Aproveitando que reassisti Suzume no Tojimari filme hoje à tarde, vim falar com vocês sobre ele e minhas impressões!
Sinopse
Após Suzume encontrar uma porta misteriosa, outras começam a abrir por todo o Japão, causando destruição a tudo que esteja por perto. A garota precisa fechar esses portais para evitar os desastres, e descobrir qual o mistério por trás a situação.
A história de Suzume no Tojimari segue Suzume, uma garota de 17 anos da ilha de Kyūshū. Um dia, ela encontra um jovem que diz estar procurando por uma porta. Os dois acabam indo até as montanhas, e Suzume encontra uma única porta antiga desgastada no meio de ruínas modernas, como se estivesse protegida de qualquer catástrofe. A garota alcança a maçaneta e, a partir daí, outras portas começam a se abrir por todo o Japão, causando destruição a qualquer um que esteja perto delas. Agora, Suzume precisa fechar esses portais para evitar que o desastre se espalhe, enquanto tenta descobrir o mistério por trás do que está acontecendo, pouco depois de Sōta (o jovem citado) ser transformado em uma cadeira!
Shinkai Makoto é um dos grandes nomes da animação japonesa desde o lançamento do filme de anime de maior bilheteria de 2016, Your Name, e ficou amplamente conhecido pela utilização de desastres naturais, criaturas sobrenaturais e mundos paralelos. Seu último filme não foge a essa regra, sendo uma obra prima visualmente falando, e caminhando na linha tênue entre a fantasia e a realidade, Suzume no Tojimari revela a força, a vulnerabilidade e principalmente a esperança de Suzume. É perceptível o impacto que as portas têm no mundo e a necessidade de fechá-las, e podemos fazer um paralelo sobre a superação de traumas do passado e fechar nossas próprias portas para podermos seguir adiante.
Não há nenhuma informação explicita deque os portões estão ligados a uma grande tragédia, mas conforme você explora cada um e aprende sobre os lugares com outros personagens, fica claro que esse é o caso. É a história de uma garota em uma jornada para superar seu trauma profundamente enraizado, um trauma que ela compartilha com uma parte considerável do Japão: Suzume é uma sobrevivente do terremoto de Tōhoku em 2011. Porém, embora ela tenha sobrevivido, sua mãe não, e embora ela pareça ser uma adolescente feliz, esta é sua máscara. Suzume não deixa as pessoas entrarem — nem seus amigos de escola, nem a tia com quem ela mora há uma década —, porque, deixando-os distantes, ela nunca irá se machucar como se estivesse perdendo sua mãe, mas, ao mesmo tempo, ela é incapaz de se curar realmente. Ao longo de sua trajetória, Suzume é forçada a contar com a bondade de pessoas estranhas que, cada vez mais, abrem seus lares e corações para ela, embora não a conheçam.
Antes de conhecermos um pouco sobre os personagens, quero contextualizar sobre onde a história se passa, que é no Japão moderno. Especialmente no início, a região de Kyūshū é onde conhecemos nossos personagens principais, e, no decorrer da história, viajamos para a cidade de Kōbe, que é a capital da prefeitura de Hyōgo no Japão. Mas como o tempo está passando, nossos personagens seguem rapidamente para Tóquio antes de finalmente chegarmos ao nosso destino: Tōhoku.
Aprofundando sobre Tōhoku e falando a respeito da tragédia que se abateu na vida de Suzume, o filme, embora seja uma fantasia, trouxe realmente um fato: no dia 11 de março de 2011, às 14h46min, horário local, a 130 quilômetros ao leste da cidade de Sendai, um terremoto não apenas sacudiu como também deslocou o Japão. Com nove graus de magnitude, o “Grande Terremoto do Leste do Japão”, o maior já registrado no país, empurrou em 2,4 metros para leste a ilha de Honshū, a maior do Japão. O tremor ocasionou grandes ondas no litoral do país, entre elas o tsunami de Fukushima, que desencadeou um dos piores acidentes nucleares da história desde Chernobyl. E saber que a personagem de Suzume perdeu a mãe nessa tragédia, que matou quase 20 mil pessoas, faz com que, mesmo que a comédia nos faça sorrir, ainda experimentamos uma profunda sensação de perda!
Ainda falando sobre lugares, mas não de uma forma geográfica, boa parte da história se passa nos lugares “perdidos”, o que não é uma mera coincidência. Esses locais estão cheios de memórias, nas quais você pode ouvir vozes fracas e sussurrantes que Suzume percebe ao entrar nesses ambientes. As pessoas tendem a esquecer lugares assim, as memórias que guardam, e abandoná-los enquanto continuam sua própria história com outra porta aberta. Essas portas imaginárias são aquelas que Suzume e Sōta devem fechar para manter a segurança do mundo, trancando todas as memórias e histórias não contadas dentro delas. Por mais que o filme seja sobre manter a humanidade segura, no meu entendimento é também sobre descobrir as camadas de nós mesmos sob as quais enterramos nossa dor, pois se baseia na história de uma garota que “esqueceu” sua dor, enquanto ainda a carrega dentro de si!
Personagens
Iwato Suzume
Suzume é a personagem principal da nossa história. Ela é uma garota de 17 anos que mora com a tia em Kyūshū, uma das cinco principais ilhas do Japão. Ela está frequentando a escola, mas não é onde a conhecemos pela primeira vez. Em uma cena pequena, no início do filme, já encontramos Suzume uma vez, mas em um momento muito anterior de sua vida. Em lágrimas, ela parece estar procurando por sua mãe, mas é encontrada por outra pessoa.
Munakata Sōta
Munakata Sōta é um jovem de vinte e poucos anos. Para o espectador e para a própria Suzume, Sōta parece uma pessoa comum. Ele não é muito falante e parece “misterioso”, mas não de uma forma perigosa. Mais adiante ficamos sabendo da importância de sua missão e como ela já afetou Suzume ao longo de toda a sua vida.
Iwato Tamaki
Tamaki é a tia de Suzume, que a acolheu depois que a mãe de Suzume desapareceu quando ela tinha apenas quatro anos. Desde então, elas vivem juntos como uma família, com Tamaki cuidando de Suzume como uma mãe. Ela trabalha em um escritório e não é casada, pois dedicou boa parte de sua vida à criação de sua sobrinha.
Daijin
Daijin é um gato que fala e entende a linguagem humana, o que é bastante surpreendente. Seus olhos grandes e design fofinho fazem nosso coração derreter. Mas há muito mais sobre essa pequena criatura, já que ele desempenha um papel importante ao longo da história.
De forma geral, os personagens são bem escritos e adoráveis. Ao contrário dos filmes anteriores de Shinkai, Weathering With You (2019) e Your Name (2016), o filme não forneceu muita progressão em relação à conexão romântica de Suzume e Sōta, mas os dois funcionam bem juntos – especialmente durante o arco da “cadeira amaldiçoada” da história. Não irei aprofundar sobre esse arco pois preferi focar em outros aspectos da história para comentar! O filme não é um romance. Ele retrata o desastre de 11 de março e o fato de que dez anos se passaram, mas ainda existem crianças que ficaram órfãs naquele dia. Ele fala de trauma, família, memória, desastre e o despovoamento do interior do Japão. Não à toa, eu chorei assistindo.
Trilha sonora e animação
Agora quero falar sobre uma das minhas partes favoritas: a música do filme! Eu amei toda a trilha sonora, ela atende bem as expectativas estabelecidas pelos outros filmes de Shinkai Makoto, sendo composta principalmente pela banda RADWIMPS. A principal música recorrente do filme tem piano, percussão, cordas, coro de apoio e combina perfeitamente com o filme: você consegue sentir cada partícula emocionalmente! Já a animação também é espetacular e segue muito do padrão das anteriores, mas traz mais ação, tornando a obra mais dinâmica. Na parte visual há um uso brilhante de luz e cor em Suzume no Tojimari — especialmente quando se trata do mundo do outro lado da porta com seu contraponto visual de luz do Sol e céu cheio de estrelas.
Definitivamente, é um filme que eu recomendaria que assistissem. É um grandioso espetáculo de lembranças e memórias, sacrifícios e amores perdidos, sendo profundamente emocional e angustiante, explorando o tempo em sua enormidade e os elementos que compõem uma vida bem vivida. Suzume nos ensina que mesmo as coisas mais insignificantes podem significar muito, e o que importa é valorizar cada momento que passamos com alguém, porque é o que faz a vida valer a pena. Sem deixar de lado o cômico, temos varias cenas engraçadas e leves, embora eu tenha comentando mais sobre as partes que mais me impactaram.
É necessário fechar portas, mas elas não podem ser fechadas de uma hora para outra, muito menos devem ser fechadas sozinhas. No decorrer de sua jornada, Suzume tem a ajuda de variadas pessoas que inicialmente são estranhas, mas que se tornam amigas e nos mostram que ninguém precisa passar por nada sozinho. Uma jovem, uma cadeira e um gato se tornam um lembrete de que, em meio as tragédias da vida, após cada chuva torrencial que atormenta a terra, o Sol brilhará intensamente quando a nova manhã chegar. E que para seguir em frente devemos dar um passo para fechar as portas (não ignorá-las). “Devemos pensar em como fechar as muitas portas que deixamos abertas.” Com essa frase, finalizo meu texto e convido-os a pensar a respeito de quais portas estão precisando enfrentar para seguir adiante!
Ficha técnica
- Título: Suzume no Tojimari: A Porta Fechada de Suzume
- Diretor: Shinkai Makoto
- Duração: 120 minutos
- Vozes originais: Fukatsu Eri, Matsumura Hokuto, Hara Nanoka, Miura Akari, Yamane Ann, Hanazawa Kana, Matsumoto Kōshirō, Kotone
- Classificação etária: 12 anos