Ok, 3, 2, 1, let’s jam… Vamos falar de Cowboy Bebop?

A comédia, o absurdo e o caricato: nossas primeiras impressões sobre o novo live-action!

Vicky · 22 de novembro de 2021 às 18:07
menos de 1 minuto de leitura

Olá, meus caros viajantes! Em nossa viagem de hoje, convidei o Haydaru para juntos falarmos sobre o live-action de Cowboy Bebop e nossas impressões sobre esta produção que estava sendo tão esperada.

Já está disponível no catálogo da Netflix o live-action Cowboy Bebop, adaptação do renomado anime criado pela Sunrise Inc.. Embora abranja uma ampla variedade de gêneros, a obra original se baseia principalmente em filmes de ficção científica, faroeste e noir, sendo recorrente em sua temática a solidão, o tédio existencial e a impossibilidade de escapar do passado.

Sinopse

A Terra foi devastada por uma chuva de asteroides, e poucos territórios permaneceram habitáveis. Com isso, os humanos sobreviventes povoaram outro outros planetas e luas do Sistema Solar. Dentro desta nova sociedade espacial formada, se destaca Spike Spiegel (John Cho), um caubói do espaço que ganha a vida capturando bandidos dentro da nave Bebop. Seu parceiro é Jet Black (Shakir), ex-policial e capitão da aeronave. A dupla conhece a golpista Faye Valentine (Daniella), experiente caçadora de recompensas…

Algumas alterações foram feitas na narrativa para encaixar a trama no formato de uma série com dez episódios, como por exemplo o vilão Vicious (Alex Hassell), que ganha uma história que tenta justificar a sua presença no live-action. E talvez este seja um dos aspectos que menos curti na produção: alguns arcos emocionais dos personagens não são tão bem desenvolvidos. Mas nem tudo é reclamação: o trio de protagonistas é carismático quando interage de modo orgânico, além de toda a caracterização de personagens, que ficou a cargo de Hajime Yatate e Keiko Nobumoto, que conseguem preservar muito a identidade que é proposta no anime.

Haydaru

Vou começar falando da trilha sonora do live-action. Eu particularmente gostei bastante dos remixes das músicas, algumas deram até uma certa nostalgia. Acho que escolheram ótimos momentos para introduzir cada uma na série. Os protagonistas também são muito divertidos e carismáticos, e a escolha de figurino e elenco lembra muito o anime, o que também trouxe uma nostalgia para quem está assistindo. No sentido técnico, o live-action não deixa a desejar: nas cenas com mais ação, gostei dos movimentos utilizados e bem coreografados.

Vicky

Embora a adaptação hollywoodiana não abandone o drama e a violência do universo Bebop, a proposta privilegia excessivamente a comédia, o absurdo e o caricato durante a maior parte de seus dez episódios, mas não posso negar que o nível técnico é altíssimo desde a sequência de abertura. A série live-action, co-dirigida por Alex García López (The Witcher) e Michael Katleman (Zoo) nos mostra que foi feito um esforço legítimo para entregar a melhor versão possível.

Cada departamento gastou muito tempo estudando cada enquadramento e as artes conceituais fornecidas pela Sunrise, dos cineastas Jean-Philippe Gossart, Dave Perkal e Thomas Burstyn; por meio dos designers de produção Grant Major e Gary Mackay. Tendo sido filmado na Nova Zelândia, a produção exigiu 140 cenários e locações repletas de pequenos ovos de Páscoa, referências e homenagens à franquia dentro e fora da ficção, trazendo personagens, visual e diversos momentos marcantes do anime.

Haydaru

Os pontos negativos da série em minha opinião é o que geralmente fazem em todos os live-actions de anime: tentar copiar 100% as expressões dos personagens, o que deixa tudo muito caricato e traz um certo desconforto visual nas cenas, deixando-as genéricas. Um exemplo de quando acertaram foi em Samurai X, em que deram uma identidade própria para o live-action, deixando-o muito bom, em minha opinião. E faltou isso em Cowboy Bebop: uma identidade própria, não ser uma tentativa de “cópia”.

Spike está no meio de uma igreja com um grande cruz em um altar logo atrás dele. Ele olha fixamente para frente e caminha com uma arma em sua mão direita. O personagem usa um terno azul com uma camisa branca e gravata preta, tem um cabelo cheio e encaracolado preto e está com o rosto manchado de sangue.

Vicky

A obra encabeçada por André Nemec assumiu a tarefa de capturar toda a essência do aclamado anime e o traduzir para um novo formato e também para um público diferente, e parte dessa missão foi cumprida, o que, a meu ver, já torna válida sua existência, já que desperta a curiosidade para que outras pessoas conheçam a obra original. Dito isto, achei cafona: as lutas, os diálogos, enquadramentos e efeitos especiais são exagerados, extrapoladando a ponto de causar desconforto, passando do limite do bobo que é aceitável.

Percebe-se que no live-action existe uma necessidade de explicar e falar tudo que é subentendido no anime: a tristeza existencial de Spike, o motivo de sua paixão por Julia, por que Vicious é do jeito que é. Os detalhes são tão bem explicados que acaba por esvaziar o encanto, a magia da obra. Mesmo sabendo que as decisões cinematográficas que foram tomadas pela produção fazem sentido para uma adaptação live-action, fiquei um pouco decepcionada.

Em entrevista à Entertainment Weekly, André Nemec disse que a versão do Netflix não é bem um remake em live-action, mas uma reinterpretação que vai expandir o universo visto no anime:

Eu prometo que nunca tiraremos o anime original dos puristas. Sempre existirá. Mas estou muito animado com as histórias que estamos contando. Acho que fizemos um bom trabalho em não violar o cânone em nenhuma direção, mas simplesmente ofereceremos alguns vislumbres adicionais para o mundo que já foi criado.

Haydaru

Concluindo: Cowboy Bebop não deixa nada a desejar em sua trilha sonora e também em figurino. A escolha dos personagens principais foi realmente boa, e só faltou, em minha opinião, uma identidade própria no live-action, o que tornaria a série muito mais agradável de assistir, não a deixando tão caricata.

Vicky

Em suma, apesar de ter vários acertos a obra falha com explicações em excesso e alguns exageros. Sendo Cowboy Bebop um dos meus animes preferidos, me senti meio dividida em minha opinião. Acho que o que resume o meu pensamento é a seguinte metáfora: o live-action é como uma banda de tributo, que conhece o repertório musical, mas não tem a presença de palco para emplacar os sucessos. Mas, encarando como uma releitura (o que realmente é), fico feliz pela obra ser propagada e por fazer um público novo se apaixonar. Minha nota seria 7/10.

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Sobre Vicky

Otaku, escritora, locutora na J-Hero e cinéfila, conectada ao mundo dos animes, J-Rock e cultura oriental.