Olá, meus amores! Aqui é a Vicky, e hoje eu quero contar para vocês que descobri um novo hobby: assistir doramas (mais exatamente, os k-dramas). Confesso para vocês que eu, por puro preconceito, nunca quis assistir a nenhum, achando que seria ruim. Pois bem, resolvi assistir. Nem lembro bem por quê, mas acabei escolhendo um (que não vai ser minha indicação deste artigo, haha). Eu comecei a assistir, gostei do primeiro episódio, maaaas fui ficando revoltada com a história e continuei na esperança que em algum momento iria melhorar, mas não melhorou. Quando finalizei, eu pensei: vou escolher outro, de forma aleatória, e tentar dar outra chance, e minha escolha foi Run On (Na Direção do Amor).

A princípio, o título pode trazer uma ideia errônea sobre o que a história deseja passar: a relação das personagens com suas emoções, a forma como lidam com seus problemas e com as pessoas a sua volta. Não é uma história cheia de ação e reviravoltas e pode incomodar a quem prefere algo mais fantasioso, mas eu particularmente adorei essa abordagem mais realista e a construção dos personagens, em que podemos observar suas dores e superações.

Sinopse

Um famoso atleta dá uma guinada na vida e decide correr atrás de seus sonhos depois de conhecer uma tradutora.

Os protagonistas

O atleta Ki Seon-gyeom é um rapaz introvertido que não consegue expressar muito bem suas emoções devido à forma como foi criado, mas possui consciência de seus privilégios por ser famoso e rico e luta para que outras pessoas não saiam em desvantagem por causa disso. Interpretado pelo Im Si-wan, integrante do grupo de k-pop ZE:A e que também participou de O Rei Apaixonado e Misaeng.

A protagonista, tradutora-intérprete Oh Mi-joo, é uma garota que vive uma vida comum, pagando seus boletos e trabalhando com algo que gosta. Interpretada pela Shin Se-kyung (de A Esposa do Deus da Água, Hae Ryung, a Historiadora, e A Garota Que Vê Cheiros)

Outro casal que se destaca é o da empresária Seo Dan-ah, interpretada pela integrante do Girls’ Generation Choi Soo-young, e o pintor Lee Yeong-hwa, interpretado pelo Kang Tae-oh, do grupo 5urprise. Dan-ah é uma mulher bem-sucedida e fria, numa inversão do clichê do menino CEO rebelde. Já Yeong-hwa é um rapaz ainda imaturo e inconsequente.

Alguns assuntos abordados

Os assuntos abordados são bem delicados; por isso, se você for uma pessoa sensível com o tema bullying, eu não recomendo que assista se for te trazer gatilhos, pois algumas das cenas, especialmente as dos primeiros episódios, são pesadas, apesar de serem tratadas de forma leve, e bem construídas. De forma resumida, um atleta novato sofre violência física dos atletas veteranos, causando assim danos físicos e psicológicos no personagem. Se formos mais fundo, podemos perceber uma crítica aos comitês esportivos e ao modo como muitos atletas são tratados. E mais adiante vamos ver esse tema retomar não apenas no ambiente profissional, mas também no escolar e familiar (apesar de esses serem mais sutis).

Outro ponto que é levantado é o machismo com a carreira de tradutora e intérprete da Oh Mi-joo, os preconceitos que ela enfrenta por ser mulher. Aliás, já nas primeiras cenas vemos isso acontecendo, e uma das coisas que me fez gostar do dorama foi o fato de ela ser uma personagem forte que retrucou o assédio moral que sofreu logo no primeiro episódio: em uma das cenas em que seu antigo professor insinua que ela conseguiu determinado trabalho pelo fato de ser mulher, ela o questiona se ser mulher importa, já que nos filmes, o que aparece são as suas legendas e não seu rosto. A Seo Dan-ah também sofre com isso, pois apesar de ser bem-sucedida profissionalmente, extremamente competente no que faz, foi registrada após o nascimento de seu irmão (por ele ser homem) para que ela não viesse a herdar os negócios da família como primogênita.

Representatividade

Alerta de spoiler: se você pretende assistir, eu recomendo que pule esta parte!

Tem um pouco de representatividade LGBTQ+, mas de modo discreto: uma das personagens se identifica como assexual, e tem um personagem gay, o Ye-joon (Kim Dong-young), que ganha o apoio da irmã. Tem duas cenas que se destacam para mim: a primeira é o momento em que ele vai contar para a mãe que gosta de homens, e ela, já prevendo o que ele vai dizer, pede para ele não falar, diz que ele irá para a igreja no domingo, e ele tem a coragem de continuar e dizer o que ele sente. A segunda é o momento em que ele se declara para o melhor amigo, Yeong-hwa, que chora com ele e o conforta, tratando-o com respeito e dignidade, e que não importava sua sexualidades, eles continuariam sendo amigos.

Reflexões e metáforas

Por qual motivo você corre? Você sabe cair? Você já fracassou? Você foge de seus problemas? São algumas perguntas que podemos nos fazer ao assistir esse dorama. A corrida e a tradução podem ser entendidas como metáforas: correr seria olhar para frente e seguir; por outro lado, a tradução pode ser sobre como aprender a se expressar, como traduzir nossas emoções e as emoções das outras pessoas. Quando os dois se juntam, corrida e tradução, podemos dizer que devemos olhar para nossos objetivos, “correr” até eles, mas que, antes de correr, devemos descobrir (traduzir) que objetivo é esse para que, na linha de chegada, cheguemos a um objetivo que nos faça feliz.

Aqui vai outro spoiler de uma cena que quero destacar: ele ocorre no episódio 14, quando a Mi-joo corre sua primeira maratona. Nos episódios anteriores, ela vinha treinando, já que ela nunca tinha corrido. E o que foi que eu pensei: ela vai chegar em primeiro lugar (na categoria dela, no caso, que era iniciante), e não foi o que aconteceu… De forma bem realista, ela teve inúmeras dificuldades de prosseguir na corrida, mas a concluiu, embora tenha sido a última pessoa a chegar.

Isso me fez lembrar de quando comecei a correr (sim, eu já participei de algumas corridas e ganhei até medalhas). Na categoria de 5 km, com a qual era algo que eu estava acostumada, não tive dificuldades, mas na minha primeira de 10 km, foi muito difícil! Muitos dos conselhos que são dados na trama são de fato importantes: manter o ritmo é essencial, você pode até diminuir, respirar um pouco, mas não parar (e isso serve para a vida: nunca desistir apesar dos obstáculos). Por mais que você demore e todos terminem na tua frente, o mais importante é saber quem vai estar te esperando no final e que não devemos nos comparar com os outros, temos nosso próprio tempo.

Quando eu me inscrevi numa corrida profissional, a legenda da foto que eu tirei depois de chegar na 42ª posição foi: “O milagre não foi eu ter conseguido chegar, foi ter dado o primeiro passo”. E continuar dando passos até o fim. Não é sobre sonhar alto e achar que vamos imediatamente alcançar nossos objetivos, e, sim, sobre saber levantar-se ao cair e seguir em frente.

Relacionamentos

Assim, para quem gosta de romances avassaladores, cenas calientes, este não é o dorama ideal: até para um pegar na mão do outro é um século! E para rolar um beijo, então? Mas eu achei tão fofo que eu vibrava quando eles estavam fazendo qualquer coisa juntos: assistindo um filme, almoçando etc. Um dos aspectos positivos na construção de relacionamento dos protagonistas é que eles valorizam suas individualidades, seus gostos diferentes e respeitam isso, agregando as coisas positivas que cada um carrega. Tem dois diálogos que quero destacar: o primeiro é quase no final, quando estão conversando sobre a relação deles:

— Provavelmente, nunca seremos capazes de nos entender, certo?

— Sim. Afinal, somos diferentes. Você tem seu mundo, e eu tenho o meu. Mas poderíamos alinhar nossos mundos um ao lado do outro, não é? Portanto, não vamos ficar decepcionados, mesmo que não possamos nos entender. Isso é algo sobre o qual não podemos fazer nada. Nós apenas temos que fazer tudo o que pudermos que esteja ao nosso alcance.

E o outro é sobre algo que no decorrer da história é bem trabalhado: a importância do amor próprio, que sintetizo com essa frase da Mi-joo:

— Quem você acha que vai acabar morando comigo para sempre? […] sou eu. Eu mesma entendi isso. Então você precisa se cuidar bem e se consertar sempre que algo quebrar.

Considerações finais

Na Direção do Amor é um roteiro bem trabalhado, com histórias muito reais e que facilitam nossa identificação com algum dos personagens (eu evitei trazer muito dos personagens para não trazer spoilers). É um enredo que nos mostra sobre a importância de nos posicionarmos apesar de nossos medos e arrependimentos e como podemos ter coragem e foco, e eu espero que vocês tenham ficado com vontade de assistir (ele está disponível na Netflix, legendado e dublado).

Ficha técnica

  • Título Original: 런온 – Run On
  • Ano de Produção: 2020
  • Dirigido por: Lee Jae Hoon
  • Distribuidora: Netflix e JTBC
  • Elenco principal: Im Shi-wan, Shin Se-kyung, Choi Soo-young, Kang Tae-oh

Vocês têm alguma recomendação para eu assistir? Deixem nos comentários!