(A Batalha final se aproxima!)

 

Chegamos ao final da saga dos nossos heróis Yuusako e Tayuya. Várias perguntas no ar: Será que eles vão vencer o desafio que lhes foi dado? Será que Yuusako compreendeu os poderes de Tsubakihime? E Tayuya, como ajudará o Ronin na luta contra Shigeyoshi? E o mais importante, Yussako não vai se declarar para a jovem princesa?

Bom essas perguntas serão respondidas nas linhas abaixo. Mas antes, se você ainda não leu nosso conto "O RONIN E A PRINCESA" acesse agora as partes anteriores dessa narrativa especial da Rádio J-Hero!

Leia primeira parte do conto aqui!

Leia a segunda parte do conto aqui!

Agora vamos à parte final!

 

O Ronin e a Princesa (Parte III)

Yuusako e Tayuya levantaram cedo, fizeram o desjejum de forma silenciosa, e tomando suas coisas seguiram rumo ao palácio real de Hikari. Em nenhum momento eles trocaram palavras, o ronin dava passos firmes e cheios de determinação e a garota tratou de imitá-lo, mas não pode evitar em transparecer seu temor.

Quando ela e Yuusako se aproximaram da entrada do palácio real perceberam que não seria fácil chegar até onde Shigeyoshi repousava. Havia guardas para cada metro quadrado do lugar, Kitsunes de todos os tipos: kikos, kukos, koryos, nogitsunes, reikos, shakose até mesmo algumas shousaa setenkos. Yuusako sabia que não seria fácil avançar diante de um exército tão poderoso e grande.

Tayuya devia estar tendo a mesma impressão, pois tremia nitidamente. Escondidos em um ponto cego entre as muralhas do palácio e o bosque que as cercavam, Tayuya e o ronin pensavam em como deveriam agir. O nervosismo da princesa preocupava Yuusako, que não podendo mais vê-la daquele jeito tomou-a em seus braços em um abraço caloroso.

— Acalme-se! — ele sussurrava em seu ouvido — Você cresceu para viver este momento! Não pode fraquejar agora!

Ela por sua vez passou seus braços sobre o corpo musculoso do guerreiro, que a abraçou mais forte, talvez por que também estivesse nervoso, ou porque queria senti-la mais próxima de si.

— Não estou fraquejando, só que… — era difícil dizer — Só que… Você viu a situação do meu povo, Shigeyoshi só trouxe caos e tenho que mudar isso! Entretanto ele é um yokai! O mais poderoso de Yomi! Como eu e você poderemos detê-lo? Não me importo em morrer tentando, mas não quero que você sofra mais por uma causa que realmente não é sua.

— Quando o dragão me escolheu esta causa tornou-se minha, não se preocupe, não vou morrer. Temos aliados poderosos. — Yuusako contou-lhe sobre a visita do Espírito do Vento e sua história. — Agora confie em seu guardião, Kouga, que, assim como a minha espada, ele te emprestar poder. Por hora vamos! Já não há nada a se pensar, Shigeyoshi deve ser derrotado hoje!

Antes de seguirem rumo à batalha Tayuya segurou-o pela manga da camisa e,puxando-o, levou seus lábios aos dele. O ronin recebeu o gesto com intensidade e por alguns instantes ele compartilharam somente daquele momento, um beijo apaixonado.

— Vença por mim! Meu samurai! — ela disse em um gesto majestoso.

— Como desejar, minha senhora.

Eles saíram das sombras do bosque e adentraram os portões do palácio real de Hikari, Tsubakihime reluzia a mais ofuscante luz em seu fio de corte, e derrubava os inimigos sem nem mesmo manchar-se de sangue. Era essa a maestria com a espada que Yuusako aprimorou.

A nodashi balançava faceira de um lado a outro abrindo caminho para eles a caminho do usurpador e ali a sina maldita de ser um ronin pelo resto da vida desfez-se, e Yuusako Morino voltou a ser o que era antes: o samurai mais honrado que já existiu.

 

(Shigeyoshi, a Kyubi no Kitsune)

 

♦  ♦  ♦

Shigeyoshi descansava por sobre dezenas de almofadas e tapeçarias finíssimas, algumas mulheres o serviam. Em sua forma híbrida era um forte homem com presas afiadas na boca, orelhas de raposa, e nove caudas emplumadas ao vento, vestia as roupas do imperador e sobre elas sua joia. Aquela que carregava sua alma, Hoshi no Tama, do seu lado, três receptáculos mágicos se faziam presentes, e a aura dos deuses ali aprisionados reluzia forte.

Um barulho ao longe o incomodava e o que quer estivesse fazendo com que seus guardas causassem tanta confusão deixava-o curioso, mas em seus pensamentos dizia que caso tivesse que levantar para ver o que se sucedia, mataria todos os responsáveis pela desordem no palácio.

Mas nem precisou fazer isso, de súbito a porta de sua recâmara foi escancarada, e a figura de um espadachim misterioso tomou lugar diante dela.

— És Shigeyoshi, a kyubi no kitsune? — perguntou o samurai.

— Sim. — a fera respondeu com desdém.

— Pois em nome de Tayuya Miyazaki, herdeira de Izumo e de todas as Terras do Extremo Oriente, eu, Yuusako Morino, desafiou-o a um combate.

O nome Miyazaki mexeu com os nervos de Shigeyoshi, que deixou seu sorriso de deboche desaparecer ao ver Tayuya por detrás do samurai.

— Vou fazer a única coisa da qual me arrependo de não ter feito eu mesmo anos atrás: Matar você garota maldita!

Shigeyoshi assumiu ali mesmo sua forma de yokai, com suas nove caudas era maior do que dois elefantes e naquela forma, destruiu parte do cômodo onde estavam, em seguida lançou-se contra Tayuya, mas Yuusako defendeu-a com a espada, que disparou uma lufada de vento contra a kitsune.

Era Tsubakihime, o Espírito do Vento, que entrava na luta. Tayuya compreendeu que também deveria lutar e invocou a presença de Kouga. A tatuagem do dragão saiu de seu corpo e assumiu sua forma animalesca ali, ela montou o ser, que arremeteu contra Shigeyoshi. Ela conduzia o dragão muito bem, disparando baforadas de chamas contra o adversário.

Yuusako por sua vez golpeava a fera com a nodashi, que disparava fortes rajadas de vento cortante. A espada nunca esteve tão leve em toda a sua vida de guerreiro, mesmo assim não era o suficiente para derrotar a besta. Shigeyoshi assustou-se com o avanço do inimigo, mas logo dominou a luta.

Kouga sozinho não era capaz de contê-lo, e Tsubakihime ainda não estava em plenos poderes. Foi quando Yuusako, ao perceber a presença de três receptáculos jogados ao chão, teve uma ideia.

— Tsubakihime! Tsubakihime! — ele chamou pela espada — Me diga: Porque mesmo Shigeyoshi selou os deuses? E porque somente um guerreiro honrado pode derrotá-lo?

A espada respondeu:

Shigeyoshi selou meus irmãos porque sabia que eles não concordariam com seus planos absurdos de evitar o destino, se ele não o tivesse feito, nós cinco teríamos derrotado-o quando ele atacou Izumo.

Aquilo chamou a atenção do samurai. Mas faltava a outra resposta.

— E quanto ao guerreiro honrado?

— Eu não sei. — a espada disse de imediato. — Mas talvez…

— Talvez?

— É isso! — ela disse alegre — Hayao Miyazaki deixou uma pista importante. A magia que sela meus irmãos! Deve ser isso: somente um guerreiro honrado pode desfazê-la!

De imediato Yuusako Morino correu até os receptáculos.

Kouga e Tayuya ainda enfrentavam o monstro quando uma explosão desviou a atenção de todos. Três poderosas imagens apareceram diante de Yuusako. Eram Miku, Tampei e Chidori, os irmãos de Tsubakihime e Kouga.

Yuusako Morino. — disseram os três em uníssono — Você foi o guerreiro honrado que nos libertou de nossas prisões. A você concedemos o poder.

Eles repousaram suas mãos sobre a espada de Yuusako, com a qual havia quebrado os selos que os detinham. Kouga também lançou sobre o samurai a essência do seu poder, e Tsubakihime brilhou como um arco-íris cintilante e Shigeyoshi lançou-se furioso contra Yuusako, que com o balançar da lâmina golpeou em cheio a joia da besta, que evaporou diante de seus olhos.

 

(No fim, tudo dá certo quando se trata de um grande amor!)

 

Desde a vitória de Yuusako sobre Shigeyoshi, todas as kitsunes que eram contra os humanos fugiram de Izumo. Entretanto havia alguns que se acostumaram a viver ali, e até família formaram com humanos. Tayuya, ao assumir o trono de Izumo, aceitou-os sobre sua proteção, eles lhe juraram fidelidade e ao poucos a harmonia e a prosperidade do povo de seus pais voltou.

Como predizia a profecia do ancião, ela começou uma forte campanha de união das terras de Izumo e Yomi. Ao seu lado, Yuusako Morino foi o grande general que promoveu guerras contra as tribos yokais que não se submeteram ao regimento do Grande Império de Izumo, como as Terras do Extremo Oriente passaram a ser chamadas.

A imperatriz e o samurai casaram-se e passaram a compartilhar um amor tão forte quanto os de seus parceiros, Tsubakihime e Kouga. A angústia e a tristeza que um dia o samurai vivenciou foram esquecidas, ao lado de sua esposa reinou benevolente como um grande imperador. Os cinco deuses os abençoaram com dádivas milagrosas e restauraram o equilíbrio entre os dois mundos.

Quando o primeiro filho do casal real nasceu, decidiram fazer uma homenagem a única pessoa importante para eles. Pessoa que jamais poderia compartilhar daquela felicidade, uma amiga que acima de tudo foi mãe e irmã e deram o nome da primogênita de Akeno, e assim perpetuaram para sempre todas as lembranças boas que o Japão lhes ofereceu,  e até morrerem — já fartos de dias ­— governaram juntos o Grande Império de Izumo.

 

 

Saylon Kaguya

São Luís do Maranhão, Brasil