O PlayStation 2 com toda certeza, se não foi o console mais popular de todos os tempos, é um deles. Essa fama veio devido à sua vasta biblioteca de jogos: dentre milhares de jogos, temos verdadeiros clássicos como Black, Shadow of the Colossus, Devil May Cry, God of War, entre outros. Claro que o baixo custo do console, junto com a facilidade que os hackers encontraram para desbloquear o console e proporcionar o famoso modo “Jack Sparrow” de conseguir jogos, ajudou muito o PlayStation 2 a se popularizar pelo mundo todo, principalmente em países com populações mais humildes como o Brasil.

Mas hoje não vamos falar sobre isso, vamos falar sobre um jogo não tão conhecido baseado em um mangá de muito renome no Japão. Vamos conhecer mais sobre Blood Will Tell, um game baseado em Dororo.

Capa oriental e ocidental

Antes de tudo, precisamos conhecer um pouco sobre a história de Dororo. Dororo é um mangá de terror/shōnen escrito pelo grande mangaká Osamu Tezuka (criador de Astro Boy e Kimba, considerado o “Pai do Mangá Moderno” e o “Deus do Mangá”), e sua história gira em torno de um rōnin chamado Hyakkimaru e um garoto chamado Dororo. A história se passa durante o período Sengoku, uma das fases mais conturbadas e instáveis da história do Japão. Essa instabilidade aconteceu devido à queda do xogunato Ashikaga após 400 anos de governo; diversos clãs do xogum tentavam aplicar um golpe de estado, iniciando uma guerra civil entre vários desses clãs.

No meio de toda essa sucessão de guerra entre clãs, nasce Hyakkimaru, que, ainda dentro do ventre de sua mãe, teve partes do seu corpo devoradas por demônios, sendo-lhe “poupada” apenas sua cabeça. Isso ocorreu devido a um pacto que seu pai, Daigo Kagemitsu, fez com demônios em um local conhecido como o Salão Infernal, oferecendo a vida de seu filho primogênito em troca de um futuro próspero para seu povo. Hyakkimaru nasce, mas como uma aberração, sendo cego, mudo e surdo, e também nasce sem as partes externas e internas do seu corpo, tornando-se um fardo para sua família. Daigo, então, ordena a mãe de Hyakkimaru que o jogue no rio pra que morresse afogado, mas ela o coloca em um pequeno barco no rio, deixando-o a própria sorte. Hyakkimaru segue então boiando pelo rio até ser encontrado por um médico chamado Jukai, que o salva e o cria como seu próprio, dando-lhe próteses par suas pernas e braços e um máscara para esconder o seu rosto. Jukai também ensina Hyakkimaru a lutar, presenteando-o com três espadas, uma katana e duas wakizashi, que estão escondidas dentro de suas próteses do braço.

Devido ao seu contato com demônios ainda no ventre de sua mãe e ter perdido desde cedo o seu sentido da visão, Hyakkimaru desenvolveu a habilidade de enxergar a “aura” das coisas, conseguindo distinguir quem é bom de quem é mau, e cresce desenvolvendo suas habilidades em torno desse sentido. Um dia ele acaba se encontrando com Dororo, um jovem ladrão muito esperto. Hyakkimaru o salva de um demônio, notando que, ao derrotá-lo, recuperou uma parte do seu corpo de volta. Junto a Dororo, Hyakkimaru parte pelo mundo em busca dos outros demônios que devoraram seu corpo quando ainda estava no ventre de sua mãe, iniciando, assim, sua jornada em busca da restauração do seu corpo.

Mangá de 1969 e anime de 2019

Agora que temos uma base da história de Dororo, vamos falar sobre o jogo Blood Will Tell. Lançado no Japão em 9 de setembro de 2004 pra PlayStation 2, sendo desenvolvido pela Red Entertainment e publicado pela Sega Row, a história é dividida em nove capítulos, seguindo a história do mangá, em que existem 48 demônios que se alimentaram do corpo de Hyakkimaru. Como o mangá nunca foi concluído, os desenvolvedores do game tiveram liberdade criativa para criar sua interpretação do final da obra.

Seguindo o gênero hack’n’slash com uma mistura de RPG, ação e aventura, Blood Will Tell se assemelha bastante com jogos como Beyond Good & Evil, Sengoku Basara 2: Heroes e, principalmente, a Onimusha. O jogador tem à disposição as espadas de Haykkimaru e suas armas auxiliares e também a ajuda de Dororo, mas diferente de um hack’n’slash comum, Blood Will Tell não possui combos (estranho, não?). Isso acaba tornando o jogo um pouco maçante e chato às vezes, pois além de possuir trechos longos com diversos inimigos, o jogo possui um total de 48 chefes, sendo 20 obrigatórios, o que o torna muitas vezes enjoativo.

Apesar desses contras, o jogo possui prós que o ajudam a melhorar a gameplay. A equipe de desenvolvedores do jogo desenvolveu um ótimo sistema de evolução de personagem, que mescla muito bem a narrativa da história de recuperar parte do seu corpo para desbloquear novas habilidades e status, modificando um pouco da gameplay. Outro ponto alto do jogo é a possibilidade de ser jogado em multiplayer, pois jogar com um amigo sempre é mais divertido. Ainda falando de multiplayer, os trechos utilizado Dororo acabam quebrando um pouco o ritmo de “apenas combate”, adicionando parte de explorações e puzzles.

Blood Will Tell recebeu notas medianas nas avaliações mundiais, o que provavelmente acabou o tornando um jogo mais underground. Eu mesmo só me lembrei da existência dele após assistir o reboot do anime em 2019. Ainda assim, Blood Will Tell é um dos jogos que melhor adaptaram uma narrativa dos animes/mangá para os videogames, sendo muito próximo de sua obra original. Vale a pena você pegar e jogar, principalmente com um amigo, apesar de ser um título esquecido na biblioteca do PS2.