Olá, meus caros viajantes! Em nossa viagem de hoje, convidei o Haydaru para juntos falarmos sobre o live-action de Cowboy Bebop e nossas impressões sobre esta produção que estava sendo tão esperada.
Já está disponível no catálogo da Netflix o live-action Cowboy Bebop, adaptação do renomado anime criado pela Sunrise Inc.. Embora abranja uma ampla variedade de gêneros, a obra original se baseia principalmente em filmes de ficção científica, faroeste e noir, sendo recorrente em sua temática a solidão, o tédio existencial e a impossibilidade de escapar do passado.
Sinopse
A Terra foi devastada por uma chuva de asteroides, e poucos territórios permaneceram habitáveis. Com isso, os humanos sobreviventes povoaram outro outros planetas e luas do Sistema Solar. Dentro desta nova sociedade espacial formada, se destaca Spike Spiegel (John Cho), um caubói do espaço que ganha a vida capturando bandidos dentro da nave Bebop. Seu parceiro é Jet Black (Shakir), ex-policial e capitão da aeronave. A dupla conhece a golpista Faye Valentine (Daniella), experiente caçadora de recompensas…
Algumas alterações foram feitas na narrativa para encaixar a trama no formato de uma série com dez episódios, como por exemplo o vilão Vicious (Alex Hassell), que ganha uma história que tenta justificar a sua presença no live-action. E talvez este seja um dos aspectos que menos curti na produção: alguns arcos emocionais dos personagens não são tão bem desenvolvidos. Mas nem tudo é reclamação: o trio de protagonistas é carismático quando interage de modo orgânico, além de toda a caracterização de personagens, que ficou a cargo de Hajime Yatate e Keiko Nobumoto, que conseguem preservar muito a identidade que é proposta no anime.
Haydaru
Vou começar falando da trilha sonora do live-action. Eu particularmente gostei bastante dos remixes das músicas, algumas deram até uma certa nostalgia. Acho que escolheram ótimos momentos para introduzir cada uma na série. Os protagonistas também são muito divertidos e carismáticos, e a escolha de figurino e elenco lembra muito o anime, o que também trouxe uma nostalgia para quem está assistindo. No sentido técnico, o live-action não deixa a desejar: nas cenas com mais ação, gostei dos movimentos utilizados e bem coreografados.
Vicky
Embora a adaptação hollywoodiana não abandone o drama e a violência do universo Bebop, a proposta privilegia excessivamente a comédia, o absurdo e o caricato durante a maior parte de seus dez episódios, mas não posso negar que o nível técnico é altíssimo desde a sequência de abertura. A série live-action, co-dirigida por Alex García López (The Witcher) e Michael Katleman (Zoo) nos mostra que foi feito um esforço legítimo para entregar a melhor versão possível.
Cada departamento gastou muito tempo estudando cada enquadramento e as artes conceituais fornecidas pela Sunrise, dos cineastas Jean-Philippe Gossart, Dave Perkal e Thomas Burstyn; por meio dos designers de produção Grant Major e Gary Mackay. Tendo sido filmado na Nova Zelândia, a produção exigiu 140 cenários e locações repletas de pequenos ovos de Páscoa, referências e homenagens à franquia dentro e fora da ficção, trazendo personagens, visual e diversos momentos marcantes do anime.
Haydaru
Os pontos negativos da série em minha opinião é o que geralmente fazem em todos os live-actions de anime: tentar copiar 100% as expressões dos personagens, o que deixa tudo muito caricato e traz um certo desconforto visual nas cenas, deixando-as genéricas. Um exemplo de quando acertaram foi em Samurai X, em que deram uma identidade própria para o live-action, deixando-o muito bom, em minha opinião. E faltou isso em Cowboy Bebop: uma identidade própria, não ser uma tentativa de “cópia”.
Vicky
A obra encabeçada por André Nemec assumiu a tarefa de capturar toda a essência do aclamado anime e o traduzir para um novo formato e também para um público diferente, e parte dessa missão foi cumprida, o que, a meu ver, já torna válida sua existência, já que desperta a curiosidade para que outras pessoas conheçam a obra original. Dito isto, achei cafona: as lutas, os diálogos, enquadramentos e efeitos especiais são exagerados, extrapoladando a ponto de causar desconforto, passando do limite do bobo que é aceitável.
Percebe-se que no live-action existe uma necessidade de explicar e falar tudo que é subentendido no anime: a tristeza existencial de Spike, o motivo de sua paixão por Julia, por que Vicious é do jeito que é. Os detalhes são tão bem explicados que acaba por esvaziar o encanto, a magia da obra. Mesmo sabendo que as decisões cinematográficas que foram tomadas pela produção fazem sentido para uma adaptação live-action, fiquei um pouco decepcionada.
Em entrevista à Entertainment Weekly, André Nemec disse que a versão do Netflix não é bem um remake em live-action, mas uma reinterpretação que vai expandir o universo visto no anime:
Eu prometo que nunca tiraremos o anime original dos puristas. Sempre existirá. Mas estou muito animado com as histórias que estamos contando. Acho que fizemos um bom trabalho em não violar o cânone em nenhuma direção, mas simplesmente ofereceremos alguns vislumbres adicionais para o mundo que já foi criado.
Haydaru
Concluindo: Cowboy Bebop não deixa nada a desejar em sua trilha sonora e também em figurino. A escolha dos personagens principais foi realmente boa, e só faltou, em minha opinião, uma identidade própria no live-action, o que tornaria a série muito mais agradável de assistir, não a deixando tão caricata.
Vicky
Em suma, apesar de ter vários acertos a obra falha com explicações em excesso e alguns exageros. Sendo Cowboy Bebop um dos meus animes preferidos, me senti meio dividida em minha opinião. Acho que o que resume o meu pensamento é a seguinte metáfora: o live-action é como uma banda de tributo, que conhece o repertório musical, mas não tem a presença de palco para emplacar os sucessos. Mas, encarando como uma releitura (o que realmente é), fico feliz pela obra ser propagada e por fazer um público novo se apaixonar. Minha nota seria 7/10.