A vida é cheia de incertezas e dúvidas. Existem, porém, algumas coisas que são certas: a morte, os impostos, o show do Roberto Carlos no fim de ano, coxinha ser comida a partir da base, o nome certo ser “bolacha” ao invés de “biscoito”. E, acima de todas essas certezas já citadas, temos fé de que os protagonistas de animes shōnen terão que enfrentar muitos desafios e batalhas e que, apesar de tudo, manterão um inabalável desejo de alcançarem seus objetivos. Talvez não aconteça em 100% dos casos, mas é algo (bem) comum, já repararam? Mais do que isso, já pararam para pensar por que isso ocorre? Hoje vamos refletir um pouco sobre os protagonistas shōnen e uma de suas características mas importantes: a força de vontade.

Olá queridos leitores, como estão? Antes de nós adentrarmos no artigo, apenas deixe-me dizer algo que me esqueci de mencionar na semana passada, em minha matéria de estreia na J-Hero: eu sou o Roberto “Rober” Silva, faço parte da nova “safra” de redatores da J-Hero e sou roteirista. Meu principal intuito com minhas matérias é justamente apresentar algumas características de nossos animes preferidos de um ponto de vista mais “técnico” e até didático. Espero que gostem. Se não gostarem, é só ligar para o nosso SAO (Serviço de Atendimento ao Ouvinte). Brincadeira, nós não temos um desses por aqui (ainda). Tudo bem, agora podemos voltar ao tema de hoje.

Você, querido leitor, sentado em seu sofá caríssimo ou recostado em sua cama king size, pode estar se perguntando sobre o motivo que me fez escolher Tanjirō Kamado para explanar sobre a força de vontade de um protagonista shōnen. A resposta: além do Tanjirō ser um bom protagonista, o redator aqui finalmente está se redimindo do pecado de nunca ter visto Kimetsu no Yaiba (pois é). Dessa forma, Tanjirō é o protagonista mais “fresquinho” na sua mente. Grandes critérios de escolha, não? Certamente!

Voltemos ao tema da matéria, a força de vontade de um protagonista shōnen. Grande parte desse tipo de anime segue justamente o chamado Modelo Clássico das histórias. Nesse modelo, nós temos, no início, o protagonista vivendo sua vida com tranquilidade e equilíbrio, ainda que parcialmente. Na sequência, nós vemos algum acontecimento único acontecendo e impactando diretamente o protagonista, seu mundo e sua maneira de viver. Tal acontecimento, que pode ter sido causado pelo personagem ou não, tira o protagonista daquele equilíbrio inicial e o lança em um estado de dor, infelicidade, perplexidade ou algo do gênero. As coisas nunca mais serão como antes.

Diante desse novo cenário, o protagonista percebe que ele precisa agir e logo ele percebe o que precisa para fazer com que as coisas voltem a ser como antes (ainda que parcialmente) e parte em busca disso. Mas a vida não é comercial de margarina, e rapidamente o protagonista percebe que não vai ser tão fácil conseguir o que ele quer. Forças antagônicas (opostas, contrárias, que atrapalham) agirão para impedi-lo, e é aí que começamos a falar, de fato, em força de vontade.

A resposta antagônica à tentativa do protagonista de conseguir o que quer será, em um primeiro momento, moderada. Isso fará com que nosso protagonista tenha que tomar atitudes que sejam maiores e mais intensas que tal resposta contrária. Logo na sequência, a oposição ao protagonista seguirá mas será um pouco maior, e isso exigirá uma segunda resposta ainda mais intensa por parte do personagem principal e assim por diante. Em suma, os desafios vão aumentando cada vez mais, e isso vai exigir uma força de vontade cada vez maior por parte do protagonista para que ele siga em frente em seus objetivos. É imprescindível que o protagonista queira tanto alcançar seu objetivo, que ele esteja disposto a não somente tomar atitudes cada vez mais intensas e fortes para superar as adversidades que também lhe sobrevêm com cada vez mais intensidade e força, mas também esteja disposto a arriscar tudo para tal. Caso contrário, ele sucumbirá perante os contratempos (e é game over para o anime).

Agora vamos aplicar isso ao nosso queridíssimo Tanjirō. Para tanto, usaremos os três primeiros episódios da primeira temporada do anime de Kimetsu no Yaiba como exemplo.

Tanjirō vivia tranquilamente com sua família nas montanhas e, em mais um dia normal de trabalho, saíra para vender carvão na cidade. Ao voltar para casa ele percebe que havia perdido a maior parte de sua família graças à ação de onis, restando apenas uma de suas irmãs, Nezuko. Tanjirō, então, decide que ajudará Nezuko a voltar à forma humana e que se vingará de quem faz aquilo à sua família. Mas, como vimos acima, a vida não é comercial de margarina, e ele não iria conseguir seus objetivos tão facilmente. Seria exigido dele uma enorme força de vontade para vencer as adversidades e superar os obstáculos.

Para seguir em frente com o plano de vingança que havia traçado, Tanjirō precisava entrar para o Esquadrão de Caçadores de Oni e, para tanto, precisava passar pelo treinamento de Sakonji Urokodaki.

Já na parte final de seu treinamento e já no terceiro episódio da primeira temporada, ele passa por um dos testes mais duros (e um dos mais legais, na minha opinião) da primeira temporada: cortar uma enorme rocha com sua espada.

Sim, ele consegue cortar a pedra. E, acima de tudo, mostra que sua vontade é mais firme e resistente do que ela. E isso é imprescindível para um bom protagonista e uma boa história. Na sequência da obra, desafios ainda maiores são postos diante de nosso herói que, resoluto de suas metas, segue firme em seu caminho.


Por hoje é só, meus queridos. Obrigado pela atenção e paciência. Nos vemos na próxima semana.