"Se a internet finalmente deixou, agora é hora de abrir oficialmente os trabalhos!"
Após um longo período de nove meses ausente deste espaço de interação tão nostálgico que é a Redação da J-Hero (período em que Copas foram perdidas, a seleção alemã fez 7 gols, aviões caíram, Dilma foi reeleita, e milhões de mulheres no mundo inteiro tiveram que passar por aquela que é a única das dores que eu não vou vivenciar na pele – a dor do parto), eu, Saylon Kaguya retornei a este núcleo de sabedoria e mentes cultas que é a nossa redação.
Antes de tudo um agradecimento especial a nossa redatora-chefe Musa-sama, que me permitiu vivenciar 2014 com a esperança de retorno, quando meus horários estivessem mais uma vez normalizados. E cá estou eu estreando uma nova coluna!
Calma, jovens gafanhotos! A Otaku Jukebox não morreu, só não há condições de retomá-la agora. Afinal, não faz muito tempo que voltei as minhas funções. Mas mantenham a esperança, pois 2015 vem cheio de surpresas. Por isso resolvi começar uma nova coluna, com um nível de dificuldade menor, para que eu pudesse seguir tranquilo nesse período de readaptação.
Apresento-lhes Hikari. Do japonês “luz”. Esta coluna tem como objetivo trazer novos olhares sobre a literatura, a arte, o cinema e outros variantes da cultura oriental. Uma análise mais específica sobre a produção cultural que amamos.
Começando a primeira Hikari do ano trazendo à tona uma dica de leitura muito interessante para quem viveu (e mais ainda para quem não viveu) o período chamado de a “Era de Ouro dos Animes no Brasil”.
Apresento-lhes “A presença do Animê na TV brasileira”, livro da jornalista e pesquisadora paulista Sandra Monte. Conheci este livro no ano passado e decidi que queria lê-lo. Isso porque, ele se tornou uma fonte importante para a minha pesquisa acadêmica na universidade, que é justamente sobre a mídia otaku.
(Pode não parecer, mas Sandra Monte é fera quando o assunto é cultura pop japonesa e animes/mangás)
“A presença do Animê na TV brasileira” é fruto de um estudo jornalístico, pesquisa e fundamentação histórica da animação japonesa no Brasil. Os primeiros títulos nos anos 60 e 70, as obras exibidas nos anos 80, a explosão dos anos 90 e a consolidação nos anos 2000.
Divididos em duas partes – uma comentando o contexto histórico e outra mais restrita aos animes na TV brasileira – a obra tem capítulos importantes e que ajudam a compreender a chegada e o sucesso dos animes em solo tupiniquim.
Para saciar a curiosidade dos leitores vamos explorar três capítulos determinantes na discussão de Sandra Monte. São eles:
(A Presença dos Animês na TV Brasileira)
PARTE 1 – Capítulo 2: Breve história da Televisão Brasileira e sua relação com os animês.
PARTE 2 – Capítulo 2: A revolução: Cavaleiros do Zodíaco, contexto histórico, econômico, social e cultural da época.
PARTE 2 – Capítulo 4: A importância dos animês na sociedade brasileira.
Bom, vamos à luz!
O primeiro capítulo em destaque, como pode-se perceber, trata-se obviamente da aproximação de duas culturas (brasileira e japonesa) por meio da mídia – em nosso caso as TVs e no deles as produções de animação. Chega-se, ao final da leitura do capítulo, a conclusão de que se a televisão não tivesse conquistado significativo da rotina do brasileiro, seria muito, mais muito mesmo, difícil a chegada de produções audiovisuais advindas de qualquer outra parte do globo. Nem mesmo o fato de o Brasil ser a maior colônia japonesa fora das “Terras do Sol Nascente” não justificariam a atribuição dos animes a uma grade de programação.
Como o brasileiro foi se acostumando ao hábito de se sentar em frente à TV pelo menos uma vez por dia, foi possível criar uma espécie de relação entre a mídia e seus consumidores. Vários grupos sociais, étnicos, ideológicos e, neste caso específico, etários se sentiram atraídos pela TV.
E nada mais rápido e eficiente para atrair crianças do que desenhos animados. Tudo começa com as produções francesas e norte-americanas, mas foi o espectro criativo nipônico que se mostrou o mais atraente. A pesquisa de Sandra é tão profunda, que chegamos a descobrir o primeiro anime exibido sozinho na TV sem participação em alguma sessão de animação como ainda hoje é comum na TV aberta: O Oitavo Homem, exibido às seis da tarde do dia 24 de setembro de 1968 pela (ironicamente a história é assim!) TV Globo.
(O Oitavo Homem é o primeiro anime a ser exibido idependente de "programas de TV". Sua transmissão foi exclusiva em São Paulo, pois ainda não existia a Rede Globo.)
Em sua lista de exibições e animes destaque de 60 a 80 (aí abre-se espaço também para os primeiros tokusatsus e tudo mais) animes como Capitão Meteoro (1968), que ficou conhecido popularmente, assim como Speed Racer, Samurai Kid (1969), etc.
Mas nada se compara ao ápice da história, que ganha um capítulo exclusivo. No nosso segundo destaque falamos justamente do capítulo dedicados aos “Guerreiros de Atena”. É unânime, para entusiastas e pesquisadores, que o sucesso garantido por Saint Seiya em solo brasileiro perpetuou a estadia dos animes no cotidiano de muitos.
Sandra leva ao questionamento como uma fórmula, que durante quase três décadas se mostrou incipiente, conseguiu o destaque que alcançou naquele que, sem sombra de dúvida, foi o apogeu do mercado televisivo (me desculpem os anos 2000). Para a pesquisadora, a TV já não creditava mais as produções japonesas. Nada de novo chamava a atenção. Os enlatados americanos e mexicanos ganhavam destaque.
Novelas como Carrossel, séries como Simpsons e Família Dinossauro, ganhavam destaque e atraíam não só o público, mas também os setores comerciais das televisões. Se fosse noutro momento a “explosão cavaleiros” não ia rolar, contudo como a história nos conta, graças a Eduardo Miranda, e uma negociação bizarra entre Rede Manchete e Fantoy, o sucesso dos anos 90, que garantiu o filão de fãs perpetuamente dos animes nos trópicos aconteceu.
Cavaleiros do Zodíaco veio em um momento de mudanças no país. A economia – criação do Plano Real – e a cultura possibilitaram o surgimento de um novo tipo de conversa. Não mais se falava somente do horário nobre da Globo. Tudo o que tinha a ver com o Japão agora parecia interessante.
(Alguns dos clássicos exibidos pela extinta – e eternamente amada – Rede Manchete)
Por fim, e não menos importante, o terceiro destaque.
Esse destaque é justamente sobre nós: os admiradores da cultura pop oriental. Vou transcrever alguns trechos:
“A importância dos animês para a sociedade brasileira é praticamente incontestável. O grande sucesso de Cavaleiros do Zodíaco beneficiou não somente o comércio, mas também a disseminação da cultura pop japonesa (…)”.
“(…) Assim, quando a animação japonesa e posteriormente a aceitação da cultura pop japonesa se firmaram no início dos anos 2000, as grandes culturas de massa já não tinham mais a força das décadas anteriores (…)”.
“(…) Ou seja, os interessados pela cultura pop japonesa, especialmente pela animação japonesa, hoje são um grupo segmentado (…)”.
Bom, é isso!
O livro é uma dica prazerosa. A leitura é rápida e pode ser feita até mesmo no ônibus. O livro não é gigante!
É interessante conhecermos nossas origens. Só se considerar otaku, gostar de animes e coisa e tal pode não ser o suficiente. Será que você sabe defender seu estilo para pessoas que não sabem o que é JAPOP (cultura japonesa)? E hoje em dia, em que muitas outras culturas orientais se misturaram? Conhecer um pouco da história da relação entre Brasil e Japão no contexto midiático serve como respaldo para nossas ações como fã.
Se quiser conhecer mais o trabalho de Sandra Monte você pode ler o livro “A presença do Animê na TV brasileira”, ou visitar seu blog (papodebudega.com) onde ela comenta sobre tudo o que tem haver com a mídia otaku.
Esta é a primeira luz que lançamos em 2015.
Para vocês: Hikari!