J-Hero, você abriu… e nós viemos.

Se você não tem costume com filmes de terror, este provavelmente é um filme que você deve evitar. Afinal, de acordo com o diretor Rob Jabbaz, a própria Netflix decidiu não adquirir os direitos de exibição do filme por considerá-lo violento demais para seu público.

“Este é o máximo de felicidade que você terá pelas próximas horas.”

Sinopse

Após um longo período de pandemia com sintomas relativamente leves, o mundo finalmente diminui suas medidas restritivas para a sociedade. No entanto, este vírus possui alta capacidade mutagênica, tornando-se uma praga que altera o estado de consciência dos infectados tornando-os extremamente agressivos.

Assim, as ruas são tomadas por brutalidade e depravação, enquanto os infectados exercem os mais diversos atos de crueldade e perversidade. Assassinato, tortura, violação e mutilação são o básico visto nas duas horas de duração em que acompanhamos o jovem casal Jim e Kat que tentam se reencontrar e fugir desta loucura.

Considerações gerais

Lançado nos cinemas taiwaneses em janeiro de 2021, Kū Bēi (The Sadness) está disponível sazonalmente na Amazon Prime e no Darkflix. Recebido positivamente pela crítica desde seu lançamento, é de se esperar o sucesso vindouro através da qualidade das equipes de produção, maquiagem e efeitos especiais aliados aos atores que entregam todo o clima tenso e violento.

Horror em plena luz do dia.

Todo o material de divulgação foi baseado em seu exagero gráfico, sendo constantemente anunciado como o filme mais violento e sádico da atualidade. Além disso, Jabbaz trouxe uma “nova” visão para o subgênero de zumbis gerando uma expectativa nos fãs que aguardam novidades sobre os famigerados comedores de carne humana.

No entanto, o conceito de doença, vírus ou maldição que desperta instintos violentos no ser humano não é algo atual. Uma das inspirações para a produção é o quadrinho Crossed, de Garth Ennis. Além disso, Romero já havia mostrado os efeitos de uma sociedade insana através do Exército do Extermínio em 1973, e logo depois, em 1975, Cronenberg explorou a ideia em Calafrios. Claro que ambos os filmes passam um ritmo bem mais lento inerente à época das produções, mas ainda são grandes clássicos que merecem atenção.

Contudo, é importante deixar enfatizado que os níveis de violência vistos em Kū Bēi excedem o habitual. Por não se tratarem de seres grotescos ou mortos vivos devoradores de carne, todo o peso dos atos ganha um novo valor e gera um desconforto por ser algo pensado. A partir do momento que consideramos a brutalidade humana passível de prejudicar qualquer um, não há como não se preocupar ou se perguntar do que nós somos capazes.

Qualquer um (eu disse qualquer um) pode se tornar uma ameaça!

Considerações finais

Apesar do pequeno deslize em seu último ato (desta vez não teremos spoilers sobre o fim), a estrutura violenta do filme não se perde até seu fim. Ao contrário da origem da ameaça e suas consequências exploradas, durante todo o longa a transformação dos infectados não é explicada, mas salientada através da lágrima que escorre momentos antes de a insanidade se libertar.

A seguir, spoilers curtos… mas necessários!

Pessoalmente relacionei a transformação dos infectados a partir da percepção deles com a vida. Enquanto Jim e Kat possuem esperança de se salvar — ou melhor, enquanto eles possuem motivos para permanecerem vivos —, o vírus e a infecção não se desenvolvem. Jim se transforma ao vislumbrar a cidade destruída e consequentemente entender que sua vida comum nunca mais será a mesma. Kat, por outro lado, se prendia ao fato de reencontrar Jim, mas ao encontrá-lo transformado se rende à infecção e se torna um dos seres de ódio e loucura.

Ao fim do longa a pergunta que devemos nós fazer é sobre o que nos levaria à insanidade desmedida. Qual seria seu limite? O que te deixaria eternamente triste?