(Confesso que estou tipo a Tomoyo-chan com essa nova animação)
Não é comum a Hikari apresentar reviews de animês logo no início da temporada, pois eles estão apenas dando o ar da graça. Entretanto, Sakura Card Captor é mais que um animê: é um ícone da Cultura Otaku para nós brasileiros. Junto de Guerreiras Mágicas de Rayearth e Sailor Moon forma uma espécie de "santíssima trindade" do shoujo mangá animado na TV aberta brasileira durante a época que abrange o fim dos anos 1990 e o ínicio dos anos 2000.
Vinte anos depois de sua estreia na TV japonesa mais uma vez a mahou shoujo mais amada do Grupo CLAMP ganhou espaço nos aparelhos televisivos (e também computadores, notebook, smatphones e etc.) de nipônicos e pessoas do mundo inteiro com a adaptação de Sakura Card Captor: Clear Card-hen, mangá sequela publicado desde 2016 pela editora Kodansha nas páginas da Nakayoshi (contando agora com 3 volumes).
Confesso que cheguei a ler até a metade do segundo volume e a relativa demora na disponibilização dos capítulos pelos sites alternativos de scanlation, além das muitas demandas que recebemos ao longo dos dias, decidi que em outro momento daria sequência à narrativa. Na época não esperava um animê. Veio setembro de 2017 e mostrou que eu estava errado. Um OVA no formato de narrativa interlúdio foi lançado como prólogo para a nova aventura da "Caçadora de Cartas" na telinha. Fazendo o link perfeito entre a série original e a nova foi o necessário para fazer o frisson acontecer.
E no último final de semana estreou a nova animação com direito a simulcast no Crunchyroll. Pena que ainda não está dublada (e não há nenhuma previsão para isso) para que nossa nostalgia fosse bem maior.
Enfim, Sakura Card Captor Clear Card-hen nos apresenta em seu primeiro episódio um momento introdutório para o novo desafio de Sakura Kinomoto e Cia. Antes não se pode deixar de citar que ela agora está um pouco mais velha. Está no primeiro ano do Ginasial, algo como o nosso 1° ano do Ensino Médio. Um adolescente a flor da juventude que, assim como qualquer outro, também deseja viver um romance.
Nesse novo animê (para quem deu uma espiada no mangá) tudo indica que o relacionamento dela e Li Syaoran vai evoluir – saindo daquela paixão de crianças – para algo mais maduro, mas sem perder a inocência. O que por sinal é o grande leitmotiv da própria Sakura. A jovem estudante japonesa é um encanto só de pureza e inocência. Só que nem tudo são flores!
Quem já conhece o estilo CLAMP de narrativa sabe que em meio a todo esse moe há também elementos sombrios (que o dia Tsubasa RESEVoir CHRoNiCLE). No mangá/animê cross over das principais narrativas do grupo de entretenimento conhecemos um lado mais sombrio das personagens que tanto amamos. Com lado sombrio quero dizer mais realista, que foge dos padrões romantizados de meiguice e fofura. Em Sakura Card Captor: Clear Card-hen já é possível perceber isso. Há a preocupação em agradar os fãs da franquia com o estilo cativante que os conquistou – não a toa Mayaa Sakamoto retorna cantando o novo tema de abertura "Clear" -, mas também busca introduzir à esse mesmo fã, que amadureceu, uma perspectiva bem mais atraente. Tudo isso sem desconsiderar os novos públicos.
(A amizade entre os irmãos Kinomoto continua sendo motivo de muitas risadas)
O estúdio Madhouse, que trabalha com o animê desde 1998, já tem a fórmula certa para Sakura Card Captor. Mantendo alguns padrões plásticos semelhantes ao da série original e adaptando tudo ao novo modelo de animação seguido pela indústria, o animê ficou visualmente impecável e não apresenta nenhum tipo de erro no que diz respeito a character design e/ou background design (ao menos à primeira vista). Esse último, por exemplo, ficou definitivamente genial. A dupla Morio Asaka (diretor) e Nanase Ohkawa (roteiro) continua à frente do projeto e isso justifica muita coisa. Para justificar o que estou falando tome como exemplo a cena de Sakura à caminho da escola passando por um cenário cheio das flores de cerejeira – que lhe dão seu nome – a imagem é um realce exuberante para a personalidade e o carisma da protagonista, que é bem como as flores de sakura.
Fontes, elementos visuais e sonoros, paleta de cores, finalização e cast de dublagem são trabalhados com extrema delicadeza para manter o forte predomínio do moe no episódio. Por falar em dublagem, vinte anos depois a equipe de dublagem de Sakura Card Captor mostra o porquê a arte de representação da voz praticada pelos japoneses é uma das melhores do mundo (junto com a brasileira, é claro) e o porquê se deve respeitá-la em sua estrutura, mercado e cultura.
Trabalhar as vozes infantis apenas um pouco mais velhas após um espaço de tempo de dezoito anos (considerando a data de encerramento da animação em 2000) é um desafio que deve superar o nada generoso tempo. Ao passo que duas décadas se passam muita gente vai sofrendo mudanças não só na voz, mas no estilo e no comportamento. Ah, e só para ficar claro, a representação vocal de todas as personagens de Sakura Card Captor: Clear Card-hen é pautada no estilo moe, logo haverá sim momento onde o padrão realístico do diálogo será impactado. Mas isso é roteiro e completamente explicado e não um devaneio hilário e arrogante de algozes midiáticos que necessitam denegrir uma prática mercadólogica de aceitação cultural quando comete o mesmo tipo de atidude, ou seja: se transforma num produto que necessita ser consumido mesmo que fazendo papel de ridículo. Em uma palavra: Hipócrita!
Mas voltemos ao nosso review. Nesse primeiro episódio tivemos a volta de Syaoran e o alívio sentimental de Sakura. Voltamos a nos divertir com a meiga Tomoyo. Kero continua sendo um mascote insuperável (não conheço outro que tenha alcançado tal status) muito devido a inenarrável interpretação da multifacetada Aya Hisakawa. Além de Sakura Tange (a dubladora de Sakura Kinomoto) que nos emociona com o bordão "Release", um dos mais amados pelo público.
(Se isso não é moe e romântico eu não sei mais o que é)
Sakura Card Captor: Clear Card-hen pode conseguir algo que o remake de Sailor Moon não conseguiu. Reascender a apaixão do público por mahou shoujos (mas isso é apenas uma colocação minha). Nos últimos anos há uma inegável carência desse tipo de personagem suprida um pouco pelas tramas de Pretty Cure ou as magas de Puella Magi Madoka Mágica e Cia. No ano passado a personagem Magical Slayer Mamika foi uma referência metaliguística ao gênero dentro do animê RE:CREATORS, que foi uma espécie de ode à animação japonesa no ano do centenário, e ganhou até um velório para a marcar sua morte trágica na trama. Na franquia da Type-Moon, Fate Series, ainda é possível ver algumas referências às mahou shoujo com o arquétipo Lily para as servas já existentes no cânone da trama (vide Saber Lily, Saber Caster), contudo com um teor mais de fanservice do que qualquer coisa.
Previsto para 22 epsiódios, Sakura Card Captors: Clear Card-hen deve serguir até a metada da Temporada de Primavera e adptar justamente até o volume 03 (último publicado). Não é preciso pânico, pois a moda agora é lançar os animês em temporadas sazionais a cada dois anos (ou mesmo apenas um). Economicamente é mais rentável para os comitês de produção que além de tudo contam agora com a fatia ocidental do público através dos serviços de streaming.
Só resta então aproveitar esse retorno triunfal da "Caçadora de Cartas" e curtir cada momento mágico e romântico com muita alegria no peito.
Até a próxima e… Release!