Ooi, gente! Aqui é a Mell e desta vez venho com uma fanfic de Fairy Tail.

Já faz um tempo que a nossa DJ Titania, do programa Jikangai, me disse que gostaria de uma fic com o ship Jerza, então fiz esta a pedido dela! É em um universo alternativo, mas espero que todos gostem, especialmente você, Tita :3

Boa leitura!


Confiança

As duas camisetas de manga comprida, as duas leggings pretas e o sobretudo cor de vinho que Erza usava por cima não eram suficientes para protegê-la do frio que fazia naquele fim de tarde. As luvas, o cachecol e a touca preta que usava não ajudavam em nada.

E saber que, quando chegasse em casa, ainda teria que fazer algo para comer a fazia até andar mais devagar por conta do desânimo. Ela só queria se enfiar embaixo de suas cobertas e dormir por um bom tempo para compensar o dia cansativo que enfrentou.

Já estava revisando mentalmente sua despensa procurando algo prático para fazer quando seus olhos pousaram em uma cafeteria ao seu lado. Parando para observar o local através de uma das janelas grandes de vidro, ela percebeu que não tinha nenhum cliente ali dentro e com certeza tinha aquecedor central, então após checar o dinheiro em seu bolso (ela não gostava de cartões de crédito) decidiu que preferia tomar um bom café e comer alguma coisa ali mesmo a ter que chegar em casa e ainda preparar tudo do zero.

Tirando uma das mãos enluvadas do bolso de seu sobretudo, Erza abriu a porta também de vidro e sentiu o calor e o cheirinho gostoso de café a acolherem, fazendo-a concluir que seria uma boa escolha comer lá.

Optando por se sentar em uma cadeiras confortáveis no fundo do local, ela olhou para seu lado esquerdo, onde a janela de vidro permitia que visse a rua. Reparou que, do outro lado, uma garota aparentando ser bem mais nova que ela estava sentada um ponto de ônibus. Ela usava fones de ouvido e olhava ao seu redor com uma expressão serena, provavelmente estava presa em seus próprios devaneios.

Antes que a ruiva pudesse olhar em qualquer outro lugar, uma das funcionárias da cafeteria chamou sua atenção.

— Boa tarde, deseja fazer algum pedido? — o sorriso grande da loira com marias-chiquinhas e franja passou uma boa impressão para Erza, que devolveu o sorriso com um pequeno e mais contido, assentindo.

— Boa tarde. Sim, eu quero uma xícara de café com leite sem açúcar e uma fatia de torta de frango, se vocês tiverem.

— Temos, sim! Você deu sorte, ela acabou de sair do forno — disse dando uma risada baixa — Volto no máximo daqui a 15 minutos; caso queira pedir mais alguma coisa, é só me chamar, meu nome é Lucy — apontou para o próprio uniforme, que tinha seu nome estampado ali com pequenas letras verdes. Erza já tinha reparado nisso, mas não achou necessário dizê-lo.

— Okay.

Com uma reverência breve, Lucy se afastou e deixou Erza à vontade para observar o local. Ou ao menos era o que ela pretendia fazer, até ver alguém muito familiar entrar ali e fazer a ruiva se esquecer do mundo a sua volta.

— Jellal… — ela falou seu nome tão baixo que ele com certeza não tinha ouvido. E também não tinha reparado nela, pois assim que entrou alguém saiu do fundo da cafeteria para falar com ele. Um homem de cabelos rosa com uniforme de cozinheiro lhe cumprimentou alegremente, e os dois se sentaram na mesa mais próxima deles, engajando em uma conversa que ela não conseguia ouvir, mas parecia mantê-los bem distraídos.

As coisas ficaram estranhas para Erza a partir dali.

Jellal se sentou de costas pra ela e com certeza não a pegaria no flagra caso ela começasse a observá-lo com atenção, mas ela não queria fazer isso. Ou queria e estava se reprimindo, como sempre fazia quando ficava em uma situação complicada.

Um vulto vermelho chamou sua atenção, e ela voltou a olhar pela janela. O ônibus que aquela garota estava esperando finalmente chegou. Agora o ponto estava vazio e ninguém passava pela rua

— Erza? — um arrepio subiu pela sua espinha quando ela ouviu aquela nostálgica voz chamá-la.

Olhando para frente, ela encontrou Jellal de pé, o jovem de cabelos rosa já não estava mais ali e Lucy ainda não tinha aparecido.

— Jellal… Oi — se impressionou consigo mesma quando percebeu que quase gaguejou para falar com ele.

— Olá, quanto tempo… — um sorriso curto passou pelos lábios dele — Posso me sentar aqui? — apontou para uma cadeira que estava logo à frente da ruiva.

Não confiando em sua voz pra responder, ela assentiu e esperou que ele se acomodasse antes que dar continuidade para aquela conversa.

— Sim… Faz mais de dez anos que não te vejo nem recebo notícias de você.

— Meu trabalho me manteve mais ocupado do que imaginei.

— Desconfiei que fosse isso. Você conseguiu uma promoção muito boa, era de se esperar que acabasse sumindo do mapa um pouco.

Ele ficou olhando pra ela por alguns segundos, provavelmente procurando algo que denunciasse inveja ou rancor.

Mas Erza não sentia nenhum dos dois. Ela não era mais a Erza que ele um dia teve o desprazer de conhecer.

— Sim… — o silêncio parecia ser tão incômodo para ele quanto era para ela — E você? O que aconteceu contigo?

— Pedi demissão um ano depois de você ter se mudado — a notícia parecia tê-lo pego de surpresa, porém deixou que ela prosseguisse sem interrupções — Agora estou em um lugar onde realmente sou reconhecida e gratificada pelo meu esforço — não conseguiu conter seu sorriso orgulhoso, que parecia ter mexido com ele, já que um brilho singelo passou por seus olhos.

— Que bom, fico feliz por ver que você também está bem encaminhada — o sorriso genuíno dele aqueceu seu coração. Mas ela negaria isso até a morte se alguém lhe perguntasse agora.

— O que te trouxe de volta pra cá?

— Um casamento e uma nova proposta, desta vez para algo mais estável e que não me faça ficar viajando por aí sem descanso.

— Interessante. O casamento é de algum parente ou conhecido seu?

— Um amigo muito próximo. Na verdade, ele estava aqui agora a pouco, não sei se você o viu.

— Não vi, estava distraída.

Como se Erza fosse tola de fazer Jellal saber que ela estava reparando nele desde que o azulado entrou naquela bendita cafeteria.

— Ah, entendi. Enfim, — a desilusão dele foi tão explícita que Erza quase deixou mais um de seus sorrisos cruéis dar as caras — Ele vai se casar com uma funcionária daqui. Lucy, não sei se foi ela quem te atendeu.

— Foi. E ela está vindo aqui, inclusive.

Ele olhou para trás e viu Lucy se aproximando. A loira acenou para ele assim que lhe reconheceu.

— Jellal! — disse animada, pondo com cuidado a xícara e o prato com torta de frango na mesa antes se curvar e dar um abraço breve em Jellal — Fico muito feliz por ver que você conseguiu vir, Natsu deve estar radiante agora que sabe que você irá no nosso casamento.

— Está, ele deixou isso bem claro uns minutos atrás enquanto eu conversava com ele.

— Entendi. Vocês se conhecem? — perguntou, alternando o olhar entre Jellal e Erza.

— Algo assim — essas duas palavras foram o suficiente para Lucy perceber que alguma coisa estava acontecendo ali e ela deveria se retirar o mais rápido possível para não atrapalhá-los — Entendi. Estarei por aqui caso queira mais alguma coisa, okay? — piscou para Erza e se afastou novamente, dessa vez com pressa. A ruiva se perguntou no que ela estava pensando para sair tão rápido assim.

Mas Jellal esperou que ela encontrasse uma resposta.

— Como está sua vida? — a pergunta teve palavras muito bem escolhidas, mas como alguém que já foi muito próxima do azulado, ela sacou o que ele realmente queria saber.

— Está bem. Me mudei para uma casa bem próxima do centro da cidade, e minha gata branca tem reivindicado todo o meu tempo livre.

— Entendo — como alguém que saber ler nas entrelinhas, Jellal fez uma expressão que mostrou para Erza que ele conseguiu a resposta que queria.

— Parece que você ainda tem problemas para dizer o que realmente quer, Jellal.

— Creio que ainda partilhamos do mesmo defeito. Pois você também não me perguntou o que você tanto quer saber.

As palavras dele a acertaram como um tiro. Não esperava que ele a lesse tão bem assim. O Jellal que ele conheceu era péssimo com detalhes e nunca sabia o que ela estava pensando.

— Não tenho ninguém no momento — respondeu sem mais enrolações. O sorriso satisfeito de Jellal fez Erza se sentir uma perdedora, e ela odiou essa sensação. Também odiou o fato de perceber que, mesmo depois de tantos anos e de tudo o que aconteceu com eles, o infeliz ainda mexia com ela.

— Eu também não. Tive alguns outros relacionamentos depois de você é claro, mas… nunca consegui esquecer você.

Ele poderia muito bem estar mentindo apenas para conquistá-la.

Mas Erza concluiu que não se importava com isso.

— Difícil acreditar. Eu fui uma péssima namorada e reconheci isso há muito tempo. Nós só terminamos porque eu estraguei tudo, então não consigo encontrar uma razão para você sentir algo por mim até agora.

— Eu te amava e você era incrível pra mim. Impossível de esquecer.

— Deve ter sido difícil para você decidir ir embora… Não te coloquei em uma situação justa.

— Foi complicado. Você me fez escolher entre você e meu trabalho. De longe foi a decisão mais difícil que já tomei.

— Mas pelo menos escolheu certo. Eu não te merecia — disse sem qualquer intenção de se vitimizar. Erza apenas estava encarando a realidade.

— Eu também não fui um exemplo de namorado. Nunca soube como conversar com você sobre os nossos problemas e não conseguia lidar com suas inseguranças.

Ela deu um sorriso curto. Concordava em parte com o que ele disse, mas não queria estender muito aquele assunto. O passado ela não teria como mudar, mas quem sabe o futuro fosse diferente.

— Quando eu sair daqui, vou direto pra casa. O que acha de me acompanhar até lá?

O convite surpreendeu Jellal, que sorriu e assentiu.

— Acho uma ótima ideia. Depois aproveito e volto para a minha também, ainda tenho algumas coisas para tirar da caixa e arrumar.

— Certo.

Jellal não quis comer nada, mas enquanto conversavam sobre suas atuais vidas, ela pegou mais uma torta e um pão na chapa. E não espantou nem um pouco o azulado, que já esperava por isso. Ela poderia muito bem ter falido ele quando estavam namorando, já que vivia pedindo comida e doces.

— Vou pagar a conta e aí saímos.

— Você pode deixar que eu pago.

— Não vou deixar. Você já vai pagar outra coisa em breve — ela disse enquanto se levantava e ele seguiu seu exemplo, seguindo-a pelo trajeto até o caixa da cafeteria.

— Mesmo? E quando será?

— Quando você me convidar para jantar no meu restaurante favorito assim que o casamento acabar.

Ele parou de andar e ela continuou seu caminho com um sorriso vitorioso.

Jellal agora se lembrava muito bem do quanto a confiança de Erza podia ser perigosa quando ela resolvia usá-la ao seu favor.