Olá, caros viajantes, aqui é a Vicky, e hoje eu vou falar com vocês sobre uma obra que deveria ser mais panfletada e que tem tudo a ver com a data do dia de ontem: 29/08, Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. A data foi escolhida por conta do 1º Seminário Nacional de Lésbicas, em 1996. Na época, o evento foi um marco para a história da luta contra a lesbofobia e, por isso, o dia foi escolhido para representar a importância e a necessidade de promover representatividade lésbica e relembrar a luta diária dessas mulheres.

Sem mais delongas, a minha indicação de leitura hoje é My Lesbian Experience with Loneliness (Minha Experiência Lésbica com a Solidão). A obra é um título autobiográfico em que a autora, Kabi Nagata, conta a luta dela contra a depressão, a ansiedade e outras doenças que a acometeram, até ela conseguir se libertar das amarras e se encontrar como pessoa.

A obra saiu inicialmente na Espanha, em fevereiro de 2017, pela editora Fandogamia, sendo publicada nos Estados Unidos em junho de 2017 pela editora Seven Seas; na França, em outubro de 2018, pela editora Pika; na Itália, em janeiro de 2019 pela editora J-POP; e na Alemanha, em março de 2019, pela editora Carlsen. No Brasil, o título foi publicado em dezembro de 2019 pela editora NewPOP.

Sinopse oficial

Durante dez anos desde que se formou no colégio, a autora Kabi Nagata viveu dias de sofrimento e se sentindo sufocada. E a solução a que ela chegou para se libertar foi: ser abraçada por uma garota de programa lésbica…! Conheça a história real de Nagata, onde ela mostra o seu processo extremo de autorreflexão até conseguir se encontrar, contada sem censuras!

A história de Kabi Nagata retratada em Minha Experiência Lésbica com a Solidão é uma narrativa sobre como uma pessoa se entende como alguém que não se encaixa em como a família e a sociedade esperam que ela viva. Enxergar-se dessa forma acaba sendo o estopim para uma série de coisas que começam a dar errado na vida da mesma, sua dificuldade conviver com outras pessoas, de dialogar, de trabalhar, o desânimo crescente e a necessidade de se sentir validada pelos outros, entre outras coisas.

O conjunto de tudo isso, somado ao cansaço e a falta de reação que ela apresentava, resultou em um quadro grave de depressão, somatizado a outras doenças, o que resulta numa narrativa impactante, densa, em que a personagem se encontra à beira de um abismo, com cenas extremamente desconfortantes e que podem estar acontecendo com pessoas que nós conhecemos e não fazemos ideia do quanto se sentem deslocadas.

Há muitas situações na obra que se encaixam em questionamentos que podemos fazer-nos, a necessidade de sermos aceitos, de darmos orgulho a nossos pais, a sensação de deslocamento, de nos sentirmos mal por não conseguirmos atingir os ideais inalcançáveis que almejam para nós, que descrevem uma perfeição que nem existe.

Nagata era essa pessoa que não conseguia viver do jeito “certo” e, embora tivesse consciência disso, ela tentava fazer coisas que agradassem aos outros, mesmo que isso significasse que estaria indo contra aquilo que ela queria de fato, fazendo com que mais e mais seus problemas se acumulassem, então chegamos a um ponto na história em que ela começa a enfrentar isso.

Ela confronta sua sexualidade, pois uma parte do seu trauma estava relacionado ao fato de que ela não conseguia perceber ou não conseguia lidar com sua atração por mulheres, o simples fato de sentir atração a fazia reprimir todos seus desejos sexuais. A partir disso, a história caminha para uma tentativa de redenção e autoconhecimento, mesmo que não de uma maneira linear e harmônica.

Quero ressaltar que o mangá não é erótico, não existe aquela fetichização comum em outras obras, de modo que há uma cena ou outra que aborda isso, mas não é o tópico central do texto. A autora relata seus sofrimentos e medos, muitas vezes com uma pitada de humor, conseguindo passar uma importante mensagem de superação, de aceitação própria, mesmo quando te dizem que você não é normal apenas por não se comportar como eles esperam.

Ainda que seja uma obra autobiográfica (de reflexão sobre ela mesmo), nos faz pensar que podemos fazer mais pelas outras pessoas, pois somos nós, essa sociedade julgadora, que fazemos com as pessoas tentem se enquadrar naquilo que julgamos ser o melhor para elas, sem o respeito às suas individualidades. Não quero dar mais detalhes sobre a obra pois quero que tenham uma boa experiência ao lerem e tirem suas próprias conclusões.

Para aqueles que leram esse texto e se identificaram, quero dizer para vocês que acredito na autoaceitação. Eu sei que não vai ser de um dia pro outro, mas continuem se olhando e lembrando das partes que gosta, vendo as que não gosta, se pergunte o porquê de não gostar e olhe-se até que você possa se acostumar consigo e ver que elas são tão suas quanto todas as outras. Vale a insistência, chegará o dia que você olhará para si mesma e, ainda que não goste de você por inteiro, será capaz de admirar-se e amar-se, principalmente por ser você mesma. Para finalizar, a respeito da data: que ela seja uma luta por respeito, para que sejam todas livres em existências plenas! Apoie, valorize, dê espaço e voz para essas mulheres!