O que é, o que é: geralmente dura menos de três minutos, todo mundo gosta, comenta e vê, mas nunca faz (principalmente nerds e otakus) e pode acabar decepcionando geral no final? Exatamente, os trailers!

Saudações, queridos leitores. Como passaram a última semana? Hoje vamos falar um pouquinho sobre os trailers de filmes e animes, sempre esperados e amados mas igualmente criticados por nós, entusiastas da cultura pop de plantão. Então, sem mais delongas, bora pro texto de hoje.

Fun n’ Games e Beat Sheet: o “filé mignon” de uma obra

Antes de começarmos, só um lembrete: o que vamos ver hoje não se trata de uma regra inegociável, apenas serve como um guia geral para orientar a galera que produz os trailers, ok? Agora sim, bora pro assunto.

Se vocês não estiveram passeando em Marte nas últimas décadas, já devem ter visto ao menos um trailer de algum filme, anime ou coisa que o valha. Já repararam como os trailers são animados, intensos, vibrantes e empolgantes? Se não são, algo de errado não está certo, pois os trailers geralmente são feitos com as partes mais excitantes de uma obra, justamente para fisgar audiência. Mas qual a melhor parte de um filme ou anime para que seja usada no trailer? A resposta (muitas vezes) está no chamado Beat Sheet.

O Beat Sheet é uma estrutura narrativa muito usada há anos, tanto em Hollywood quanto em outras praças, criada pelo finado roteirista Blake Snyder, criador de dois dos maiores clássicos da Sessão da Tarde nos anos 90: Pare! Senão Mamãe Atira e Cheque em Branco. Ok, esses filmes não são tão clássicos quanto A Lagoa Azul ou Os Goonies, mas com certeza fizeram parte da vida da galera que nasceu dos anos 90 para trás. De qualquer forma, o que nos interessa sobre o Blake Snyder é justamente o Beat Sheet, que segue, basicamente, aquela velha fórmula do herói e sua aventura. O grande “pulo do gato” do Snyder está em um dos 15 passos de sua estrutura: o chamado Fun n’ Games (ou Diversão e Jogos, em uma tradução livre). O Beat Sheet engloba começo, meio e fim de uma produção, usando 15 diferentes passos para facilitar sua composição. O começo de um filme, por exemplo, possui, segundo Snyder, cinco passos a serem cumpridos: Imagem de Abertura, Declaração do Tema, Set Up, Catalisador e Grande Debate. Seguindo esses passos, fica mais fácil de se criar um roteiro (ainda que não seja obrigatório seguir todos ou mesmo algum deles).

O Fun n’ Games, segundo Blake Snyder, é a parte de um filme que entrega justamente aquilo que o filme promete entregar, como se fosse a “polpa” do filme, a “essência” da obra. É aquela parte em que o filme, série, anime etc. te entrega aquilo que ele te prometeu quando você leu a sinopse. Por exemplo: um filme promete um adorável ratinho cozinhando em um restaurante. Logo, na parte do Fun n’ Games, que costuma acontecer entre 20 e 40 minutos, o filme vai nos entregar justamente isso: um ratinho preparando pratos em um restaurante. Outro exemplo: se, ao ler uma sinopse, você vê que um determinado filme se diz ser sobre uma garotinha que vive muitas aventuras e dificuldades em um mundo cheio de espíritos que tomam conta de uma casa de banho, é justamente na parte do Fun n’ Games que nós veremos isso de maneira mais potente. Claro, o começo e o fim dos filmes citados (e de todos os outros) também vão falar daquilo que é mostrado no Fun n’ Games, mas vão trazer também outros elementos, típicos dessas determinadas partes, como início ou resolução de conflitos, relacionamentos amorosos dos personagens etc., não mostrando a essa “essência” prometida de forma “pura”, como acontece no Fun n’ Games. Aliás, vocês descobriram quais são esses filmes que eu usei como exemplos? Caso não tenham decifrado a charada, tratam-se de Ratatouille e A Viagem de Chihiro respectivamente.

Fun n’ Games e trailers

Ok, mas como a tal do Fun n’ Games (eu sei, é um nome esquisito mesmo) se relaciona com os trailers dos filmes? É o seguinte, pequeno gafanhoto: como no Fun n’ Games está a “essência” do que o filme, série etc. te promete entregar, essa é a parte que, segundo Blake Snyder, é a parte que fornece o melhor material para um trailer, uma vez que um bom trailers deve ser capaz de divulgar a principal promessa da produção. Lembrando que, sim, outras partes de um filme podem (e devem) ceder boas cenas para um trailer, essa não é uma regra inegociável, é apenas uma (útil) percepção e recomendação.

Para exemplificar melhor tudo o que vimos, que tal dar uma olhadinha em um exemplo de trailer que usa bastante o Fun n’ Games? Já que citamos A Viagem de Chihiro, vamos ver o trailer do filme.

Se repararmos bem, vamos ver que, de 0:17 até 0:56, temos cenas que foram extraídas justamente da parte que vai da chegada de Chihiro àquele novo mundo até o momento em que ela chega até Yubaba, período que compreende o Fun n’ Games. Pode até parecer pouco, mas se levarmos em conta que o trailer tem pouco mais de dois minutos de duração e possui cenas de várias outras partes do longa-metragem, vamos ver que as cenas do Fun n’ Games ocupam um tempo considerável dele.


Por hoje é só, meus amigos. Espero que tenham gostado do texto desta semana. Na próxima, voltaremos com mais material aqui, na rádio que é do seu jeito, do seu gosto. Bye bye!