Os animes trazem diversos itens simbólicos que na maioria são desconhecidos para nós, meros mortais do Ocidente. Alguns também possuem uma interpretação própria para o povo japonês, o que acaba, invariavelmente, causando um certo alvoroço na mídia nacional.

A suástica

Já vamos começar daquele jeito, metendo o pé no peito, que é o jeito que a gente gosta, afinal se é pra falar de símbolos barraqueiros, bora começar pelo mais irritante e que vez ou outra causa problemas para os fãs de anime no nosso Brasil varonil.

Desde o símbolo da maldição da casa secundária dos Hyūga, gravado na testa e mostrado em destaque no personagem Neji no anime Naruto, ao símbolo gravado nas costas e bandeiras da gangue Manji de Tóquio, entre outros lugares e animes menos hypados, este símbolo tem causado já há algum tempo bastante dor de cabeça a nossa comunidade, pois basta ele surgir em um mangá ou anime que começa a enxurrada de perguntas sem sentido como “nossa, mas você é nazi?”. Não, gente, o que ocorre é que, no Japão, assim como em vários países orientais, o símbolo manji, a famosa suástica, é muito utilizada para demarcar templos e santuários, além de carregar em seu próprio nome a prova de que não foi criada para ser um símbolo do mal.

Vamos à Wikipédia:

A palavra “suástica” deriva do sânscrito svastika (na escrita devanágari – स्वस्तिक), significando felicidade, prazer e boa sorte. Ela é formada do prefixo “su-” (cognata do grego ευ-), significando “bom, bem” e “-asti“, uma forma abstrata para representar o verbo “ser”. Suasti significa, portanto, “bem-ser”. O sufixo “-ca” designa uma forma diminutiva, portanto “suástica” pode ser literalmente traduzida por “pequenas coisas associadas ao que traz um bom viver (ser)”. O sufixo “-tica“, independentemente do quanto foi dito, significa literalmente “marca”. Desta forma na Índia um nome alternativo para “suástica” é shubhtika (literalmente, “boa marca”). A palavra tem sua primeira aparição nos clássicos épicos em sânscrito Ramayana e Mahabharata.

Os brincos Hanafuda

O anime Kimetsu no Yaiba ou simplesmente Demon Slayer tornou-se um grande fenômeno por vários motivos, mas como aqui a gente não “chove no cachorro morto” nem “chuta o molhado”, vamos direto ao que interessa. Tanjirō, o protagonista mais surrado desde o Seiya e os bronze boys, tem como uma de suas marcas registradas os brincos de carta de Hanafuda, representando um Sol nascendo. Porém, o que poucos sabem é que aquele símbolo também era utilizado até anos atrás como bandeira do Japão Imperial, que dominou diversos países da Ásia — e, bom, não foi com flores e beijos na testa, não é mesmo? Isto mais uma vez acabou custando alguma dor de cabeça aos fãs de anime, desta vez pelo menos foram eles que tiveram que explicar.

A Espada do Rei das Bestas

Este caso não chegou ao ponto exagerado de se tornar uma polêmica nacional, porém causou bastante desconforto e problemas a este que vos fala. Logo quando foi lançado no Brasil, o anime Digimon dividiu opiniões: alguns diziam que era apenas uma copia de Pokémon, enquanto outros acreditavam que tinha uma premissa diferente, por assim dizer.

Eu, desde que assisti o primeiro episódio, depois de cantar por cerca de um minuto o surto social mais conhecido aqui, houve uma trollagem excepcional que durou anos para somente há pouco tempo descobrir que foi criado apenas pelo Brasil. Sim, estou falando da música vergonha alheia da então cantora e apresentadora Angélica, o hit Digimon, Digitais. Me tornei um fã incondicional já em seu primeiro arco, que eu chamo de arco Devimon. Por si, este personagem já causaria dor de cabeça por ser literalmente o demônio do anime, mas o personagem de que vamos falar é na verdade o grande defensor da justiça Leomon.

“Ah mas Kuro, como assim o Leomon te causou problemas?” Na verdade, queridos otakinhos do meu coração, foi por causa de um dos ataques especiais dele. Vocês são novos demais para lembrar, mas com o sucesso da “série” Digimon, foram lançadas algumas cartinhas que eram uma espécie de ficha técnica dos personagens; como podem imaginar, estas continham dados como nome, altura, peso e técnicas especiais, uma das quais era a The King Beast Sword. Hoje eu sei que significa, em tradução livre, A Espada do Rei das Feras, como o próprio Leão é descrito em tantos lugares. O problema é que, ao traduzir, foi colocado A Espada do Rei das Bestas! Pra mim, pequeno otaku que nem sabia que era, não houve problemas, até que um irmão meu, cuja família é muito evangélica, acabou vendo está descrição e, sem esperar por explicações, tomou as cartinhas da minha mão.

As Cartinhas do Tinhoso

Quem nunca gritou “é hora do duelo!” que me desculpe, mas não sabe o que é viver a vida louca de ser otaku. Fenômeno global dos anos 2000, Yu-Gi-Oh! acompanha um garoto de cabelo roxo que descobre estar possuído pelo espírito de um faraó depois de receber um presente de seu avô. Não bastasse isso, ainda vemos seres como o magnífico Exodia, uma espécie de múmia bombada e escravizada por magia e que, se você ainda não notou a referência clara no nome ao Êxodo, livro da Bíblia, ok… Vou te dar uns segundos pra se recuperar. Pronto? Ok, vamos lá. Tem também o dragão amaldiçoado, sem falar nas referências diretas ou nem tão diretas assim a magia como a carta “Troca de Corações” que literalmente trocava a alma de um personagem, carta do jogo, por outra, fazendo-a agir como inimigo.

O mais curioso de tudo isso é que foi em um programa total e claramente criado para gerar pânico, os famosos “sensacionalistas”, que surgiu o primeiro apontamento de que seria um baralho de magia das trevas. Isso causou um alvoroço enorme: pais queimaram e rasgaram diversos itens de colecionador dos filhos que assistiam impotentes seus brinquedos serem “obliterados”. Infelizmente a era da ignorância não diminuiu na mesma medida em que anime e mangas foram mais e mais se tornando populares, chegando há pouco tempo ser citado que deveria se proibir animes e mangas porque um “livro preto de anotações que ensina as crianças a matar” estava circulando nas mãos dos jovens. Este livro nada mais é que o objeto utilizado por Light Yagami no anime Death Note, e se fosse dedicado um mínimo de pesquisa para verificar a fonte da informação, o bem intencionado repórter não teria passado por tolo, já que no próprio anime fica claro que seria necessário o contato com os shimigamis, os deuses da morte da cultura japonesa citados em vários animes para tal.


Bom, os exemplos de polêmicas ligadas a nomes e símbolos em animes e mangás são diversos, e levando-se em conta a enxurrada de mangás e animes que surgem todos os anos, poderíamos ficar aqui até “o Sol nascer”. Mas como eu tenho muito medo dos editores, por hoje vamos encerrar aqui: se você já viu ou conhece algum símbolo que não foi citado aqui e já passou por uma situação em que teve que explicar por que este símbolo está representado ali, conta pra gente aí nos comentários.

Mata ne! Bye bye.