(Samurai Samploo, clássico dos animes sobre a temática dos guerreiros da espada)

 

Quem nunca se imaginou com uma katana em mãos pronto para aplicar um golpe fodástico em alguém, hein?

Exemplos no mundo dos animes são muitos: os shinigamis Ichigo, Biakuya, Zaraki e outros de Bleach; Roronoa Zoro de One Piece e seu Santoryuu; Assassino (Kojiro Sasaki) de Fate/Stay Night; para os veteranos um nome se eleva diante de todos esse: Kenshin Himura, o eterno Samurai X!

Todos esses citados aqui são exímios espadachins (para ser mais exato e casar com o contexto oriental: samurais), são esses samurais, que atualmente parecem muito mais lendas e personagens fictícios, ajudaram a contar e formar a história do que hoje conhecemos por Japão.

Foram esses homens que com um enorme senso de política, administração, militarismo e espirutalidade converteram os grandes períodos imperialistas da Terra do Sol Nascente em um importante fragmento histórico da humanidade.

Para o bem ou para o mal, o fim da Era Meiji foi marcante para essas personagens, a abolição do bushidô – o caminho do guerreiro -, por parte das lideranças nipônicas foi a declaração oficial do fim dos samurais e proibidos de exercerem suas funções militares e adminitrativas, muitos viraram andarilhos em busca de trabalhos onde sua conduta pudesse ser executada: os famosos ronins.

Personagens que ficaram marcados na história por lendas como os 7 samurais (tema para animes – Samurai Seven – e filmes action lives) ou os 47 ronins, os guerreiros da espada passaram a habitar o imaginário mundial como os cavaleiros medievais, e os heróis.

Graças aos esforços de alguns destes samurais a doutrina do bushidô não se perdeu por completo. Muitos, após retaliações políticas, conseiguiram fundar o que mais tarde seriam conhecidas como escolas. Escolas essas que garantiriam o surgimento do kendô, esporte de origem japonesa que se utiliza dos fundamentos do combate armado com lâminas – espadas-, e outras armas famosas de uso do samurais (naginata, jitte etc.)

 

(O kendô é a representação do bushidô e dos samurais na atualidade)

 

Para essas escolas de kendô, um nome é responsável por definir todos os preceitos do que foi o período feudal japonês e os samurais: Musashi Miyamamoto, considerado o maior samurai de todos os tempos, é lembrado pela façanha de nunca ter perdido (o que não é verdade!), além de ter desenvolvido um estilo próprio de combate que se sobressaiu sobre todas as escolas existentes em sua época e se perpetuou no kendô contemporâneo: o nitten ryuu.

Mas você deve estar se perguntando: "Saber isso é legal, mas onde você quer chegar Saylon Kaguya?"

Paciência, essa é uma virtude para que quer se tornar um espadachim, mas como eu sou apaixonado pela arte das espadas e infelizmente aqui no meu estado (Maranhão) não existe nenhuma escola de kendô (e sim, o Brasil possui escolas de kendô espalhadas pelos quatro cantos).

Contudo isso não me impede de admirar a arte dos samurais, como um bom pesquisador e escritor, estou sempre atrás de material para enriquecimento do meu repertório intelecutal, e nessas minhas andanças encontrei o livro que pode ser considerado "a Bíblia" do kendoka, ela foi escrita em 1643 por Musashi, "O Livro dos Cinco Anéis" se constituem em um compêndio de cinco manuscritos com as impressões do samurai sobre a arte da espada e o combate.

Nas linhas abaixos vou falar um pouco dele:

Como já disse,o livro é de 1643 e se inicia com uma apresentação sucinta do próprio autor, o Shinmen Musashi no Kami – Fujiwara no Genshin, na época com 60 anos.

 

(Musashi Miyamamoto, pintura japonesa)

 

O Autor e a Obra:

"Quando completei os trinta anos e refleti sobre as minhas experiências, percebi que não tinha conquistado a vitória apenas pela prática das artes marciais… De qualquer maneira, depois disso, pratiquei dia e noite até chegar à conquista de um princípio mais profundo e alcancei a ciência das artes marciais espontaneamente. Tinha cinquenta anos nessa época” (MIYAMAMOTO, Musashi)

 

Dividido em cinco manuscritos – TERRA, ÁGUA, FOGO, VENTO e VAZIO – a obra apresenta os princípio do combate da arte da espada à visão dessas doutrinas concretizadas por Musashi, vamos  conferir o que ele tem a dizer sobre cada uma delas!

 

O Manuscrito da Terra

“No Manuscrito da Terra, poderá ser encontrada uma descrição da ciência das artes marciais através da análise da minha própria escola. A verdadeira ciência não pode ser atingida somente através do domínio da esgrima. Conhecendo o pequeno por intermédio do grande, vamos do superficial ao profundo. Como uma estrada reta que nivela o contorno da terra, assim intitulo o primeiro: Manuscrito da Terra”.

 

Basicamente o primeiro texto trata da necessidade do guerreiro se conhecer antes de entrar em combate, ele é o caminho para a vitória por isso é necessário saber como se portar e executar suas funções.

 

O Manuscrito da Água

“Pegando a água como ponto essencial de referência, faremos com que a mente seja fluida. A água se adapta ao formato da vasilha, seja ela quadrada ou redonda; pode ser uma gota ou um oceano. A água possui a cor de um tanque profundo de água marinha. Motivado pela pureza da água, escrevo sobre a minha própria escola neste manuscrito”.

 

Como já foi dito, Musashi passou anos para aperfeiçoar sua técnica, dessa forma, ele assim como a água, teve que se adaptar a situações adversas para obter a vitóriam, no  que culminou na criação do seu estilo único de combate.

 

(O Livro dos Cinco Anéis, versão brasileira publicada pela Conrad Editora)

 

O Manuscrito do Fogo

“Neste manuscrito, escrevo sobre a batalha. O fogo pode ser grande ou pequeno e, independente do tamanho, possui um sentido de violência. Assim, pois, nele escrevo sobre os assuntos relativos à batalha. Trata-se de uma batalha entre dois indivíduos ou entre dois exércitos, a forma de combater é a mesma. Deve observar refletidamente, com uma consciência global do todo e uma atenção precisa aos detalhes”.

 

Esse pergaminho é uma verdadeira lição do como agir durante situações conflituosas, o famoso estilo samurai, que só ergue a espada quando é realmente inevitável. Mas quando o faz é com um objetivo; ser o vencedor.

 

O Manuscrito do Vento

“O motivo de chamar este de Manuscrito do Vento é porque não trata da minha própria escola. Aqui é onde escrevo sobre as diferentes escolas das artes marciais que existem no mundo. No que diz respeito a usar a palavra vento, serve para simbolizar ‘estilo’ ou ‘maneira de ser’,… A não ser que compreenda verdadeiramente os outros, dificilmente poderá atingir o entendimento de si mesmo.”

 

Nesse texto Musashi destaca o adversário, para ele, conhecer o inimigo é se conhecer também, por isso ele acredita que o motivo de sua escola ter se saído superior ante as outras, e ele estudava o adversário, se buscarmos na História temos um bom exemplo: seu combate contra Kojiro Sasaki.

Por conhecer o estilo de Sasaki – o estilo da andorinha -, Musashi pode preparar uma maneira de derrotar aquele que foi considerado um dos melhores samurais do Japão, embora digam que Musashi Miyamamoto nunca tenha perdido isso é mentira! No kendô existe uma disciplina denominada bôjutsutécnica do bastão -, o difusor dessa doutrina de combate é tido como o homem que uma vez parou Musashi com um bastão de bambu.

 

O Manuscrito do Vazio

“No Manuscrito do Vazio escrevi sobre o ingresso natural na verdadeira via”.

 

Neste último texto todas as doutrinas se convertem para ratificar a necessidade do guerreiro dominar seu espírito, como um bom budista, com elementos do xintoísmo, Musashi também era uma homem espiritualizado.

 

(Os irmãos Sanada, personagens da História japonesa reconhecidos pelo seu papel como samurais no início do Período Tokugawa. Adaptados para a telinha no anime Sengoku Musou.)

 

Conclusão

Em linhas gerais, este livro é um tutorial para que almeja o bushidô e pretende se tornar um grande guerreiro. Cheio de metáforas e filosofias, percebemos o quão inteligente era esse samurai e o porquê ainda hoje é tão admirado. Se si interessou procure a leitura e divirta-se. Ou você pode procurar uma escola de kendô e viver na prática todos os ensinamentos.

A Hikari agradece a atenção. Não deixe de comentar!

 

Referência:

MIYAMAMOTO, Musashi, O livro dos cinco anéis. Blumenau, SC: Editora Eko, 2007.