(Otakus tem trajetórias e carreiras diferentes, mas todos são otakus!)

Being? Becoming? O que esses termos podem ter a ver com a Cultura Otaku? Essa deve ser a pergunta que você deve ter feito ao clicar no link desta matéria não é? Pois bem, a Hikari – a sua fonte de conhecimento dentro da Rádio J-Hero – trás para este mês de abril uma continuação dos nossos estudos filosóficos e antropológicos sobre esse tema que é tão familiar e às vezes parece tão distante: o Otaku.

Nossa última matéria sobre o assunto foi sobre a origem do termo que usamos para nos designar socialmente entre tanto outros nichos culturais jovens, no texto a seguir iremos discorrer um pouco mais sobre esse otaku como agora considerando sua formação dentro do grupo social em que se encaixa a leitura base dessa discussão é de autoria de Vlad Schüler-Costa (Não! Ele não é vampiro!), que pesquisa o que ele denomina como trajetória e carreiras no otakismo:

“O being e o becoming otaku: trajetórias e carreiras de fãs de anime e de mangá”

Para início de conversa vamos desvendar os significados das expressões até citadas:

BEING: É um substantivo em inglês que deriva do radical be (do to be – o verbo ser), essa flexão do verbo ganha conotação quando junta de outra expressão, quer seja substantivo ou adjetivo, no texto de Vlad  a expressão é construída da seguinte forma: being otaku.

Em tradução livre significa “ser otaku, sendo otaku”, de forma geral, esse being otaku é a definição de um membro do grupo social fã de Cultura Pop Japonesa, as  suas práticas, sua estrutura de rede, sua vivência diante de outros otakus, tudo isso define como e quem é você nesse universo (Mais à frente isso será detalhado).

BECOMING: Por outro lado, o becoming, é o ato de torna-se um membro do grupo social, o contanto com a mídia nipônica, escolha de gostos e práticas, a aceitação dentro do grupo, sua influência entre outros fãs de JAPOP etc. É esse processo que leva ao being, mas isso não é necessariamente determinante.

OTAKISMO: é a realização desses dois processos enquanto determinação para a definição de alguém como otaku.

 

(A Iniciação é um dos processos do Becoming Otaku! Leia Mangás!)

 

Para Vlad (já disse que ele não é vampiro!), esses momentos para um otaku são importantes para sua construção como indivíduo do grupo social e determinação de sua participação no meio, o pesquisador acaba por fim qualificando os otakus de acordo com suas trajetórias (a forma como chegou a ser denominado como um membro do grupo social fã de JAPOP), e suas carreiras (o que ele realiza dentro do grupo para se afirmar como tal), segundo Vlad  a trajetória do otaku (o seu becoming), no contexto da sociedade brasileira  é divido nos seguintes momentos:

 

1 – A Familiarização: que seria a sua exposição ao material audiovisual de origem japonesa veiculado na TV brasileira;

2 – A Iniciação: que seria a busca pela mídia editorial, ou os quadrinhos (mangás), presentes no cenário comercial do Brasil;

3 – A Conversão: que seria a apreciação de material audiovisual japonês por meio alternativos (internet e seus fansubs);

4 – A Legitimação: essa última seria a leitura dos mangás em meio alternativos;

 

Vlad é muito restrito em seu pensamento, os elementos como j-music, games, light novels etc., poderiam muito bem se encaixar nos itens 3 e 4, já no item 2 poderia-se dizer que a busca por mais conteúdo seria um agravante melhor, exceções feitas, esses são os quatro passos para se tornar um otaku.

Se considerarmos melhor esses termos, concordamos que esse é um traçado geral feito por muitos de nós para sermos o que somos hoje.

 

(O grupo The Kira Justice é um bom exemplo de entrepreneuer e performer no universo otaku)

 

No que tange as carreiras (ações realizadas pelos otakus), o antropólogo define três méritos majoritários aos membros do grupo social:

 

A – O Entrepreneuer: indivíduo que busca conciliar sua vivência como otaku com sua carreira profissional, transformando seu otakismo em renda,exemplo: o vendedor de itens para colecionador, pro-gamers;

B – O Promoter: indivíduo que não precisa estar profissionalmente ligado ao universo otaku, seria alguém que busca apenas a massificação de seus gostos ante outros membros do grupo social, exemplo: os Staffs de eventos e comunidades na web;

C – O Performer: esse seria o otaku que se destaca em uma atividade prezada pelos demais, detém a capacidade de entreter os membros do grupo social, exemplo: cosplayers, anime bands, pro-gamers etc.

 

Sobre essas três definições, me arrisco a delimitar uma quarta (D), que seria o Social, um otaku que não promove nenhum desses aspectos mas é respeitado por seu nível de conhecimento dentro do grupo e suas realizações quanto a interação entre ele e os membros.

Definições à parte acho que cada um de nós temos um jeito de ser e tivemos um motivo para nos tornar otakus, o mais importante é não deixarmos morrer nossas convicções, trajetórias e carreiras não definem de fato o que é um otaku, mas sim a sua vontade de ser um.

Valeu pessoal! Nossa análise está feita! Agora é com vocês e até a próxima.

 

REFERÊNCIA:

SCHÜLER-COSTA, Vlad. O being e o becoming otaku: trajetórias e carreiras de fãs de anime e de mangá. Simbiótica, Ufes, v.único, n.6, 2014.