Saudações, leitores. Como estão neste início de mês? Hoje o assunto são os flashbacks, aqueles momentos do passado em uma produção nos quais nos são apresentados histórias, segredos e várias outras coisas dos personagens e tramas. Mas será que eles geralmente são usados da maneira mais proveitosa possível? Ou será que acabam se tornando um “modo fácil” de se fazer as coisas? Sem mais delongas, bora para o texto de hoje ver este e outros pontos relevantes sobre os flashbacks. Só lembrando que nada do que nós veremos hoje são regras máximas que não podem ser violadas de maneira alguma. Sempre haverá exceções dependendo do público-alvo, orçamento etc. Existem boas produções que não seguem à risca alguns dos pontos que serão discutidos a seguir. Combinado? Então agora sim, bora para o assunto da semana.

O uso apropriado dos flashbacks: estilo linguístico

Os flashbacks são muito comuns nas mais diversas mídias. Seja em um filme clássico dos anos 80 ou no episódio mais recente de um anime da temporada atual, vemos com frequência o passado sendo mostrado através dessas inserções esporádicas. Cabe a discussão, porém, em relação a alguns pontos sobre o uso dos flashbacks, um deles um pouco mais voltado para a parte teórica, e o outro, para o grande público. Claro, os dois são importantes para a audiência, mas acredito que um erro relacionado ao segundo ponto deva ser evitado com ainda mais empenho pelos roteiristas.

O primeiro deles, mais teórico, diz respeito ao uso (ou não) de flashbacks como um “estilo linguístico”. Por “estilo linguístico” me refiro ao estilo da linguagem e da narração presente em uma obra, mas não se preocupe, quando eu citar um exemplo isso vai ficar mais claro. Por agora, eu gostaria de focar um ponto bem importante sobre os roteiros. O ideal ao criar uma história é “presentificar” as informações, ou seja, colocar os eventos na ordem em que eles ocorrem, em tempo corrido (presente), ao invés de mostrar o presente e, em seguida, usar um flashback para mostrar o que já aconteceu.

Exemplo: um personagem está caído no chão, chorando. Um outro personagem chega e lhe pergunta o que está acontecendo. O primeiro personagem diz que foi arranhado por um gato de rua ao tentar fazer carinho nele. Quando o primeiro personagem começa a falar do gato, aparece um flashback da cena que ele está citando. Ou seja, temos um momento presente (personagem chorando) intercalado com um flashback (o motivo do choro, no caso o gato arisco). O recomendado é inverter a ordem: primeiro o gato arranha, depois o personagem cai no chão e chora e, em seguida, o segundo personagem aparece.

Falando em gato que arranha, eis o Meowth aproveitando seu tempo livre na praia.

Pelo apresentado acima, já vemos que o uso dos flashbacks deve ser feito com cautela. Há, porém, uma outra questão, justamente o uso do flashback como estilo linguístico. Lembram que eu disse que iria ficar mais fácil de entender quando eu desse um exemplo? Então vamos lá. Lembram-se da série Todo Mundo Odeia o Chris, que se transformou em um ícone pop internet afora? Pois bem, Todo Mundo Odeia o Chris é um bom exemplo de uso de flashbacks como estilo linguístico. A série usa flashbacks com frequência nas mais variadas situações, mas o faz de maneira consciente e intercalando os flashbacks com outros momentos que não necessariamente ocorreram no passado, mas são imaginações do Chris, cenários hipotéticos etc. Dessa maneira, os flashbacks acabam se tornando parte de um estilo maior e bem planejado que ocupa toda a obra.

Agora, quando o uso do flashback existe apenas para passar uma informação, nós voltamos dois parágrafos e caímos na questão da “presentificação de informações”, ou seja, se um flashback está lá só para contar um ou mais momentos que os criadores julgaram relevantes, mas não faz parte de um estilo linguístico maior, melhor evitá-lo e passar as informações de maneira sequencial (o que acontece agora seguido do que acontece depois, não o que acontece agora seguido daquilo que já aconteceu).

O uso apropriado dos flashbacks: um único flashback

Sabem o que deve ser ainda mais evitado do que o uso de flashbacks como simples forma de se mostrar algo, deixando de lado um estilo linguístico maior que o inclua? Colocar apenas um flashback! Ok, não é sempre que isso ocorre (ainda bem!), mas existem exemplos de filmes que passam 98% do seu tempo sem lembrar que os flashbacks existem para, no fim, colocar um deles. Sem falar nos animes que colocam (literalmente) um flashback e somente o faz em alguns episódios (cof’ cof’ Hell Girl cof’ cof’). Usar flashbacks apenas de vez em quando causa na audiência um estranhamento, uma vez que não se cria um padrão constante de uso de flashbacks. Nós, seres humanos, adoramos padrões e, quando eles não existem em uma obra, nossa experiência consumindo aquela produção é afetada.


Por hoje é só, pessoal. Espero que tenham gostado do conteúdo dessa semana. Nos vemos na próxima quarta-feira nesta mesma coluna, nesta mesma rádio, que é do seu jeito, do seu gosto. Bye bye.