a mais conhecida delas:

Eu prefiro ser um porco a ser um fascista!

Quando assistimos ao filme, acredito que a primeira coisa que queremos saber, é o motivo do protagonista ter cara de porco, pois ao longo do filme não vemos outros personagens meio humanos e meio animais. Um flashback nos explica, nos levando a uma batalha aérea durante a Primeira Guerra Mundial em que Marco participou. Ele estava em patrulha com seus companheiros no Mar Adriático quando foram interceptados por um grupo de aviões adversários; nessa batalha, muitas pessoas morreram: Marco se torna um porco pela vergonha de ter sido o único sobrevivente entre seus companheiros! Ele não se recorda apenas de seus companheiros, mas de todos os que morreram na guerra. Nomes, sobrenomes, cores e nacionalidades deixam de existir, e as imagens nos passam uma mensagem: um céu coberto de belos aviões, aparentemente festivos, mas que esconde uma brutalidade sombria ocasionada pela guerra.

Haydaru

Com uma temática consideravelmente pesada, Porco Rosso: O Último Herói Romântico consegue introduzir elementos fantasiosos e carismáticos que ninguém esperava de uma história passada entre guerras, e sem perder o cerne político e sem ter medo de colocar o dedo na ferida quando necessário. Mas, ainda com esses aspectos, a trama se mantém leve e nos traz uma narrativa fácil de entender, apreciando as criticas bem construídas da história.

Vicky

Não quero aprofundar tanto pois prefiro que tenham a experiência de assistir, sem muitos spoilers, mas Porco Rosso é uma experiência inesquecível, ainda que injustamente “esquecida” e, por isso, recomendo fortemente que assistam! Minha nota é 10/10.

Ficha técnica

  • Porco Rosso: O Último Herói Romântico (Kurenai no Buta – Japão, 1992)
  • Direção: Hayao Miyazaki
  • Roteiro: Hayao Miyazaki (baseado em seu mangá)
  • Elenco: Shūichirō Moriyama, Akio Ōtsuka, Akemi Okamura, Tokiko Kato, Sanshi Katsura, Mahito Tsujimura, Tsunehiko Kamijō, Reizō Nomoto, Osamu Saka, Yū Shimaka
  • Duração: 94 min

Você já assistiu Porco Rosso? Se sim, o que mais achou de interessante do filme?