Eu estava muito ansioso por esse dia, tenho que confessar. Não, não era por causa do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) até porque o meu tempo para isso já se foi e sou grato. Mas como você já deve imaginar, sim estava ansioso por causa de Pokémon.

Há muito tempo eu não ficava excitado o bastante para querer ir ver um filme de animê no cinema como eu estava para Pokémon, o Filme 20: Eu escolho você! (Pokémon, the Movie 20: I Choose You!). Isso porque nos últimos anos – a nível nacional – poucos títulos exibidos mereciam tanto destaque. Entre eles o reboot em 3DCG “Os Cavaleiros do Zodíaco: Lendas do Santuário”,  “Dragon Ball Z: A batalha dos deuses”, “Dragon Ball Z: O renascimento de Freeza” ou “The Last: Naruto, o Filme”. Ambos foram bons, alguns até mais que os outros. The Last, por exemplo, mexeu muito mais comigo que o próprio filme de CDZ, de quem sou fã incondicional.

Não! Não venho aqui dizer que o filme de Pokémon é deveras melhor que todos os acima citados. Longe de mim! Entretanto, tenho que ser racional ao afirmar que ele foi de fato um presente que os fãs brasileiros da franquia receberam em 2017.

Isso para mim é muito particular por um motivo bem especial. Meu primeiro filme assistido na tela de uma sala de cinema foi Pokémon, o Filme: Mewtwo Contra-ataca (Pokémon, the Movie: Mewtwo Strikes Back). O ano era 2000 e quem é natural de São Luís do Maranhão (e viveu a infância e adolescência no fim dos anos 1990 e início dos anos 2000) vai lembrar do Cine Colossal, na Av. Castelo Branco, no bairro do São Francisco. Um dos últimos cinemas de bairro da capital maranhense antes da febre dos cinemas em shoppings.

Lembro-me como se fosse hoje. Saímos cedo de casa e fomos buscar uma prima em outro bairro da cidade. Tudo isso para estarmos na fila em tempo para pegar ingressos para o filme. Tudo muito disputado! A animação era sucesso na TV Record junto com a loira Elianna. O filme prometia um duelo épico entre os lendários Mew e Mewtwo. Imperdível! Cada ingresso comprado garantia ao fã um card promocional com algum dos pokémon que apareciam no filme. Os mais cobiçados eram – além do Pikachu -, Dragonite, Charizard, Mew e Mewtwo (eu ganhei o deste último, embora hoje não o possua mais, uma pena).

A lógica do cinema marcado não existia no Cine Colossal, nem também a lógica da lotação. Não é mentira quando digo que nós quase ficamos nas escadas. Conseguimos lugar nas últimas fileiras. Eu, meu irmão, minha prima e meu pai – que nos acompanhava – vimos muitas outras crianças e seus pais ficarem sentadas nas escadas. Hoje isso jamais se repetirá! 

Esse breve relato inicial é apenas para justificar o porquê aguardava tanto esse 20° filme de Pokémon. Naquele ano o Brasil ainda contou com Pokémon 2000: O Poder de Um (Pokémon 2000: The Power of One) exibido seis meses depois, mas que infelizmente não pude acompanhar. Cinco anos depois – já sem o Cine Colossal – tivemos Pokémon, o Filme 04: Viajantes do Tempo (Pokémon 4Ever) que também não fui assistir. O que chama a atenção aqui é que desde sempre – por questões mercadológicas no setor de distribuição internacional – os filmes de Pokémon sempre foram exibidos atrasados em relação ao lançamento no Japão e nem sempre coincidiam com as datas de lançamentos internacionais nos Estados Unidos.  Só em relação ao Japão os três filmes aqui citados foram originalmente lançados em 1998, 1999 e 2001, respectivamente. Em 2000, ano de lançamento de Pokémon, o Filme 03: O Feitiço dos Unown (Pokémon 3: Spell of the Unown) no Japão nós não tivemos nada por aqui. Esse filme em específico acabou vindo para o Brasil somente em DVD devido à mudança da distribuidora. Essa situação se repetiu ao longo dos anos desde então, só que com uma lógica já mais plausível. Depois de adquirir o direito de exibição dos filmes antigos, o canal de TV fechada Cartoon Network passou a ser o meio oficial de lançamento dos longas-metragens de Pokémon em solo brasileiro sempre trazendo um novo filme um ano após sua exibição em solo nipônico.

Contudo Pokémon, o Filme 20: Eu escolho você! veio para quebrar esse paradigma. O filme entrou em cartaz no dia 15 de julho de 2017 lá no Japão e graças aos esforços da Fanthom Events acabou tendo seu lançamento internacional no mesmo ano. E isso incluiu o Brasil! Nos dias 05 e 06 de novembro o filme foi exibido em mais de 34 cidades brasileiras. O número de sessões foi pequeno, mas isso é mínimo perto da grande conquista que todo fã da franquia viveu que foi ver o filme no mesmo ano de lançamento! E que filme!

Proposto como um reboot para comemorar os 20 anos da série de TV, o longa-metragem reconta a história do início da aventura de Ash Ketchum e Pikachu de uma forma ímpar e cheia de nostalgia.

 

(Ash, Pikachu, Vera, Piplup, Sérgio, Lucario e Marshadow)

 

O Enredo

Simples, simples demais ao primeiro olhar, esse 20° filme se desafia em agradar veteranos e novatos na franquia ao nos trazer em seus primeiros sete minutos um compacto do primeiro episódio da animação de TV (que dá nome ao filme já como uma referência) e mostrando o primeiro encontro nada amistoso entre Ash e Pikachu, além de desenvolver o combate com os Fearows e a formação do laço de amizade entre Pokémon e treinador.

Dá em diante tudo muda. Novos personagens são inseridos e tudo passa girar em torno do enigmático Ho-oh, pokémon lendário que no fim do primeiro episódio surpreende os protagonistas e cria um engima durante alguém tempo por não ser dos 150 originais. Sem Misty e Brock, Ash se reúne ao lado de Vera e Sérgio treinadores vindos da região de Sinnoh (4ª Geração) após um encontro com o pokémon lendário Entei, uma das três feras lendárias da região de Johto. Com isso já fica fácil dizer que o plot narrativo considera todo o universo expandido da franquia e nos presenteia com uma ótima surpresa (mesmo ainda mantendo o foco nos monstros originários de Kanto).

A aparição de um rival que encarna todas as psicologias de adversários como Gary, Paul e Trip e a figura sombria do vilão Marshadow, pokémon mítico da região de Alola, completam a trama básica do chamado para a aventura-chamado do herói em pouco mais de 1h30min de exibição.

 

O Fanservice

Nada mais é tão fanservice quanto o fato de esse reboot reunir todos os mitos e regiões apresentados ao longo desses 20 anos de animação em um mesmo ponto. O primeiro destaque a ser feito é a aparição de dois pokémon que compõe o time original de Ash: Butterfree e Charizard.

A cena da despedida de Buterfree se repete mais uma vez (para nos arrancar lágrimas!) sem antes, é claro, vermos alguns momentos engraçados de Caterpie e Metapod. Já para Charizard isso fica mais evidente ainda ao termos ele como um dos muitos conflitos da trama. Desde o seu aparecimento como Charmander até alcançar seu estágio final ele é um dos motivos das dúvidas de Ash. Algumas curiosidades sobre isso também é o fato de que o Charmander era pokémon de Cruz, o rival de Ash no filme; a outra é que quando evolui para Charmeleon e Charizard ele permanece obediente sem trazer aqueles estragos por nós conhecidos ao pobre treinador.

Outro easter egg legal é a batalha de ginásio com Erika em Celadon. Ao vencer Ash diz que essa vitória lhe garantiu a terceira insígnia. Essa foi a forma encontrada pela produção para evitar mostrar Brock ou Misty. Só que quem acompanha o animê sabe que Celadon é o quarto Ginásio. O mesmo vale para o jogo. Contudo, se considerarmos que nos jogos Blue/Red/Green/Yellow o segundo Ginásio, Cerulean, está sem seu líder (Misty) e que é preciso cumprir uma quest para desafiá-la é possível chegar a conclusão que Ash não a enfrentou indo diretamente de Brock (em Pewter) para St. Surge (em Vermilion).

 

(Cruz e Incineroar)

 

Muito mais Fanservice

O fanservice não acaba por aí! Para quem está antenado na fanbase de Pokémon pelo mundo deve saber que Sinnoh (4° Geração) é uma das mais amadas pelos seguidores da franquia. Seja nos jogos ou no anime a região ganhou uma fama imprescindível. Não é para menos que os coadjuvantes que fazem companhia para Ash são naturais de lá. Sérgio e seu Lucario vem da cidade de VeilStone (lar de Paul no animê) e Vera e seu Piplup vem da cidade de Twinleaf (lar de Dawn no animê).

Esse easter egg fica mais apimentado ainda ao descobrirmos que Vera é possivelmente filha de Cynthia, a campeã da Liga Sinnoh e uma das personagens mais amadas da franquia em todos os tempos. Como se trata de um reboot a Cynthia conta com Emporeon como parceiro e não o temível Garshomp.

Para tornar o fanservice mais profundo outros pokémon a ganhar a cena são Lyncaroc (Midnight Form), Incineroar e Marshadow. Ambos da sétima e atual geração (Sun and Moon) eles representam a nova fase de Pokémon nesse filme tributo.

Todas as sete regiões são representadas em cenas curtas durante momentos finais do filme nos mostram a grandeza que é esse universo expandido que envolve jogos, mangás, cards e animações. Por falar em jogos… Um dos fanservice bem explorados foram os eventos de Pokémon Gold/Silver (Game Boy Color) onde somos apresentados ao mito de Ho-oh e as feras lendárias que encaram as chamas, o raio e a chuva, respectivamente Entei, Raikou e Suicune.

Assim como no game, assim que o player passa a possui a Asa Arco-Íris (Rainbow Wing) é possível encontrar as feras lendárias durante sua jornada, além de ter acesso ao pássaro lendário no topo da Torre na cidade de Ecruteak (na versão Silver). Assim como no jogo também é em Kanto – e não em Johto – que somos agraciados com esse item de muito valor.

 

A Emoção

Para presentear os fãs um outro grupo de fanservice se reúne ao enredo para causar o impacto emocional na trama. Por seguir o clico do herói tão obedientemente, o longa-metragem acaba tendo um certo livre arbítrio em relação à franquia em muitos aspectos que o tornam emocionantes. Alguns deles são:

1) quando Ash perde para Cruz e se senti muito abalado. Diversas vezes no animê o garoto da Cidade de Pallet foi derrotado por rivais poderosos, mas nunca ficou tão angustiado ao ponto de questionar suas escolhas e seus pokémon. Já nesse filme ele faz isso em relação à Charmelon e Pikachu ficando tentado a dizer que preferia ter pokémon mais fortes;

2) vinculado a isso temos a figura do pokémon fanstama Marshadow que se mostra uma figura bastante sombria. O pokémon mítico interage com as fraquezas de Ash para aumentar seu próprio poder e nos proporciona uma fuga de realidade muito legal. Ash é levado a um mundo de sonhos onde os pokémon nunca existiram (alguém aí sentiu uma referência àquela teoria da fanbase mundial de que ele na verdade é um garoto que somente sonhou com o mundo de Pokémon?). É óbvio que isso logo é desconstruído graças ao carisma de Pikachu;

3) Pikachu ganha um papel importante para esse fator emoção ao protagonizar duas cenas marcantes. A primeira é em um momento de tensão onde ele e seu treinador estão sendo confrontados pelo poder de Marshadow após corromper a Asa Arco-Íris. Em meio à derrota iminente o rato pokémon revela ao seu treinador que é capaz de falar com ele na linguagem humana ao dizer “Eu quero estar sempre com você”. O impacto dessa frase, e o fato de Pikachu falar surpreendem todos. Desde sempre sabemos que alguns pokémon aprendem a linguagem humana, mas Pikachu não estava entre eles. Sempre que protagonizava episódios especiais o seu cry (como é chamado na franquia a sonoridade representada pelos pokémon) é o resultado do trabalho da atriz-dubladora Ikue Otani. Isso era complementado com uma legenda. Em Pokémon, o Filme 20: Eu escolho você! o rato elétrico falou! (Eu já acho que isso é um easter egg para o filme live action do Pikachu detetive que deve sair ano que vem!)

4) nessa mesma cena temos outro momento rebuild da franquia ao vermos pela primeira vez – desde quando saiu da sua pokébola no primeiro episódio da animação – o pokémon obedecer seu treinar e ir se esconder em sua pokébola para evitar que fosse atacado. A cena, além de surpreendente é chocante, pois somos pegos logo em seguida por mais easter egg cheio de drama. Assim como em Pokémon, o Filme: Mewtwo Contra-ataca, onde Ash fica no meio da colisão de poderes entre os lendários Mew e Mewtwo e acaba morrendo, na tentativa de salvar Pikachu, Ash é pulverizado e desaparece. Ele acaba sendo jogado em uma outra dimensão e é resgatado graças aos prantos desesperados de Pikachu e a magia do local sagrado de Ho-oh.

 

(Meu card brinde recebido durante a sessão de exibição do filme)

 

O Filme no Brasil

Em dois dias de exibição o filme se tornou um presente mais que bem vindo e um sucesso. Nas redes sociais e principais fóruns de discussão de Pokémon no país só se fala nele e em seu bom desempenho. Todos saem satisfeitos com o filme mesmo ele apresentando algumas coisas inicialmente desagradáveis para os mais antigos.

Falo aqui da mudança na dublagem que a animação sofreu e que ocorreu entre o fim de 2015 e começo de 2016. Muita gente não digeriu ainda a troca do estúdio Centauro para o MG Estúdio saindo de São Paulo para o Rio de Janeiro. Com a troca os personagens clássicos mudaram de vozes e entre eles Ash, que deixou de contar com a interpretação de Fábio Lucindo e passou a ser dublado por Charles Emanuel. Ainda em 2016 o dublador foi muito criticado por dar uma entonação mais madura para um personagem infantil e se desculpou com os fãs prometendo corrigir o erro.

Lógico que Fábio Lucindo será inesquecível após anos de dublagem, mas é errado não reconhecer que Charles Emanuel evoluiu e nesse filme trouxe um Ash Ketchum bastante próximo do que se espera na fanbase.

Os fãs só reclamam agora de erros na distribuição dos brindes do filme (um card especial do Pikachu para o TCG e um código para os jogos Pokémon Ultra Sun e Ultra Moon). Segundo relatos iniciais em alguns cinemas os brindes não foram distribuídos enquanto em outros foram colocados à venda. Por aqui em São Luís ao menos no cinema em que fui ocorreu tudo corretamente. Resta agora a Fanthom Events e a Copag (empresa responsável pela distribuição dos cards da franquia no Brasil) explicar o que aconteceu.

E é isso! O filme é uma maravilha de lavar a alma dos fãs! Se eu for ainda comentar trilha sonora, character design e demais detalhes esse texto ficaria enorme. Mas acho que isso já dá para você ter uma noção o quão bom foi. Caso você não tenha ido ao cinema não fica triste. No dia 08 de dezembro o canal Cartoon Network exibe-o às 20h (Horário de Brasília) em seu Cine Cartoon. Já no dia seguinte ele vai ser reprisado às 12h. Segundo a emissora ele ainda deverá ser exibido em outras datas ao longo do último mês do ano. O sonho de pegar todos eles não acabou!

Até a próxima e… Sayonara!

 

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Matéria de minha autoria publicada em parceria com o sitevolts.com.br.