Saudações, leitores queridos. Mais uma quarta-feira e mais um artigo nesta coluna. Dando continuidade à nossa série de textos sobre os quatro tipos possíveis de finais em uma obra audiovisual, vamos falar sobre os chamados finais agridoces, um dos dois tipos de finais que são um meio-termo entre os finais doces e amargos. Ficou curioso? Gosta de comidas agridoces? É um amante da onipresente uva-passa (o maior instrumento de criação de comidas agridoces da Terra) ou acha que são o ponto fraco do Natal? Sem mais delongas, vamos para o nosso tema desta semana.

No capítulo anterior…

Antes de entrar no final agridoce propriamente dito, vamos ver um resumão de alguns pontos importantes para a gente entender tudo direitinho:

  • Arco de personagem: É a trajetória do personagem, construída em cima do “atrito” causado entre o que o personagem quer e o que ele realmente precisa.
  • O que o personagem quer e o que o personagem precisa: Em todas as histórias (ou na maioria delas), o protagonista terá algo que ele quer conquistar (dinheiro, bens materiais, sexo etc.) e aquilo que ele precisa conquistar (aprender alguma lição, melhorar algum aspecto do seu caráter etc.), sendo que a história vai se desenvolver em torno da jornada do protagonista rumo a uma coisa ou outra ou até mesmo ambas ou nenhuma delas. O que o personagem quer e o que ele precisa não são necessariamente os mesmos durante toda a trama, eles podem ser substituídos a qualquer momento.
  • Verdade: A lição e/ou revelação que o protagonista precisa encarar em algum momento da história. Aceitar ou não essa verdade será determinante para o tipo de final que a obra terá.

Como se dá um final agridoce

Ok, agora vamos para o final agridoce em si. Ao contrário do final doce, em que o protagonista consegue tanto o que quer quanto o que precisa, e do final amargo, em que o protagonista não consegue nem o que quer nem o que precisa, no final agridoce nós temos um personagem que chega na metade do caminho, conseguindo o que quer, mas não o que precisa. Ainda que isso possa parecer algo bom já que o personagem principal alcançou seus objetivos, esse tipo de final se mostra especialmente perigoso para o protagonista, uma vez que este pode ter como objetivo algo ruim ou algo que, para ser alcançado, exigirá que o protagonista sacrifique muitas coisas pelo caminho, fazendo com que ele eventualmente perca amigos, pares românticos, admiração e respeito de pessoas próximas etc.

Para deixar mais claro: imagine um anime shōnen clássico, como Naruto, Dragon Ball ou Kimetsu no Yaiba. Todo protagonista de shōnen que se preze apresentará uma força de vontade descomunal para alcançar seus objetivos. Os protagonistas de animes shōnen, contudo, geralmente almejam coisas nobres como salvar o mundo ou alcançar um sonho. Agora imagine um personagem com a força de vontade de um protagonista de shōnen cujo alvo é conquistar status social, prestígio, dinheiro, fama e poder, não se importando com o que tenha que fazer para atingir essa meta. As coisas começam a ficar mais sombrias, certo? Esse é o tipo de cenário perfeito para um final agridoce.

Em um filme ou série com final agridoce, o protagonista irá rejeitar a verdade com a qual ele se encontrará pelo caminho, optando por uma mentira que lhe for mais conveniente. Se, por exemplo, a verdade que o personagem deveria aceitar é algo como deixar o egoísmo destrutivo de lado, mas alcançar seu objetivo (ao menos na forma e na velocidade desejadas) passa por pensar apenas em si mesmo, colocando em xeque suas amizades e demais relacionamentos interpessoais, o protagonista escolherá manter-se em sua ego trip narcisista, megalomaníaca e egocentrada. Consegue o que quer, mas não o que precisa. A realização pessoal acaba não sendo completa. Um final que, apesar alguns ganhos, é triste.


Por hoje é só, pequenos gafanhotos. Espero que tenham gostado do texto de hoje. Deixem nos comentários o que estão achando dos artigos e até dos nomes dos tipos de finais (lembrando que não fui eu quem os criou haha). Nos vemos na próxima semana nesta mesma coluna e nesta mesma rádio, que é do seu jeito, do seu gosto. Bye bye.