Saudações, leitores. Mais uma semana se passou, e cá estamos para mais um texto especial da nossa coluna. Na semana passada, iniciamos nossa série de artigos sobre os quatro tipos possíveis de finais para uma série, filme etc. Se ainda não viu o texto da última quinta-feira, corre lá que ainda dá tempo (até porque as publicações ficam salvas no nosso site). Há alguns dias, vimos o melhor dos cenários no chamado “final doce”, no qual os personagens conseguem tanto o que eles querem conseguir quanto aquilo que eles precisam conseguir (como aprender uma lição de vida, por exemplo). Mas o que acontece se rolar exatamente o oposto? É aí que entra o nosso tema dessa semana, o chamado “final amargo“. Então, sem mais delongas, bora para o papo dessa semana.

No capítulo anterior…

No último artigo, nós vimos um pouco sobre o que determina um final de uma produção e sobre como isso está relacionado ao arco de personagem, sobre a verdade com a qual o personagem precisará lidar e aquilo que o personagem quer versus aquilo que o personagem precisa. Aproveitando que os vestibulares estão cada vez mais próximos, vamos fazer um resumão esperto para refrescar nossa memória:

  • Arco de personagem: a trajetória do personagem, construído em cima do “atrito” causado entre o que o personagem quer e o que ele realmente precisa.
  • O que o personagem quer e o que o personagem precisa: Em todas as histórias (ou na maioria delas), o protagonista terá algo que ele quer conquistar (dinheiro, bens materiais, sexo etc.) e aquilo que ele precisa conquistar (aprender alguma lição, melhorar algum aspecto do seu caráter etc.), sendo que a história vai se desenvolver em torno da jornada do protagonista rumo a uma coisa ou outra ou até mesmo ambas ou nenhuma delas. O que o personagem quer e o que ele precisa não são necessariamente os mesmos durante toda a trama, eles podem ser substituídos a qualquer momento.
  • Verdade: A lição e/ou revelação que o protagonista precisa encarar em algum momento da história. Aceitar ou não essa verdade será determinante para o tipo de final que a obra terá.

Quando um personagem sai “de mãos vazias”

Ok, agora que alguns conceitos importantes estão frescos em nossa memória, vamos começar a falar sobre o tal “final amargo”. Lembram que o “final doce” é o final em que o protagonista consegue tanto o que ele quer quanto o que ele precisa (até por ter encarado a verdade necessária e a aceitado)? Pois bem, o final amargo é exatamente o oposto: o protagonista sai “de mãos abanando”, não conseguindo nem o que quer nem o que precisa.

Esse tipo de final é mais comum em obras mais densas e complexas, não estando presente na maioria dos filmes e séries das principais sessões de cinema e serviços de streaming – e certamente não é nada popular em filmes como os da Pixar ou nos anime shōnen!

Para uma rápida ilustração dos finais amargos, vamos aproveitar o imenso hype em cima de Spy × Family (se a Anya não for a personagem mais comentada do ano, eu não sei quem é) e citar um dos maiores clássicos da história do cinema e seu final amargo: O Poderoso Chefão 2. Segundo o filósofo, estudioso e pensador contemporâneo Michael Kyle, tudo o que nós precisamos aprender na vida está em O Poderoso Chefão, então acredito ser uma boa escolha. Ah, lá vem spoiler, ok? Não sei se é possível dar spoiler de um filme lançado em 1974, mas, por via das dúvidas, é melhor avisar (haha). E caso você esteja se perguntando qual a relação entre as duas obras, eu te digo: família! Nos dois casos existem famílias no centro da treta toda. Ok, vamos para o exemplo.

No começo de O Poderoso Chefão 2, Michael Corleone está tentando levar uma vida normal ao lado de sua segunda esposa, Kay. Após seu pai, Vito Corleone, sofrer um atentado, porém, ele se vê responsável por proteger sua família, ainda que, para isso, tenha de se envolver cada vez mais nos “negócios” da família, abdicando de uma vida pacata ao lado de sua companheira. No início do filé, o que Michael quer é tentar levar uma vida tranquila com Kay, sendo que, para tanto, ele precisa se afastar de qualquer atividade escusa de seu clã. Após o ataque a Dom Corleone, contudo, tanto seu desejo quanto sua necessidade são postos de lado a fim de que Michael ajude a família. Não demora muito até que sua relação com Kay se desgaste e imploda, culminando em um divórcio. Voilà, eis um final amargo!

Finais amargos são mais amargos que café sem açúcar. Espero que a Saya se lembre disso (e não derrame todo o café no chão).

Por hoje é só, meus queridos. Muito obrigado pela atenção e paciência. Espero que tenham gostado. Nos vemos na próxima semana nesta mesma coluna, nesta mesma rádio, que é do seu jeito, do seu gosto. Bye bye.