J-Hero, você abriu… e nós viemos.
Dirigido por Yeon Sang-ho e lançado em 2016, Train to Busan (Invasão Zumbi no Brasil), filme de ação com zumbis, prova que ainda podemos nos surpreender e nos divertir com estes seres comedores de gente. Estrelado por vários nomes conhecidos na Coreia do Sul, incluindo Ma Dong-seok, a produção foi aclamada pela crítica, sendo o primeiro filme coreano de 2016 a levar mais de 10 milhões de pessoas para os cinemas.
Enredo
Basicamente, a história acompanha um grupo de pessoas diversas que estão em um trem para a cidade de Busan e são surpreendidas durante um surto de violência que acomete alguns passageiros. Precisamos destacar alguns núcleos aqui, entre eles: Seok-woo, empresário e péssimo pai que está levando sua filha para passar o aniversário com a mãe; Sang-hwa e sua esposa grávida; e o casal Jin-hee e Yong-guk, ambos membros do time de beisebol COO Yon-suk.
Sobreviventes e forçados a se ajudarem, eles precisam escapar e chegar em algum lugar seguro — no caso, Busan. Durante toda a trama, vemos zumbis extremamente agressivos e uma contaminação quase imediata após a mordida, o que aumenta a potencialidade de propagação do vírus e o caos já instalado. Além disso, o ambiente apertado e quase claustrofóbico não deixa muitas opções de fuga para os personagens que ficam a mercê da horda.
Este conjunto de fatores (enclausuramento, impotência e perigo) relembra as essências dos filmes de George A. Homero, idealista do gênero de zumbis. Perdido durante os anos de “evolução” do cinema em que os zumbis são monstros, hordas organizadas ou há possibilidade de fuga, uma produção em que a tensão volta a nos afligir é realmente inesperada.
Considerações gerais
Todo o clima e tensão não seriam nada sem os atores e a produção envolvida. As atuações de todos os principais personagens entregam tudo que é necessário. Apesar de ser um filme sobre zumbis, há cenas emocionais onde podemos sentir todo o peso sentimental (sem exageros) entre o casal de esportistas, o casal que está gravido, pai e filha e demais subgrupos.
Por sua vez, críticas sociais relacionadas as diferenças sociais e empatia com o próximo são sutilmente exploradas durante toda a trama. Inclusive, o desenvolvimento dos protagonistas neste quesito é sútil e catártico em todos os momentos. A conclusão do arco dos personagens do mendigo, do empresário e do futuro pai são cenas aceitas pesarosas, mas são sempre sobre autossacrifício pelo bem maior ou bem comum.
A maquiagem é de longe uma das melhores execuções dos últimos anos. As veias, cortes, hematomas, sujeira e tudo que compõe o pacote básico do holocausto estão muito bem-feitos. Aliados ao jogo de câmera e decisões de filmagem, os zumbis ficam críveis e sem exageros que vemos em outros filmes. A utilização de efeitos práticos em grande parte das cenas de ação torna tudo mais fluido. Não que não haja efeitos gráficos, eles estão lá, mas são utilizados em cenas mais dispendiosas, perigosas ou quase impossíveis de serem realizadas. Não esperem grandes efeitos, mas nada é ruim o bastante para ser memorável.
Outro ponto positivo é a entrega do roteiro. A cadência do pano de fundo da trama acontece de forma natural. O mundo acaba em meio ao drama que acompanhamos no trem, enquanto toda a história e acontecimentos ao redor da Coreia são relatados através do jornal, ligações e mensagens sem tornar a explicação enfadonha. No fim, tudo é explicado desde a origem a como se encontram os demais lugares que não acompanhamos efetivamente. No entanto, nem tudo é perfeito, e infelizmente toda a trama gira entorno de Seok-woo, o empresário que procura a redenção como pai, cresce como personagem passando de babaca para herói altruísta, mas também foi corresponsável pelo surto zumbi.
Outras mídias
Há também um prequel animado chamado Seoul Station, que foi lançado alguns meses após o filme original. Dirigido por Yeon, a trama é semelhante ao original, mas ambientada em Seoul, capital da Coreia do Sul. Apesar da animação atípica aos ocidentais e amantes de anime, a qualidade do enredo e dublagem dos personagens são muito boas.
Há também uma sequência não linear lançada em 2020 se passando no mesmo universo, mas quatro anos depois. Invasão Zumbi 2: Península entrega um clima completamente diferente do filme original. Aqui, um holocausto completo e repetidamente abordado nos filmes da atualidade se instaura no mundo. Conceitos são reciclados, estereótipos são reafirmados e mais do mesmo pode ser visto:
Por fim, Train to Busan entrega uma experiência completa com zumbis, o que é inesperadamente bom e vale cada minuto. Diante de tantos filmes que só exploram o gore e o grotesco, um filme que possui carga emocional, críticas sociais e tensão é sem sombra de dúvidas um dos melhores filmes de zumbi da atualidade. Disponível na Netflix.
E para você? Qual filme/série de j-zombie se destoa hoje em dia?
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